21 de nov. de 2019

TE BUSCO


alimentas
meu vício
de te querer

acalma
minhas guerras
e me faz mergulhar
em teus mais profundos
abismos

arruma
e me bagunça
me atiça
coloca mel em minha
boca
e fel

e te busco
e te caço
e te amo
em muitas linhas mal traçadas
e te quero
entrelaçada em mim

me fazes
sonhar
e eu te sonho
ainda que estejas distantes
mas sempre
que eu bato
tu abres
a frestas de tua janela
para que possa te espiar

e eu te fujo
e eu te quero
nas minhas poesias
para que eu possa morrer
pelo êxtase
de imaginar
teu amor
em mim

22 de jul. de 2019

AFLIÇÕES


meus dias
vestidos
de noite

minhas alegrias
camufladas
de tristeza

minha voz
calada
ardendo no peito

meus dias
se escondem
nas sombras
dos meus pensamentos

meu sentir
anda
assim
espalhado
por onde passo

espero
meus dias
de sol
meus dias
de paz de verdade

meus dias
de noites
eternas
onde sombras dançam
enquanto
almas se regojizam
de todas as minhas aflições
de viver

FUJO


fujo
dos teu querer
dos teus olhos
do teu corpo
do teu cheiro
do teu ar

fujo
do teu encanto
dos teus cantos
da tua voz

fujo
das tuas ruas
dos teus caminhos
do teu destino

fujo
da tua voz
dos teus sons

fujo
daquilo
tudo teu
que me atrai
do teu mundo
deste teu universo

fujo
do que me atrai
para não
enlouquecer
deste querer

porque já
não te quero
em minhas mentiras
em meus sonhos
no meu sangue
enraizada
em meu coração


NADA TEU


já não
escuto
mais teus gritos
ouço
mais
teus silêncios
e nada mais
teu meu dói
eu já
não quero
saber
para onde
levam teus passos
ainda me arde
o gosto
amargo
do teu corpo
em minha boca

amei
este amor
errado

me importei
em buscar tua voz
já não
quero mais
nada que lembre
teu caos
tua poesia escrota
tua insensatez
não quero mais
teus pecados

OBSERVO


sou
agora um nato
observador
daquilo
que mais gosto

apenas
observo
os jeitos
os trejeitos
o som da voz
o jeito de olhar
de andar

observo
à distância
sem querer
tocar
sem querer ter

sou
agora um nato
expectador
não me envolvo
mais com essa criatura
que me alucina
que me seduz
que em encanta

arranquei
as flores
do meu jardim
admiro
as flores (ainda)
nos jardins
que não são os meus

mulheres

20 de jul. de 2019

DESPUDORADAMENTE VOCÊ


eu gosto
destas
tuas indecências
deste teu
despudor de sentir
deste teu atrevimento
atrevido
desta tua ousadia
e a ousadia
dos teus lábios

eu gosto
destes teus pecados
expostos
e desta tua
doce
exuberância
de sentir
assim
tudo
tão intenso
e desta tua ardência

eu gosto
das provocações
da saliva
que escorre
do sangue que corre
e deste ar
que respira
gosto
desta tua despretensão
de ser coisa alguma
e ainda
assim sem querer
ser despudoradamente
você

POESIA VAZIA


esta é uma poesia muda
não diz nada
não reflete
o que sinto
nem o que penso
apenas
existe
por necessidade

esta é uma poesia
sobre um vento
que soprou
sobre uma flor
que nasceu e morreu
e deixou
as pétalas jogadas
para apodrecerem no meu jardim

esta
é uma poesia
cheia
de não sentidos
uma poesia
sem voz
sem direção
uma poesia
perdida na imensidão
do não sentir

não diz nada
não reflete nada
incauta
e
particularmente
oca
na própria existência

19 de jul. de 2019

SEI DE COR


sei de cor
cada mácula
que carrego

sei de cor
cada pecado
meu

conheço bem meus
gritos
e sei ondem
habitam meus silêncios

conheço
bem as migalhas
que dou
de mim
e as migalhas
que recebo
dos quem voam
sobre mim

sei
bem quem sou

conheço
minhas cicatrizes
minhas marcas
de expressão
e minha ausência
de sorriso

eu sei de cor
quem sou
e sei
que o espelho
não reflete
mais minha imagem

tente
enganar-me
esse reflexo vil
de mim
mas sei quem sou
e a cor
da minha alma
e o peso
das coisas
que carrego

