31 de mai. de 2009

QUESTIONEI*

questionei
o porque
de tantos espinhos
de tantos caminhos
tortuosos
questionei
o porque
dos espinhos
e das pedras
no caminho
queria
poder caminhar
por caminhos
mais serenos
caminhos mais amenos
questionei
o porquê de destinos
opostos
porque
caminhos de flores
e caminhos
de pedras
questionei
a minha vida
e meus caminhos
e as farpas
e o porquê
de tantos espinhos

HOSTIL*

meu mundo
é solitário
campo hostil
cercado
de nada e pensamentos
meu mundo
está cheio
de armadilhas e minas
e placas
meu mundo
é hostil
é cercado
de solidão
e fantasia
é feito
de imagens
e sonhos
meu mundo
é desenhado
num papel em branco
é mundo
deserto
é mundo
hostil
solitário
feito de sonhos
e sombras que o vento leva
e o vento traz

DOR DE COTOVELO*

pare
de reclamar
da vida
dobre as mangas
da camisa
acorde mais
cedo
pare
de reclamar
da sua sorte
da sua vida
saia do sofá
saia da janela
saia dos bancos
da praça
levante as mangas
da camisa
pegue uma vassoura
varra as folhas
que caem
no jardim
assim sua dor
de cotovelo
daqueles que vivem
e correm atrás
da vida
pare de reclamar
dessa sua dor de cotovelo

REJEITADO*

meu coração
já foi
rejeitado
meu amor
já foi
jogado fora
já fui
dispensado
e chorei
trancado
no meu quarto
sem ninguém ver
já rejeitei
amores
e paixões
já fiz chorar
e sangrar corações
é assim
que se faz
e que se vive a vida
coração
rejeitado
amor desprezado
já senti
essa dor
já causei essa dor
já rejeitei amor
e já fui rejeitado

RELUTÂNCIA*

eu já
não sei mais
o que fazer com você
com essa sua
relutância
em me buscar
em me querer
eu já nem sei
para onde fugir
essa sua relutância
em me fazer seu
em me querer
preso
aos seus pensamentos
eu já
não sei mais
o que fazer
com essa insistência
com essa
sua teimosia
desvairada
em atravessar meu caminho
em querer
que eu sigas seus passos
e viva seu amor
já não sei o que fazer
aceitar ou como você
relutar

TOM DE VOZ*

seu tom
de voz
sempre o mesmo
não se altera
nem com o vento
nem com os raios
de um dia de chuva
seu tom
de voz
sempre macio
sempre sereno
nas manhãs
que me despertam
nas noites
que velam
meu sono
seu tom de voz
sempre
doce
não se altera
diante do medo
e das incertezas
sempre suave
gentil
sem gritar
tom de voz
de menina
que canta e encanta

PARECIAM DISTANTES*


mesmo
olhando-me nos olhos
seus olhos
pareciam
distantes
do meu
já não tinham
aquele mesmo brilho
mesmo
ali
junto a mim
sentia
que voavas
por um outro mundo
que o meu
mesmo ali
olhando nos meus olhos
pareciam distantes
seus olhos
já não
sentia seus pensamentos
ali junto a mim
não estavas mais ali
nem seus olhos
nem seus pensamentos
apenas seu corpo
apenas seus olhos
distantes dos meus

APREENSIVO*


deixastes
mais uma vez
meu coração
apreensivo
sem saber
o que pensar
sem saber
o que sentir
sem saber
direito
para onde ir
saístes
mais uma vez
sem dizer nada
abandonastes
mais uma vez
meu coração
e todo amor
saístes
sem deixar rastros
sem me falar
o por quê
quais meus erros
deixastes
meu coração apreensivo
sem saber
se voltarás
sem saber se estarei aqui

DIPLOMÁTICO*

não disse
nem sim
nem não
talvez
melhor
ficar em cima
do muro
sem dizer
sem se comprometer
com a verdade
que não é sua
diplomático
não disse
nem sim
nem não
não disse nada
ficou
olhando
sentado
em cima do muro
sem tomar
partido
sem dizer
o que pensa
sem se comprometer
com a verdade
diplomático
olhando tudo de cima do muro

