22 de jul. de 2019
AFLIÇÕES
meus dias
vestidos
de noite
minhas alegrias
camufladas
de tristeza
minha voz
calada
ardendo no peito
meus dias
se escondem
nas sombras
dos meus pensamentos
meu sentir
anda
assim
espalhado
por onde passo
espero
meus dias
de sol
meus dias
de paz de verdade
meus dias
de noites
eternas
onde sombras dançam
enquanto
almas se regojizam
de todas as minhas aflições
de viver
FUJO
fujo
dos teu querer
dos teus olhos
do teu corpo
do teu cheiro
do teu ar
fujo
do teu encanto
dos teus cantos
da tua voz
fujo
das tuas ruas
dos teus caminhos
do teu destino
fujo
da tua voz
dos teus sons
fujo
daquilo
tudo teu
que me atrai
do teu mundo
deste teu universo
fujo
do que me atrai
para não
enlouquecer
deste querer
porque já
não te quero
em minhas mentiras
em meus sonhos
no meu sangue
enraizada
em meu coração
NADA TEU
já não
escuto
mais teus gritos
ouço
mais
teus silêncios
e nada mais
teu meu dói
eu já
não quero
saber
para onde
levam teus passos
ainda me arde
o gosto
amargo
do teu corpo
em minha boca
já
amei
este amor
errado
já
me importei
em buscar tua voz
já não
quero mais
nada que lembre
teu caos
tua poesia escrota
tua insensatez
não quero mais
teus pecados
OBSERVO
sou
agora um nato
observador
daquilo
que mais gosto
apenas
observo
os jeitos
os trejeitos
o som da voz
o jeito de olhar
de andar
observo
à distância
sem querer
tocar
sem querer ter
sou
agora um nato
expectador
não me envolvo
mais com essa criatura
que me alucina
que me seduz
que em encanta
arranquei
as flores
do meu jardim
admiro
as flores (ainda)
nos jardins
que não são os meus
mulheres
20 de jul. de 2019
DESPUDORADAMENTE VOCÊ
eu gosto
destas
tuas indecências
deste teu
despudor de sentir
deste teu atrevimento
atrevido
desta tua ousadia
e a ousadia
dos teus lábios
eu gosto
destes teus pecados
expostos
e desta tua
doce
exuberância
de sentir
assim
tudo
tão intenso
e desta tua ardência
eu gosto
das provocações
da saliva
que escorre
do sangue que corre
e deste ar
que respira
gosto
desta tua despretensão
de ser coisa alguma
e ainda
assim sem querer
ser despudoradamente
você
POESIA VAZIA
esta é uma poesia muda
não diz nada
não reflete
o que sinto
nem o que penso
apenas
existe
por necessidade
esta é uma poesia
sobre um vento
que soprou
sobre uma flor
que nasceu e morreu
e deixou
as pétalas jogadas
para apodrecerem no meu jardim
esta
é uma poesia
cheia
de não sentidos
uma poesia
sem voz
sem direção
uma poesia
perdida na imensidão
do não sentir
não diz nada
não reflete nada
incauta
e
particularmente
oca
na própria existência
19 de jul. de 2019
SEI DE COR
sei de cor
cada mácula
que carrego
sei de cor
cada pecado
meu
conheço bem meus
gritos
e sei ondem
habitam meus silêncios
conheço
bem as migalhas
que dou
de mim
e as migalhas
que recebo
dos quem voam
sobre mim
sei
bem quem sou
conheço
minhas cicatrizes
minhas marcas
de expressão
e minha ausência
de sorriso
eu sei de cor
quem sou
e sei
que o espelho
não reflete
mais minha imagem
tente
enganar-me
esse reflexo vil
de mim
mas sei quem sou
e a cor
da minha alma
e o peso
das coisas
que carrego
VISTO-ME
assim
que acordo
visto-me de amor
para encarar
melhor
meu dia
para encher
meu peito
com o perfume
da vida
assim
que acordo
lembro-me
dos passos
tortuosos
que já
dei
faço
um prece
e vou
pelos mesmos
caminhos
de sempre
não há porque
mudar
se eles já carregam
minhas pegadas
se há
rastros de mim
espalhados por ele
assim
que acordo
visto-me de vida
e vou
porque ficar
nunca fez parte
da minha alma aventureira
18 de jul. de 2019
TUAS SOMBRAS
quero
olhar
e não te ver
respirar
e não te
sentir
quero andar
por entre
tuas esquinas
e não tropeçar
nas tuas angústias
e medos
quero
beber
e não sentir
teu gosto
quero respirar
e não sentir
teu cheiro
quero comer
e não sentir
teu sabor
quero a liberdade
de ser
quem nunca fui
quero viver
sem tuas lembranças
sem tuas sombras
sem tuas míseras migalhas
deste amor
que não quero mais
quero
viver em paz
não te sentir em nada
e nem te achar
deitada em minhas calçadas
mendigando
resto
do meu amor
que era teu
quero
um sol
sem tuas sombras
e um mar
sem teu amar
POR ENTRE AS FRESTAS
não deixe
nada entreaberto
feche
as portas
as janelas
as cortinas
feche as torneiras
as gavetas
os potes
onde guarda seu açúcar
feche
a alma
teu sorriso
teu peito
não alimente
nada que não for recíproco
não deixe
o sol entrar
o vento
uma fio de claridade
não deixe
nada entreaberto
feche o zíper
de tua boca
feche a boca
os olhos
as mãos
os abraços
feche
e não deixe
nada entreaberto
o amor
é um suspiro
que ama invadir
qualquer fresta
17 de jul. de 2019
TEUS OLHOS
olho
nas esquinas
nos olhos
vazios
olho
as folhas
que voam
em seu outono
olho
teu corpo
cada contorno
cada poro
da tua pele
olho
teus olhos
tão cheio
de meus vazios
olho
para nós
deitados
em nossos sonhos
dependentes
e carentes
de nós
olho
e não vejo mais
nada que me cerca
só
teus olhos
só
teus olhos
nas esquinas
nos olhos
vazios
olho
as folhas
que voam
em seu outono
olho
teu corpo
cada contorno
cada poro
da tua pele
olho
teus olhos
tão cheio
de meus vazios
olho
para nós
deitados
em nossos sonhos
dependentes
e carentes
de nós
olho
e não vejo mais
nada que me cerca
só
teus olhos
só
teus olhos
VAZIO
preciso
de algo que me inspire
que me enlouqueça
algo
que me faça transpirar
preciso
de uma aflição
de uma
nostalgia
de algo que me entorpeça
e me faça
flutuar
em meu abismo
preciso
de uma ferida
de algo que sangre
preciso
de um cigarro
de uma bebida
um olhar
ou quem sabe
uma madrugada
num bar
preciso de olhares
e de silêncio
para entender
que o que eu sinto
é remoto
é pouco
insensato
insensatez
descontrole
descompasso
é só vazio...
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