VISTO-ME


assim
que acordo
visto-me de amor
para encarar
melhor
meu dia
para encher
meu peito
com o perfume
da vida

assim
que acordo
lembro-me
dos passos
tortuosos
que já
dei

faço
um prece
e vou
pelos mesmos
caminhos
de sempre

não há porque
mudar
se eles já carregam
minhas pegadas
se há
rastros de mim
espalhados por ele

assim
que acordo
visto-me de vida
e vou
porque ficar
nunca fez parte
da minha alma aventureira

18 de jul. de 2019

TUAS SOMBRAS


quero
olhar
e não te ver

respirar
e não te
sentir

quero andar
por entre
tuas esquinas
e não tropeçar
nas tuas angústias
e medos

quero
beber
e não sentir
teu gosto

quero respirar
e não sentir
teu cheiro

quero comer
e não sentir
teu sabor

quero a liberdade
de ser
quem nunca fui

quero viver
sem tuas lembranças
sem tuas sombras
sem tuas míseras migalhas
deste amor
que não quero mais

quero
viver em paz
não te sentir em nada
e nem te achar
deitada em minhas calçadas
mendigando
resto
do meu amor
que era teu

quero
um sol
sem tuas sombras

e um mar
sem teu amar

POR ENTRE AS FRESTAS


não deixe
nada entreaberto
feche
as portas
as janelas
as cortinas

feche as torneiras
as gavetas
os potes
onde guarda seu açúcar

feche
a alma
teu sorriso
teu peito

não alimente
nada que não for recíproco

não deixe
o sol entrar
o vento
uma fio de claridade

não deixe
nada entreaberto

feche o zíper
de tua boca
feche a boca
os olhos
as mãos
os abraços

feche
e não deixe
nada entreaberto
o amor
é um suspiro
que ama invadir
qualquer fresta

17 de jul. de 2019

TEUS OLHOS

olho
nas esquinas

nos olhos
vazios

olho
as folhas
que voam
em seu outono

olho
teu corpo
cada contorno
cada poro
da tua pele

olho
teus olhos
tão cheio
de meus vazios

olho
para nós
deitados
em nossos sonhos

dependentes
e carentes
de nós

olho
e não vejo mais
nada que me cerca

teus olhos


teus olhos

VAZIO


preciso
de algo que me inspire
que me enlouqueça
algo
que me faça transpirar

preciso
de uma aflição
de uma
nostalgia
de algo que me entorpeça
e me faça
flutuar
em meu abismo

preciso
de uma ferida
de algo que sangre
preciso
de um cigarro
de uma bebida
um olhar
ou quem sabe
uma madrugada
num bar

preciso de olhares
e de silêncio
para entender
que o que eu sinto
é remoto
é pouco

insensato
insensatez
descontrole
descompasso
é só vazio...

24 de fev. de 2019

INDECÊNCIA


fodam-se
os falsos moralistas
os politicamente corretos
os hipócritas
e todas aqueles que se escondem
atrás de máscaras...

fodam-se

mas eu quero te comer
quero te devorar
o corpo
a alma
as entranhas

beijar tua boca
chupar tua língua
me lambuzar
com tua saliva

me agarrar em teus seios
em tuas ancas

quero te comer
num canto
qualquer
no carro
numa rua escura
numa noite
sem lua
e sem cúmplices

quero comer
tua pele
comer teu cheiro
comer tuas unhas
olhos
cada fio de cabelo

quero ficar entre tuas pernas
agarrado
para que
fiques para sempre
na minha pele
feito tatuagem

quero
que tu me olhes
com olhar de puta
e que gema
e que me xingue
não vejo problemas
nisso
somos todos um só palavrão

quero te comer
de quatro não
é comum demais
te quero por cima
por baixo
de lado
me olhando nos olhos

quero
que arranhe as costas
que cuspa
teu veneno
e me mate deste querer
até que amanheça
o dia
e não reste mais nada de nós

quero te comer
te devorar
te saciar
gozar
e te fazer mulher

30 de jan. de 2019

ARRANHADO


deixo
a poesia
que sai
arranhar
e desatar
o nó da minha garganta

não
existem mais
gritos
e os que
ainda insistem
em gritos
eu
os silencio...