CASAS IGUAIS*

na minha rua
casas iguais
e pessoas
tão diferentes
que se olham
e não se cumprimentam
na minha rua
casas iguais
e pensamentos
diferentes
pessoas
que não
se conhecem
vivem a mesma vida
e não se conhecem
na minha rua
casas iguais
postes iguais
e tantos passos
na minha rua
até as pedras
se conhecem
e se falam
e as pessoas
se ignoram
na minha rua
postes e casas
iguais

30 de mai. de 2009

OLHAR CONSTRANGEDOR*

não quero mais
olhares
que me condenem
muitos olhares
condenaram-me
a viver sem sorriso
a viver sozinho
no meu mundo
de poesia
não quero mais
aquele olhar constrangedor
dizendo
que não me entendeu
não quero
aqueles olhares
frios
apontando-me
para uma vida
que não é mais
a minha
já me roubaram tudo
e eu
já não quero mais
olhares
deixando-me preso
nas culpas que não tenho
quem são eles
tão iguais a mim ou piores

SINTONIA COMIGO*

apenas
quero
que gostem de poesia
não das minhas
mas dos outros poetas
melhores do que eu
quero
uma sintonia comigo
respirar
e ver poesia
em tudo
viver
uma vida mais leve
sem tantos tormentos
nem tantas guerras pessoais
quero
que gostem de poesia
não precisa ser das minhas
há poetas
melhores que eu
quero apenas
uma sintonia comigo
no doce momento
de conjugar
o verbo amar
e amar
quero apenas
que haja mais poesia

PONTO FINAL*

não gosto
de saber
que histórias
terminem
em ponto final
nenhuma história
termina
em ponto final
só a morte
coloca ponto final
não quero saber
de morrer ainda
não quero
nas minhas poesias
pontos
e vírgulas
acentos
e hífens
não quero saber
de nada que me remeta
para uma morte
estando vivo
não quero saber
de história
que termina em ponto final
as minhas não terminam nunca
sem pontos
sem vírgulas

DEIXOU-ME SOZINHO*

deixou-me
sozinho
perdido
nas ruas
que sempre
andei com você
deixou-me
sozinho
nos mesmos
sentimentos
que eu lhe dei
no mesmo amor
deixou-me
sozinho
naquela solidão
que um dia
eu também lhe deixei
devolveu-me
o que eu lhe dei
deixou-me
sozinho
na mesma esperança
que eu lhe
deixei
devolveu-me
tudo sem dó
como eu também deixei
sem dó, sem amor, perdida

VOCÊ NÃO MUDOU*

sempre
exata
igual
você não mudou
sempre
caminhando
na horizontal
sempre
idêntica
mesmos sonhos
mesmo jeito
de sonhar
você não mudou
e nem vai mudar
vai ser sempre
a mesma
sem pular
na mediocridade alheia
você
não mudou
acredita ainda
no seu modo de amar
no seu modo de ver
o mundo
eu mudei e esperei
você mudar e caminhei
esperando você
para andar comigo

BOM VER VOCÊ*

bom ver você
ainda
nos meus sonhos
só não sei como
se viva
ou se morta
se cantando
ou
se deixando
encantar
bom ver você
ainda
nas noites
frias
dos meus outonos
que não acabam
nunca
quem sabe
sobre tempo
para que possamos
conversar
sobre o tempo
que se foi
bom ver você
e matar a saudade
de ver você
em meus sonhos
ainda

ABRAÇO DESAJEITADO*

seu abraço
veio frio
desajeitado
tímido
envergonhado
parecia
ter medo
de colar seu corpo
ao meu
parecia ter medo
de sentir
meu corpo
seu abraço
desajeitado
deixou-me
sem saber
o que pensar de você
sem sentir
de verdade o seu amor
por mim
abraço tímido
sem jeito
atrapalhado
com medo
seu abraço
não me convenceu
e nem me encantou
muito menos me seduziu

