1 de jan. de 2020

POR AÍ

seguirei
este meu caminho
ainda
que sem destino
ainda
que sem chegada

seguirei
escrevendo
qualquer bobagem
qualquer poesia

nesse meu jeito
devasso
de pensar
e sentir
ainda
que o desamor
que agrida

ainda
que as indiferenças
me atirem pedras
e a idade
tente impedir meus passos

seguirei
este caminho
em todos
os outros
me senti perdido

ainda
que a loucura
contamine
ainda
que a loucura
contagie

ainda
que eu pense
poder amar
e voar

não posso.

MATEM-ME

matem-me
antes
que eu morra
por essa
primavera
que nunca floresce

matem-me
antes
que o amor
que sinto
acabe
por não poder amar
tudo o que
insisto
em querer

matem-me
antes
que a solidão
faça
de meu coração
sua morada

não quero mais
estes abismos
essa convulsão
por tanto
sentir
e se tiver
que morrer
matem-me
antes
a primavera
enfim
floresça.

BELEZA

que
nenhuma beleza
tenha efeito
sobre mim

que eu
consiga
passar
inerte
diante da beleza
que me faz cina

que eu
sobreviva
aos perfumes
aos olhares
que não me vêem

que
a beleza
passe
sem deixar
bagunça
sem deixar
querer

que eu
possa resistir
ao encanto
que me sufoca
a beleza
que me machuca

eu
a beleza
perca o poder
sobre mim

amém

ENTERRADOS

que todos
os meus fantasmas
permaneçam mortos

que todos
os meus desejos
permaneçam enterrados

que todas
as minhas expectativas
não em alcancem

que não haja
conjunções
de signos

e que o amor
sempre
fuja de mim

que cada
vez mais
as rosas tenham mais
espinhos

que cada vez
hajam menos
esquinas

que eu beba
cada vez mais do meu silêncio

que meus demônios
continuem
presos

que haja mais
poesia
sabe-se lá onde...

E VAMOS LÁ

e vamos lá
começar tudo de novo
reescrever
de novo
a mesma história
já contada
tantas vezes
por tantas outras pessoas

e vamos lá
para a mesma
rotina
de todos os dias
as mesmas pedras
os mesmos tropeços

os mesmos sonhos
e projetos
que nunca saíram do papel

e vamos lá
para os beijos
que jamais daremos
e para o sexo
que jamais faremos

viver é isso
um carrossel
que sobe e desce
desce e sobe
e nada mais
a não ser
a morte dessa engrenagem
velha
e sem mais vontade

e vamos lá
porque é disso
que somos feitos

de pó