25 de fev. de 2011

eu escrevo
em guardanapos
em folhas
de jornal
eu escrevo
de giz
de lápis
escrevo
no vento
eu escrevo
nas nuvens
na chuva
escrevo
nas noites
sem sono
eu escrevo
nas ruas
nas avenidas
na solidão
doentia
que me acompanha
eu escrevo
porque há
dor
em mim
dor que não passa
eu escrevo
para que essa
dor
possa
doer livre e sem medo
eu escrevo
em papéis
usados
e jamais
em momento
algum
leio
em voz alta
o que escrevo
não
você
não me ama
você não gosta
de mim
como
pode me amar
como
pode dizer
de boca
cheia
que gosta
de mim
você
não me conhece
não sabe
nada
a meu respeito
não sabe
do que gosto
e do que não gosto
não sabe
do meu ar
do meu vento
você
não
gosta de mim
nem me adora
e muito menos
me ama
então para
com isso
de dizer
coisas
que não acredito
amar
não é coisa
de criança
gostar
não é para qualquer
um
você
não sabe
nada de mim
não sabe
do que gosto
não sabe do que são feitos
os meus sonhos
não sou
como você
não vejo
as coisas
como você
não ama
e não gosto
como você
não tenho
o mesmo
senso
de humor
não acredito
nas mesmas coisas
nos mesmos
abusrdos
não sou como
você
não sorrio
à toa
não xingo
nem bebo
não fumo
não trepo
por necessidade
não sou
como você
meu coração
é frio
é gelado
não sou movido
por sentimentos
sou feito
de razão
a todo instante
não sou anjo
não tenho asas
sou diferente
de você
e você
não é em nada
igual a mim
o amanhã
será
o mesmo
de hoje
os mesmos
ventos
os sorrisos
vazios
os braços
cruzados
as mãos fechadas
o amanhã
será
o mesmo
de hoje
as preocupações
não passam
não acabam
se disfarçam
de felicidade
o amanhã
será
o mesmo
de hoje
com migalhas
espalhadas
e todos os loucos
humanos
de derramando
em busca
de nada
o amanhã
será assim
uma fantasia
louca
um sonho
que não muda
a continuação
de um hoje
que nunca passa
cansei
não quero mais
amar
sozinho
não quero
mais
me sentir
perdido
nesse amor
que sinto
cansei
de amar
de lutar
à toa
por esse sentimento
tão vazio de tudo
cansei
de ficar correndo
feito bobo
ninguém ama
sozinho
cansei
de amar
esse amor
tão cheio
de banalidades
o amor
nunca foi assim
cansei
de crer
de ter fé
cansei
de ficar por horas
a fio escrevendo
sobre um amor
que não se ama
mais
cansei
de ser mais
em tantos milhões
cansei
de lutar sozinho
não há
mais percepção
ninguém
se olha
mais
amor
é coisa antiga
a morte
banalidade
não há mais
percepção
ninguém
se ama mais
se ama
é amor vazio
amor
que passa
que não doi
amor
que não machuca
não dilacera
não há mais
a emoção
que havia
os beijos
estão ocos
e as mentes
vagando
não há mais
entendimento
e nem
o que entender
as bocas
só gostem merdas
e nos corações
nenhuma certeza
tudo é
como nunca foi
e o que falta
são doses
humanas
de percepção