SE VOCÊ PRECISAR DE MIM*

se você
precisar de mim
já não sei
mais
se me encontrará
foi você
que me afastou
de você
foi você
que me mandou
sair
de você
foi você
o único capaz de matar
o que eu senti
e sentia
por você
se você
precisar de mim
encontre em você
os restos do meu eu
eu não lhe devo nada
nem meus sonhos
nem minhas pegadas
a culpa é sua
que me tirou
que me mandou sair
de você

SEMPRE MENTI MAL*

sempre tive
memória fraca
eu nunca
soube
escrever
minhas mentiras
em papéis carbono
sempre menti mal
meus olhos
não me deixam
mentir
entregam-me
confessam
não me deixam
esconder
o que sinto
sempre tive
medo de mentir
eu nunca soube
lidar
com isso
meus papéis
aceitam
mas meus olhos
e minha memória
falham
entregam minhas mentiras
eu nunca soube mentir

ALGUÉM PARA ME CHAMAR*

quero
alguém para me chamar
pelo meu nome
sem me pôr apelidos
quero
alguém para me chamar
para passear
por lugares
que ainda não conheço
quero
alguém para mostrar
os lugares
que conheço
quero alguém
para me chamar
de manhã
para que possamos
ver o sol nascer
e depois tomar
café
na mesma posta
quero alguém
para me chamar
de seu
para me fazer dormir
e me abraçar
nas minhas noites de medo
quero alguém e mais ninguém

29 de mai. de 2009

DESPEDIDAS*

não
choro
mais nas despedidas
todos dias
pássaros
chegam
e pássaros
partem
se eu fosse chorar
nas despedidas
viveria chorando
não choro mais
pessoas
vêm e vão
caminhos que se cruzam
sem porque
porque
não choro mais
nas despedidas
não há mais lágrimas
tantos pássaros
que chegam
deixam as sementes
tantos pássaros
que vêm
e levam as sementes
não choro mais
nas despedidas

CAÇADA*

saio
atrás
de um sorriso
que devolva
a paz
perdida
saio
desarmado
de cara limpa
coração batendo
querendo
um abraço
que me devolva
a sensação
quente de não estar
mais sozinho
saio
nessa caçada louca
querendo
encontrar
um amor qualquer
que me deixe
de novo
no chão
pés no chão
um sorriso
um abraço, um amor

O JOGO*



gosto
desse jogo
de conquista
desse flerte
gostoso
que excita
gosto
de brincar
ficar
na dependência
gosto
desse jogo
de ver quem se
rende primeiro
ver quem se entrega
ver quem se rende
ao encanto
quem perde
o jogo
gosto depois
de tudo
me render
ao encanto
de um jogo
que não há perdedor
ganhamos
o jogo
da conquista, do prazer

CONFISSÕES*

suas confissões
não me assustam
me confirmam
que é normal
que erra
nos deixa
iguais
suas confissões
lhe deixam
despida
lhe deixam
de alma leve
alma pura
suas confissões
não afastam você
de mim
aproxima
nos deixa
na mesma rua
na mesma alameda
suas confissões
lhe fazem mortal
normal
sem armas
alma leve
limpa
suas confissões
são as minhas

COMPLICAÇÕES*

por que
complicar
se é mais
fácil
desatar
todos os nós
por que
gerar
mais complicações
por que
confundir
razões
melhor
desatar
os nós
por que
se enroscar
nessas teias
complicações
do pensamento
por pensar demais
por sempre ir
adiante
ir além
por que complicar
viver em constante
complicações
mais fácil desatar os nós

TEORIAS*

você
e suas teorias
você
e suas palavras
sempre complexas
pensamentos
confusos
você
que entende
de tudo
que percebe
tudo
você que fala bem
que conquista
você
e suas teorias
nada práticas
você
e suas certezas
e o mundo
que gira
em torno de você
e o sol
do seu mundo
teorias
que não funcionam
para nada
fora do seu mundo tão perfeito