PROCURANDO


a poesia
anda
por ai
sozinha
procurando abrigo
quem sabe
um coração aflito
doente
solitário
e cheio de um vazio

a poesia
é agora
andarilha
pedinte
mendiga

rasteja
em busca de
migalhas
de uma atenção
quase extinta

quase morta
sem poeta
sem destino


ESCONDO-ME


escondo-me
em minhas
ilusões
extintas

atiro-me
em meus calabouços
e neste
meu coração
tantas vezes perfurado
por dores
e amores
que
nunca me pertenceram.

RASA


não
me atiro mais
em corpos 
rasos
procurando profundidades
que não existe.

IMPULSIVO


eu
sempre
serei
impulsivo
seguindo
sem pensar
meus instintos

um tanto louco
lunático
poeta

sigo
sem pensar
porque pensando
demais
não sei mais eu
e em mim
não caberá
mais
amor algum...


MANICÔMIO


... há tempos
vivo em meu manicômio
particular...

há tempos
insisto
e me visto
com minha loucura...

NÃO SEI


ainda
não sei bem quem sou
sei
apenas
que estou por ai
e por aqui
tentando
descobrir
todos os porquês de Deus

ainda
não sei bem quem sou
e voo
além de mim
além
do que podem minhas
asas
que asas?

amo
mais que pode
suportar
meu coração
há tempos
perdidos
na imensidão
do amor que sinto

ainda não sei
quem

10 de jan. de 2019

TE OLHAR


só quero te olhar
só quero
te ver dormir
ou te ver
andar
pela casa vazia

só te quero
ver
de camisa larga
e por baixo a pele nua

só quero
poder
te olhar
sem dizer nada
só te imaginar

ali
afoita de desejos
carente
coração
queimando o peito

só quero
poder
te sentir
mesmo sem te tocar
para nunca
mais te esquecer

TE ROUBAR PARA MIM


e
se por um
momento
eu te roubasse
para mim

te vendasse
os olhos
e te levasse
para ouvir
a canção que o mar
entoa

e
se por um
momento
eu te quisesse
ainda sabendo
do fim
de nós dois

ainda
assim
haveria esse momento
eternizado
em nós

PERDIDO


me
perco
em meio
aos meus papéis
e as canções
e todos os sentimentos
e sensações

me
perco
em minhas sombras
e meu silêncio
sempre
fala mais alto

a solidão
sempre
aperta com força
a alma

me
perco
em meio as flores
que plantei
entre os livros
que não li

me
perco
entre as poesias
que ainda não escrevi

AMOR DEMAIS


tenho
amor demais

amor que transborda
poderia
amar ainda mais
mas não devo

transformo
então
amor que sinto
em poesia

que elas possam
relatar
um pouco do que sinto
e sinto muito
sinto demais

esse amor
dilacera
meu peito
enche minha alma

amor
que morre
amor que mata
amor que não tem fim

poesias

NÃO ERA AMOR


não era amor
muito menos
coisa parecida

era vazio
sem vida
sem bem querer
nem saudade

era pequeno demais
para um
coração grande demais

não era paixão
porque
não queimava
era fumaça
vento que passa
e passou
sem deixar nada

tristeza e dor
e um coração morto

NA CONTRAMÃO


sempre
andei
na contramão
de mim e dos meus sonhos

sempre
andei
entre tombos e tropeços
meus joelhos
vivem ralados

sempre
fui um sonhador
e sonhando
nunca cheguei a lugar algum

sempre
voltei por onde
andei
sempre com medo de me perder
pelas estradas
que eu já conhecia