21 de fev. de 2011

Alimento-me

Do silêncio

Da solidão

Alimento-me

Da ausência

Da dor

Do tédio

Alimento-me

Dos papéis

Onde escrevo

O que não leio

Alimento-me

Das ilusões

E dos amores

Que nunca poderei

Amar

Alimento-me

Do vento

Que sopra

Os restos

Dos perfumes

Que ficam espalhados

Por ai

Alimento-me

Dos meus fracassos

Dos meus soluços

Dos nós

Que desatei

Alimento-me de mim

Não tenho

Nada

Não tenho

Carro

Não tenho casa

Não tenho amigos

Não tenho

Dinheiro guardado

Não tenho

Nome

Só histórias

E um passado

Não tenho

Beleza

Não tenho flores

Tenho

Apenas

Minhas canetas

Meus papéis

Meu silêncio

Minha solidão

Não tenho

Nenhuma dor

Não tenho

Porque quem voltar

Não tenho

Horas

Nem dias

Nenhum amor

Engole-me A noite

Devora-me

Junto

Aos meus sonhos

Não deixa

Nada

Leva tudo

Com a madrugada

Nua

Engole-me

Com minhas verdades

Deixa-me

Nu

Deixa-me

Caído

Nas minhas esquinas

Deixa-me

Embriagado

Deixa-me

Morrer

Como morrem

Todos os loucos

Sozinhos

Esquecidos

Deixa-me

Na noite

Para que a noite

Engula meus sonhos

Hoje

Não falo

Nem metade

Do que já falei

Hoje

Escuto

Bem mais

Do que sempre

Escutei

Hoje

Olho mais

Observo mais

Não digo nada

Nem o que penso

Olho

Calo-me

Hoje

Sei o peso

Das palavras

Hoje

Sei

Que não são apenas

Os peixes

Que morrem

Pela boca

Que não são somente

As cobras

Que soltam veneno

Pela boca

Esqueço

Que sou

Quase Um velho

Esqueço

Que já não

Posso mais

Cometer

Certas

Loucuras

Certos

Abusos

Esqueço

Que o tempo

Começa

Deixar

Suas marcas

Em mim

Em meu caminho

Esqueço

Que não posso mais

Rir à toa

Não posso mais

Brincar

Sou quase

Um velho

Não me cabem

Mais vacilos

Não posso mais

Cometer certos caprichos

Matam-me

Um pouco a cada dia

Quando

Negam-me

Um abraço

Um sorriso

Quando

Ffecham

As portas

E deixam-me

No lado de fora

Matam-me

Quando

Recusam

A receber

De mim

Todo

O amor

Que arde

Em meu peito

Matam-me

Um pouco

A cada dia

E sempre

Quando fingem

Que não me vêem

Matam-me

Quando rasgam

As poesias que escrevo

Que bom

As flores

Morrem

Despetaladas

Que bom

Que as flores

Se renovam

Todos

Os dias

Que bom

Que há sempre

Novas sementes

Que bom

Que nada é

Para sempre

As flores

Nascem

Belas

Perfumadas

E morrem

Secas

Que bom

Que amanhã

É outro dia

Que bom

Que há

Uma noite

Para que se esqueça

O erros de hoje

Hoje

Matei

De vez

Meu coração

Hoje

Deixei

Meu coração

Sangrar

Até

A última gota

Não há

Mais nada

Que eu possa

Fazer

Não há mais coração

Batendo

Descompassado

Em meu peito

Não há mais

Vozes E gritos

Que me atordoavam

Agora

Ouço

A razão

Agora

Não erro

Não há mais

Coração algum em meu peito

Nem o meu, nem o seu

16 de fev. de 2011

hoje
quero
escrever
você
escrever
como
te vejo
escrever
como te sinto
escrever
como te percebo
não vou ousar
falar de amor
não seria tolo
nem vou
aqui
inventar
qualquer paixão
vou escrever
você
para que amanhã
possa
ler e me
lembrar
de como é linda
vou escrever
você
para fazer
de você
eterna
nessa minha realidade
tão fechada
e tão distante
hoje
vou escrever
você
para que nada
de você
se perca pelo caminho
mulher linda
rosa ferida
és
bela
naturamente bela
o que
te deixa
ainda
mais bela
bela
sob todas
as outras formas
de beleza
és bela
e espalha
no ar
o perfume
suave
das tuas pétalas
e enche
de graça
todo o caminho
por onde passa
és bela
e não deixas
nunca
transparecer
a tristeza
escondida
em tua alma
és bela
naturalmente bela
como não
querer
olhar
para estes teus olhos
de cílios
longos
não há
como fugir
deste
do encantos
destes
teus olhos
e do teu sorriso
sempre vivo
não há como
não viajar
em tuas alegres
palavras
e não se deixar
levar
pelos teus suaves
ventos
és a beleza
que encanta
sem dizer nada
és
a magia
não há como
fugir
não há como
se desvencilhar
de ti
mesmo
que negues
eu sei
que vai negar
há tristeza
em teu olhar
mágoa
que não se vê
uma ferida
aberta
que ainda
sangra esta dor