PESADELO*

revirando
na cama
suando frio
caindo no abismo
sem poder
gritar
sem ter onde segurar
a vida
acabando
falta o ar
caindo sem parar
perdendo
o contato
com as mãos
que me seguravam
caindo
num poço
abismo sem fim
sem poder gritar
sem nada
caindo
esperando
que algo faça despertar
desse pesadelo
revirando na cama
querendo acordar
voltar
para a vida

TIPO SANGUÍNEO*

eu não quero
saber
do teu passado
eu não quero
saber
qual o teu tipo
sanguíneo
eu não quero
saber
por onde andas
e nem o que fazes
no teu dia
não quero nada
quero apenas
te encontrar
quando
a saudade doer
em meu corpo
só quero poder
matar a sede
quando minha boca
sentir falta do teu beijo
não quero saber
nada que me condene
a querer mais do que quero
apenas teus beijos
e teus momentos
e te encontrar
quando a saudade doer

CONVITE*

quero
te levar
para o meu mundo
quero
te deitar
na minha cama
quero
tirar tua roupa
quero te amar
sem pressa
quero
te sentir minha
te deixar
confusa
roubar teu chão
quero
te embriagar
com meu silêncio
amar
sem pressa
cada parte
do teu eu
quero
ficar a noite inteira
sentindo
teu coração
pulsando em minha mão
eis meu convite

FENÔMENO*

de todos
os amores
de todos
os jeitos
especiais de amar
de tudo
o que já vi
e senti
e vivi
seu amor
é amor
que alimenta
que completa
amor
que se quer amar
amor
que se sente
em tudo o que faz
grande
imenso
fenônemo
de tudo
o que tenho
seu amor
é o melhor
de todos os presentes
amor
que se quer amar para sempre

28 de mai. de 2009

À LUZ DO SOL*

A luz do sol
Daqui a instantes
Irá
Tocar minha janela
Tudo
Começará
Com os raios do sol
Clareando
Meu caminho
Minha estrada
A luz do sol
Chega sem pressa
Levando a noite
Que se encerra
Para seu leito
A luz do sol
Traz um novo começo
Quem sabe certezas
De um homem melhor
A luz do sol
Daqui a instantes
Toca minha janela
Antes de o galo cantar
Sempre trazendo
Na mochila
Pedaços de uma esperança
Que não acaba nunca
Daqui a pouco, em instantes.

RASTILHO DE PÓLVORA*

Não quero
Nenhum amor
Que exploda
Não quero pisar
Em minas
Nem deixar
Em meu caminho
Rastilho de pólvora
Quero amor
De paz
De bandeira branca
Não quero
Nada que possa
Explodir minhas mãos
Meu coração
Quero amor
De paz
Não quero rastilho
De pólvora
Nem ameaças
Amor inconsequente
Quero amor consciente
Amor que não exploda
Amor de paz
Não aquele camuflado
Que mata
Que fere
Rastilho de pólvora

FLORES AVELUDADAS*

Eu prefiro
Flores aveludadas
Àquelas
De perfume raro
Àquelas
Que marcam
Por sua essência
Eu prefiro
Flores aveludadas
De pétalas
Macias
Que espalham
Sem querer
Sua magia
E deixam
Gosto das rosas
Que enfeitam
Meus dias
Com seu perfume
E suas macias
Pétalas de veludo
Flores que deixam
O caminho mais belo
Flores que marcam
Pela essência
E o frescor do seu perfume
Flores aveludadas
Espalhadas em meu caminho

SENSAÇÃO DE DEJA VU*

Eu sei
Já vivi
Esse amor
Quando
Eu não sei
Já andei
Por esses caminhos
Por essas estradas
Quando
Eu não sei
Essa sensação
De deja vu
Essa certeza
Que já estive aqui
Que já vivi
Esse amor
Já dei esses passos
Eu sei
Só não sei quando
E essa sensação
De já ter vivido
Tudo isso
Sensação de deja vu
Dias vividos
Amores sentidos
E essa mesma estrada
E essa sensação
De já ter vivido tudo