NÃO QUERO


não queria
e nem quero teu amor

quero
apenas teu corpo
e teus beijos

teus lânguidos seios
tuas coxas fartas

quero teu mau humor
e teu silêncio
teus olhos
mergulhados nos meus

quero
tuas roupas jogadas
teu café
frio
e teu gosto de batom

não quero
teu amor
nem tuas falsas promessas
de um amanhã
que não existirá

quero teu corpo
teu beijos

amor eu já tenho

VOZES


e
essas vozes
que não se calam

e
esses ecos
que não
respondem

e esse amor
que vai
morrendo

e essa flor
seca
neste vaso

e essas pessoas
que não
se encontram

e esses olhares
quase todos
cegos

e essas
bocas
ressecadas

e essas camas
quase
sempre vazias

e essa
ardência
que não passa

e esse amor
que morreu

ALGUÉM


tem sempre
alguém
falando o que ninguém
vai ouvir

tem sempre
alguém
escrevendo o que ninguém
vai ler

caminhando
sem a certeza que irá
chegar

tem sempre alguém
amando demais
sem ser amado

tem sempre alguém
morrendo
sem saber o que é o amor

tem sempre alguém em
silêncio

tem sempre gritos demais

MAQUIANDO


e a gente
vai
se maquiando

disfarçando
engolindo
se consumindo
e morrendo

uns
mais rápido
outros
nem tanto

e a gente
vai subindo
e descendo
as ladeiras da vida

brincando
de faz de conta
fazendo
que acredita
neste conto de fadas
que não é a vida

a gente se perde
a gente se acha

SOBREVIVENDO


venho
tentando
sobreviver

e viver
com aquilo que tenho
e tenho
pouco
e este pouco
me basta

minhas ambições
foram
perdidas

vento me leva
e me faz
voar
mesmo sem ter asas

fogo
me queima
mesmo eu sendo água

já não
sei
por onde anda minha fé
e tudo
aquilo que me fazia
crer

INSISTÊNCIA


o que
aconteceu

por que
insiste em me mostrar
este teu silêncio
esta tua indiferença

o que
aconteceu
por onde andam seus olhos
seus pensamentos
e seus desejos

por que
gostar
de dar o pior de ti

onde
andas
quem tu és

já deixei
de te conhecer
e te fumar
e te beber

ando por ai
agora
a te esquecer

DEIXEM-ME


deixem-me
secar

deixem-me
ficar
com meu amor
e essa minha intensidade
de sentir

deixem-me
com minhas canetas
e meus papéis em branco

deixem-me
minha febre arder
e meu corpo
se rasgar
inteiro

é o que
restará de mim

deixem-me
todos serão melhores
sem mim

DAQUI A POUCO



daqui a pouco
o azul
do céu
sumirá

tudo
ficará cinza
e o mesmo céu
que sorria
irá chorar

daqui a pouco
nada em mim
será o mesmo

o dia
sucumbirá
as emoções

e a noite
em meus sonhos
tudo fenecerá

a mesma
história
de sempre
o mesmo início
o mesmo
fim

DESBOTANDO


todas
as cores
um dia
irão desbotas

todas
as paixões
um dia secam

todos os amores
um dia morrem

e ainda assim
seremos
os mesmos
ou não

ainda haverá
coração
remendado ou não

tudo
fenecerá
haverá o fel
e o gosto amargo
do que jamais
morrerá

INQUIETO


ando
inquieto
lutando
minhas tantas lutas

todas elas
invisíveis

ando
matando amores
e todos os desejos
que nascem
em vão

ando
inquieto
ardente
ácido

algo me incomoda
algo me prende
me pressiona
impulsiona

algo
grita dentro de mim
e ainda assim
cala minha voz

ando
inquieto
calado
meio morto

SE EU TIVESSE


o que seria
se tivesse ido
até o fim

se tivesse mesmo
vestido minha loucura

o que seria
se eu tivesse tido a ousadia
de dizer
tudo o que ainda está entalado
na garganta

o que seria
se eu tivesse ficado sentado ali
enquanto tudo
me consumia

talvez
quem sabe
tivesse secado por dentro
e tudo teria morrido
antes mesmo de ter nascido