mesmo
que negues
teu riso
aberto
disfarça
teus olhos
vivos
cheios
de vida
escondem
o que não confessa
a ninguém
há na tua
alma
uma tristeza
disfarçada
tristeza
contida
uma ferida aberta
que não sara
não cicatriza
bom chegar
e te ver
o dia
fica mais
leve
alegre
é bom chegar
e te ver
o tempo
passa mais
devagar
e tua presença
vai criando
raiz
vai tomando
conta
de tudo
é bom chegar
e te ver
vestida
com um sorriso
ainda
que tímido
tudo é melhor
tudo se enche de graça
contigo
tudo fica mais
vivo
mais alegre
mais intenso
bom chegar
e te ver amanhecer
quantas
flores
neste jardim
quanta
beleza
espalhada
mas tua
beleza
que me perdoem
todas as outras
enche
de graça
de alegria
e de luz
a própria luz
és
a flor
que encanta
porque tua beleza
não precisa
de artifícios
és bela
porque a beleza
reina
em ti
quantas flores
neste jardim
e só
tua beleza
convence
não há quem resista
não há quem
não se renda
quem não se curve
diante
de tua beleza
flores
de todas as flores
olho
teus olhos
bebo
cada palavra
tua
quero
cada instante
perpetuado
em minha memória
olho
tuia graça
tua alegria
vejo
espalhar
por onde passa
alegria
sorrisos
se abrem
braços
se estendem
olhares
como os meus
te buscam
és luz
feita de luz
olho
teus olhos
e me deixo
levar
mergulhado
na tua doce
e marcante
beleza
de mulher
posso
morrer
amanhã
posso morrer
a qualquer
instante
e agora
mais leve
mais feliz
completo
realizado
satisfeito
posso dizer
sem medo
que conheci
um anjo
posso dizer
que tive o prazer
de conhecer
a estrela
mais brilhante
do céu
posso dizer
que vi
o amor
materializado
em uma mulher
e se
eu partir
amanhã
partirei
sorrindo
morrerei sorrindo
perdoa-me
por te dizer
por jogar
em cima de ti
tantos pensamentos
como poderia
eu
calar a voz
como
poderia
eu sufocar
cada palavra
não seria eu
poeta
não serias
tu a mulher bela
a musa
perfeita
perdoa-me
por dizer
o que penso
minha boca
está seca
e as palavras
escorriam e batiam
em meu peito
perdoe-me
por dizer
assim
derrepente
como me faz bem
esta tua beleza
és
agora poesia
peguei
tudo
de ti
que havia
e rabisquei
versos
transformei
linha a linha
cada traço
teu
traduzi
um pouco
do que senti
para que desta
maneira
eu possa
me lembrar
da estrela linda
que vi
brilhar
num céu sem estrelas
és
agora poesia
beleza
doce transformada
para que nada
de ti
se perca
cada gota
desta beleza
doce de mulher
traduzida
és para sempre
agora
poesia
juro
eu não queria
ser assim
me encantar
de cara
com a beleza
que vejo
como se fosse
eu menino
carente
juro
não queria
fantasiar
não queria
voar
nesses meus sonhos
loucos
queria
ser mais contido
mais centrado
nessa
minha loucura
juro
não queria ser
assim
um poeta
apaixonado
extremamente
apaixonado
pela beleza
que vejo
passar por mim
afasta
de mim
senhor
todos esses
cálices
tira
do meu caminho
todas as flores
mais belas
cega
meus olhos
para que não as veja
deixa somente
senhor
meu sentir
a fragrância
me basta
afasta
de mim
todos os cálices
todos os vasos
jarros
arranca do meu caminho
todas as flores
mais belas
não sei lidar
com toda beleza
que me cerca
há em ti
algo
mais
que não quero
descobrir
há em ti
uma alma
bela
ainda
que carente
ainda
que triste
pela decepções
ainda bela
alma de luz
há em ti
encanto
mesmo
que tente
eu não ver
mesmo que tente
eu
desviar
os olhos
mesmo que tente
eu não enlouquecer
grita
minha alma
urra
há algo em ti
que hipnotiza
e eu
luto
para que as palavras
não morram
em minha boca
vai passar
eu sei
sou assim
crio
deuses
e demonios
crio furacões
e tempestades
raios
e quantos trovões
vai passar
eu sei
todas as provações
sempre passam
são apenas
ventos
que sopram
sempre
sobre mim
depois
passam
deixando sempre
sua marca
vai passar
essa paixão
esse encanto
toda loucura
é sempre assim
vem, queima
arde em mim
e passa
porque
senhor
insistes
em colocar
em meu caminho
estas flores
sabes
que me perco
em sonhos
sabes
que sou fraco
então senhor
porque insistes
em colocar em meu
caminho
estas flores
sou fraco demais
sonhador
demais
e mesmo assim
me conhecendo
como me conheces
coloca