PEDACINHOS DE VIDRO*

Vou juntando
Todos os cacos
De todos meus dias
Pedacinhos
De vidro
Quebrados
Vou colando
Um a um
Para descobrir onde foi
Que me perdi
Ou onde foi
Que deixei pedacinhos
De vidro
Espalhados
Vou juntando
Caquinho por caquinho
De tudo
O que já vivi
Montando meu quebra cabeça
Pedacinhos
De vidro
Que se perderam
Que ficaram espalhados
Nesse dias de vida
Intensos e frios
Vou juntando os que ainda restam
E os que ainda
Quebrar-se-ão nos dias que virão

O SONHO BATEU ASAS*

Quando
Me dispo
De tudo
E morro
Quando deito
Esqueço
Tudo
O que não quero
Lembrar
Deixo que sonhos
Batam as asas
E saiam por aí
Buscando
Caminhos
O sonho de sorrir
Sempre mais
Bateu asas
E não voltou
Esqueceu de voltar
E o sorriso se perdeu
Quando
Despertei
Dos sonhos
Renascido
Lembro-me de tudo
O que havia esquecido
E o sorriso
No sonho bateu as asas
E não voltou

CÉU SEM ESTRELAS*

O céu
Da sua boca
Não tem mais estrelas
É sempre dia
No seu céu
O sol
Sempre brilha
E o céu
Sem estrelas
Sua boca
Respirando
Eu
Suspirando
Imaginando
Onde estão as estrelas
Do seu céu
Céu sem estrelas
Céu da sua boca
Você
Vivendo
Eu caçando nas minhas noites
Suas estrelas
Estrelas do seu céu
Sem estrelas
Só o sol
Do seu sorriso
A iluminar
Ainda meus dias

DESUMANIDADE DESENFREADA*

Andando
Para trás
Regredindo
Nessa desumanidade
Desenfreada
Andando
Para longe
De tudo o que nos
Unia
E nos fazia
Homens
Andando
Na marcha a ré do tempo
Nessa desumanidade
Desenfreada
Perdida
No seu mundo
Sem noção
Retrocedendo
Virando bicho do mato
Sem origem
Humanidade
Afoita
Em seus desejos quase
Sempre proibidos
Desumana
Desenfreada
Desequilibrada

NEGRAS IMAGENS*

Como
Se o passado
Ficasse a me seguir
Como
Se na memória
Ficassem apenas
As negras imagens
Do meu ontem
Não consigo fugir
É como
Se tudo
Estivesse ainda vivo
Respirando
Querendo não morrer
As negras imagens
Do meu ontem
Como
Se eu não pudesse
Mais me libertar
Dessas correntes
Meu ontem me segue
E deixa sombras
No meu hoje
Eu ainda
Fico intoxicado
Pela fumaça
E as negras imagens
Ainda vivas dentro de mim

TORRENTE DE PALAVRAS*

Pode ser
Que no nascer
Do amanhã
As palavras venham
Com menor intensidade
Pode ser
Que essa torrente de palavras
Acabe
Ou essa fonte seque
Quem sabe
O que virá
Com esse despertar
Desse novo amanhã
Essa torrente de palavras
Essa fonte
De inspiração
Quem sabe
Venham a desilusão
Ou felicidade plena
Pode ser
Que tudo seja exatamente igual
O que virá
Nesse despertar
De um novo amanhã
Somente o amanhã
É que sabe
O que virá
Quem sabe a mesma
Torrente de palavras

27 de mai. de 2009

LIVROS ABERTOS*

todas
as vidas
são livros
todas
as vidas
viram histórias
umas
livros abertos
escancarados
outros
livros fechados
todas as vidas
vividas
ou jogadas fora
são livros
escritos
em folhas de seda
livros abertos
em cima da mesa
livros fechados
nas estantes
ou como apoio
para as mesas
que sustentam
os livros abertos
toda vida
é livro aberto ou fechado

À PRIMEIRA VISTA*

à primeira vista
olhando
com os olhos
cheios de defeitos
parece-me
perfeitamente
mortal
olhando assim
este seu jeito
manso sereno
de ver a vida
à primeira vista
olhando você
flutuando
em seu mundo
de encantos
parece que vive
apenas de sonhos
vive apenas
de desejos
que não se realizam
olhando bem
é mais feliz do que eu
vive mais a sua realidade
e eu vivo mais
fugindo da minha
é mais feliz à primeira vista