ESCREVER

quero escrever
escrever
por horas

escrever
até que meus dedos caiam
ou até que não restem
mais papéis em branco
ou até que todo tipo
de sentimento
seque

quero escrever
abrir
a torneira de minha'lma
deixar
que tudo escorra
que tudo
finde
num fim de tarde qualquer

escrever
até que não haja
mais nada dentro de mim

5 de jan. de 2019

EM TUDO

agora
em tudo
silêncio

as palavras
aos poucos
morrendo

sentido
sentimentos
já não creio
na salvação de minha'lma

já não creio
na luz
que não ilumina
meu caminho

deixei
para lá
os soluços

deixei de sentir
há tempos

agora
em tudo
silêncio

anjo sem asas
caído
morto

O QUE EU QUERIA

deixei
de querer
o que eu queria

já estou cheio
de tudo
e este nada
me ocupa

deixei
de ir
para já fui tantas vezes

perdido sempre
em meus vazios
querendo sentir
mais do que já sentia

já não há
mais
reflexo em meu espelho

nem mais
o mesmo amor
neste meu coração

deixei
de querer
o que eu mais queria

PROMESSAS


eu não vou
sem promessas

não há em mim
malas vazias

minha boca
já tem gosto de outra boca
meu coração
bate em outro peito
e no meu
tantos
outros corações

eu não vou
sem promessas

tirar você
de onde está
e deixar a esmo
na beira da estrada

para que
por um beijo
por um afago
por mais uma mentira
por mais uma promessa vazia

não mais
obrigado

NÃO QUERO MAIS

logo
irei
me apagar
então
não quero mais
nem as tuas
e nem
as minhas mentiras

não quero
mais
mar sem ondas

não quero
beijos sem saliva
e nem abraços
que não se encaixam

não quero
mais
minha covardia
que me fez ficar

logo
irei
me apagar
então não quero horas
mortas
nem mais
olhares perdidos

não quero mais
nem as tuas
e nem as minhas mentiras

nem tuas ruas
nem mais tuas esquinas

CANTO ESCURO

depois
de tudo
só quero ficar
quieto e morto
no meu canto escuro

eu preciso ficar
sem o sol
e sem nenhuma madrugada

sem deixar rastros
ou pegadas

preciso me perder
e ficar perdido
sem que me achem

não quero
mais mentiras

quero ficar sem falar
mentiras
e sem ouvir
maledicências

preciso
ficar sem nome
nem sobrenome
quieto e morto no meu
canto escuro

POR ONDE ANDA O AMOR

o amor
sei lá
depois da rua sem saída
depois do beco escuro
dos sentimentos ocos
e das mentiras
deve andar por ai
disfarçado
meio que indigente

o amor
sei lá
depois de tantas
desventuras
de tantos desamores
de tantas cicatrizes
deve ter criado asas
e voado
para
outra dimensão

o amor
sei lá
por onde anda o amor

SEM PENSAR


melhor
escrever
sem pensar

deixar
escorrer
como um rio perdido
procurando
o mar
que nunca achará

melhor
escrever
sem sentir
deixar que o pensamento
corra sem pressa
de chegar

melhor
mesmo é deixar
que este vento arraste
o resto de todos os sentidos

e se sobrar alguma
coisa
será o melhor
ou o pior de mim

BELEZA

onde
está a beleza
que meus olhos
sempre insistiram em ver

onde
estão as flores
que insisti
plantar pelo caminho

será
minha mão
imprópria para o plantio

serão as sementes
mortas mesmo antes de nascer

será
o solo infértil
como tantos corações

onde
está tudo o que eu via
e agora
não vejo mais

MEIO ASSIM


a vida
estava meio assim
sofá sem encosto

era andar e andar
entre tantos e tantos amanhãs
que ainda não chegaram

a vida
é esta ladeira
é esta subida
é esta linha reta onde
dois pontos
raramente se encontram

a vida
este ponto de interrogação
cheio de vazios
que jamais
se encherão...

LONGE DE MIM


um lugar 
longe de mim
onde eu pudesse ficar
sem pensar em nada

há tanto para pensar
e eu
só queria fugir de mim

fugir dos meus absurdos
fugir do meu caos
mesmo sabendo
que meus pensamentos
sempre 
estariam comigo

eu 
só queria
um lugar longe de mim

2 de jan. de 2019

ESTRANHEZA


a gente
vai se estranhar

eu vou
quer viver
e você vai
querer me prender
em seu mundo

ainda que haja
certezas
ainda que a cama seja a mesma

a gente
vai se perder
em meio as bobeiras
do dia a dia

a gente
vai se machucar

palavras machucam
cortam
e depois quem sabe
talvez
entre nós fique tudo bem