estas flores
em meu caminho
estas flores
o que quer de mim
senhor
porque
tantas flores
em meu caminho
vou fugir
de ti
como
foge o diabo
da cruz
vou fingir
que não te vejo
vou me esconder
atrás
de mim
vou resistir
sou mais forte
do que eu
me conheço
posso
suportar
ainda que desesperado
esta minha
vontade louca
de gritar
seu nome
não vou mais
me deixar levar
não tenho asas
mas sei voar
e sempre
caio de mim
nos meus tantos
abismos
vou fugir
vou fingir que não vejo
eu vou resistir
entendas
se derrepente
disser
sem medo
que te amo
com certeza
te amo
porque
este amor
toma conta
de mim
entendas
se derrepente
eu fugir
se derrepente
eu correr
de ti
é o amor
que gritas
e sufoca
meu peito
entendas
por favor
e não diga nada
pode ser
que este amor
amanhã
já não exista mais
porque sou
assim
feito
temporal
não
me preocupo
mais
se gostam
de mim
não me preocupo
mais
em agradar
pessoas
em fingir
em mostrar
meus dentes
não poderia ser
diferente
já fui
assim
coração aberto
transparente
já fui tapete
capacho
hoje
não me preocupo
mais
com nada disso
sigo em paz
meu caminho
não deixo
nada mais
no caminho
que possam usar contra mim
eu sou
assim
não sou de ficar
fazendo
festa
nem sou
de ficar sorrindo
à toa
eu sou assim
calado
sozinho
fechado
no meu mundo
não gosto
de abraços
vazios
nem gosto
que ultrapassem
minhas pontes
eu sou assim
armado
até
os dentes
descrente
dedsconfiado
leão ferido
fico quieto
calado
observo
eu sou assim
não ameaço
eu faço
pode ir
tenho de ti
tudo o que preciso
a mala
cheia de saudades
o corpo
cheio
de suas marcas
e um
passado
cheio de lembranças
pode ir
leve o que quiser
não preciso
de mais
nada
tudo o que quero
de ti
está em mim
todo amanhecer
todas as horas vividas
os lençóis
na cama
ainda têm
seu calor
pode ir
ninguém jamais
ocupará
o lugar
que será sempre teu
eu gosto de você
não tanto
quanto
gosto de mim
gosto
de você
mas não deixo
nada
para viver
esse gostar
esse querer
gosto de você
exatamente
onde está
longe de mim
sem ameaçar
meus dias
sem cuidar
dos passos que dou
qualquer gostar
que não seja esse
não me serve
qualquer
gostar
além desse
seria loucura
eu gosto
de você
mas não lhe amo
todo amor
em mim
morreu
secou
nasci só
morrerei só
mesmo
que tenha
muitos amigos
mesmo
que existão
muitos amores
tantas paixões
morrerei só
mesmo
que seja herói
mesmo
que seja eu rico
ou miserável
mesmo
que nade
em ouro
ou chafurde
na lama
nasci só
morrerei só
mesmo
que me amem
demais
mesmo
que me queiram
eterno
nasci só
morrerei
serás
sempre
mulher
mesmo
que tentes
esconder
teus espinhos
mesmo
que tentes
pisar
nas nuvens
suas pegadas
ficarão
por muito tempo
cravada
na terra dura
do teu destino
serás
sempre
mulher
mesmo
que a noite
cegue
os olhos
poderás
até enganar
a vida
jamais
enganarás
teu destino
és mulher
e sempre serás
mulher
dos meus
amigos
quero distância
nenhum deles
falou
a verdade
todos
mentiram
nenhum
deles foi leal
todos
trairam
minhas palavras
prefiro
meus inimigos
que me respeitam
me cumprimentam
e
sabem
o peso
da minha espada
dos meus amigos
quero
as lembranças
dos momentos
que nunca tive
quero lembrar
que sempre
estivemos
em estradas
opostas
dos meus amigos
quero
que eles fiquem onde estão
você
pode mentir
o quanto
quiser
pode enganar
iludir
pode se travestir
maquiar
sua alma
será
sempre
a mesma
sua índole
sua caráter
imutáveis
você
pode enganar
o mundo
jamais
conseguirá
enganar
você
mesmo
sua máscara
de cera
um dia derrete
sua maquiagem
um dia
cai
você
nem chegou
e já vai embora
vai levar
o sorriso
e a doçura
do olhar
você
cjegou
e nem disse
seu nome
talvez
eu nunca saiba
então
tudo
ficará
intalado
na garganta
seca
as palavras
morrerão
e você
também
morrerá
quem sabe
um dia
no meu pensamento
tantas
paixões
inventamos
para que assim
possamo
nos sentir
vivos
quantos sonhos
alimentamos
para fazer
valer
a vida
como
se viver não valesse
á pena
quantas vezes
nos aprisionamos
por medos
tolos
que não existem
e mesmo
sem existir
nos fazem
fracos
quantas coisas
em nós
não aceitamos
e fingimos então
ser
o que não somos