SEGREDOS SOMBRIOS*

não falo mais
nem conto mais
qualquer
segredo
nem os suaves
nem os segredos sombrios
não conto
mais de mim
não falo mais
da minha vida
e dos meus sonhos
segredos sombrios
guardo
dentro do armário
chamado peito
guardo escondidos
de mim
não quero mais
saber dos meus defeitos
não quero mais
desenterrar
meus fracassos
e saber quais são
os meus pontos fracos
deixo guardados
não falo mais
dos meus segredos sombrios

IMPENETRÁVEL AOS OLHOS*

você
anda sempre
armada
de escudo
e espada
você
se protege
se defende
tem medo de tudo
tem medo do mundo
sai e não quer
que ninguém
lhe veja
quer ser
invisível
impenetrável aos olhos
quer sair, andar
sem que ninguém perceba
sua doce
e sensual beleza
anda sempre
cheia de armaduras
escudos
espadas
impenetrável aos olhos
de quem lhe vê indefesa

IRRESISTÍVEL*

uma folha
de papel em branco
é atração
irresistível
como se ela
precisasse do meu amor
e eu do seu
um folha
de papel
ou um pedaço
de papel em branco
para mim
é paixão
irresistível
emoção que acontece
na mais intensa
reciprocidade
são olhos que se olham
bocas que se procuram
eu e um papel
em branco
somos assim
amantes
amigos
amor irresistível
uma folha
e tudo de mim

VOZ HIPNÓTICA*

ouvi no vento
a voz
que eu queria ouvir
ouvi
a voz hipnótica
do vento
sussurrando
doces palavras
ouvi
as histórias
ouvi
os lamentos
ouvi no vento
conselhos
me senti
livre de tudo o que penso
a voz hipnótica
do vento
arrastou por um instante
tudo o que eu sentia
ouvi do vento
meus próprios
pensamentos
minhas histórias
minha própria voz
voz hipnótica do meu eu

APAVORANTE*

a saudade
chega em mim
de forma
dolorida
de forma
apavorante
deixa-me fragilizado
olhando
para as coisas
que há muito
eu não olhava
a saudade chega
de forma
intensa
me remete
há um tempo
que não é mais meu
faz sofrer
de novo
tudo o que já sofri
chega
machucando
de forma apavorante
me fazendo chorar
a saudade que já chorei
sofro de novo
sofro duas vezes

MELANCÓLICAS*

as tardes
de outono
são sempre
melancólicas
as vozes que soam
nas tardes
de outono
são sempre
melancólicas
como as
noites quase
sempre frias
de outono
que deixam os corpos
cheios
de uma preguiça
melancólica
é sempre
nas tardes
de outono
nas noites quase
sempre frias
a melancolia
chega e espera
um cobertor
um agasalho
para os dias de outono

UMA BOA FORMA DE MORRER*

dormindo,
uma boa forma
de morrer
deitar e acordar
na eternidade
deitar
e não sentir nada
dor alguma
esquecer de tudo
dormindo
uma boa forma
de morrer
sem dizer nada
nenhuma palavra
sem deixar
a sensação
amarga da despedida
deitar
dormir
e despertar
no mais belo
de todos os jardins
dormindo,
uma boa forma de
dizer adeus
morrer dormindo
e fazer tudo parecer um sonho

NUNCA PENSEI*

nunca pensei que
eu iria tão longe assim
há mais de um ano
que vivo desse jeito
entre as palavras
e os pensamentos
garimpando
para ver
de descubro a fonte
que me fará ressuscitar
nunca pensei
que iria chegar
tão longe
nunca pensei
que iria conseguir
jogar fora o controle
remoto da minha televisão
e me dedicar
a escrever
versos muitas vezes
sem sentido
nunca pensei que
pudesse descobrir
tantos mundos
tantos sonhos
além dos meus
nunca pensei ser capaz