14 de fev. de 2011

cantam
os sábias
os pardais
os rouxinóis
os colibris
cantam
porque
só sabem cantar
porque só
sabem voar
nessa imensidão
desse céu
morrerão
cantando
os sábias
os pardais
os rouxinóis
morrerei eu
também
porque não sei
cantar
porque não sei
voar
e o céu
está bem longe de mim
dorme
ainda
é cedo
descansa
seu corpo
sua mente
deixa
que eu viva
por você
esses instantes
dorme
logo o sol
desperta
logo a vida
bate a porta
logo não haverá
mais tempo
para nada
então
esquece tudo
dorme
tranquila por mais
alguns instantes
ainda
há tempo
deixa
que eu viva
esses segundos
por você
antes que o sol
nasça
e a vida peça seu
café da manhã
e se valer à pena
viver
confia
eu acordo você
passam
por mim
essas mulheres
com suas bolsas
gigantes
coloridas
com seus sapatos
de salto alto
apertados
passam
por mim
com seus olhares
de perdidos
olhares
de dor
passam
a desfilar
nessa passarela
de concreto
seco
passam
por mim
essas pobres
desconhecidas
jogando
no ar
seu veneno
querendo
de mim
quem sabe
poemas
um verso apenas
um bom dia
passam por mim
e lhes dou
meu silêncio
não vejo
ninguém
nas janelas
as luzes
estão acesas
não há ninguém
somente
eu
a olhar
o que ninguém
mais vê
talvez
alguém me olhe
de longe
talvez
de longe
eu não vejo
ninguém
só as janelas
cheias
de poeira
somente
as luzes acesas
não ninguém
louco como eu
não há mais
o que fazer
vida demais
para viver
e eu olhando
a poeira
nas janelas
que seja
sempre assim
que nada
possa mais
desviar
meu rio
que nada mais
possa desviar
meus olhos
mudar meu foco
que eu fique
aqui
por um longo
tempo
não sei há
melhor
lugar
também não sei
se gostaria
de estar
em outro lugar
que seja sempre
assim
acolhedor
e que minha alma
enfim
beba essa paz
não pode
haver
melhor lugar
não tem sol
o céu
está
azul
não há sol

barulhos
das espaçonaves
e dos pássaros
que sempre
cantam felizes
e nem
sabem
porque estão felizes
talvez
cantem
de tristeza
de solidão
não tem sol
o sol
arde de tanto azul
não há sol
nem nuvens
nem nada
apenas
os sábias
na grama
verde
comendo sei lá
o que
felizes
e eu sei
que felicidade é essa
penso
em você
no seu gostar
penso
na explosão
dos sentimentos
na confusão
onde instantes
se encontram
e nos desenhos
que cada um de nós
desenha
penso
em você
nas palavras
doces
e na sua necessidade
de gostar
de se sentir
querida
amada
penso
em você
na sua vida
de como está
de como se sente
fico na janela
contemplando
esse sentimento
até que a noite
chegue
e eu
feche a janela
o dia
se faz calmo
o mundo
se consumindo
na pressa
de chegar
e eu
aqui
curtindo
a nostalgia
desse
amanhecer
o dia
se faz calmo
a brisa
sopra fresca
o barulho
é quase nada
e a solidão
não me assusta
não estou sozinho
estou
com meus pensamentos
e cheio
dessa paz
acolhedora
o dia
se faz calmo
e o mundo
lá fora
tão distante
de mim
as poucas
pessoas que
passam
por mim
são indiferentes
a mim
e eu
indiferentes
a elas
elas não me conhecem
e eu
as desconheço
posso
respirar
aliviado
e contemplar
sem pressa
a beleza
desse lugar
posso respirar
sem medo
de engasgar
na minha própria
pressa
ninguém
me vê
eu não vejo
ninguém
só o sol
só esse lugar
que existe
não mais somente
em mim