SEM MEDO

 

eu te quero
sem medo
antes que o cigarro apague
antes que a noite acabe
eu te quero
no chão da sala

despida das vergonhas

quero

teu silêncio

tuas indescências

teus palavrões

eu te quero

sem devaneios

e nem ilusões

eu te quero

antes que o vinho invada

antes que os pés possam tocar o chão

eu te quero

permissiva

louca, enfurecida

despida dos preconceitos

e dos preceitos

do amor

eu te quero

sem pressa

antes que o dia nos acorde

e todo este instante

seja apenas

mais um acorde

eu te quero

sem vergonha

despudorada

antes que o cigarro apague

antes que eu acorde

e o amanhã me mate

TE DEVORO

 

eu preciso
do teu corpo
para que possa tocar tua alma

por isso eu te devoro

cada poro

cada pelo

por isso que te como

que me deleito

em teu prazer

por isso

beijo o céu da tua boca

por isso

me embrenho

entre tuas coxas

por isso

isso bebo o mel

dos teus seios

eu preciso

do teu corpo

para que possa tocar tua alma

este coração

este teu medo de sentir

por isso

te toco

com voracidade

de um instantes que passa

por isso

te agarro

as ancas para não te deixar fugir

por isso

te quero assim

indomável

fera

cheia de instintos secretos

te quero

sem pudor

do avesso

quero teu corpo

para que possa enfim

te ter por inteira

MAR DE SENTIR

que a gente possa se perder
neste mar de emoções

que a gente possa esquecer

das horas e das aflições

que a gente possa nadar

sem medo

neste oceano

que a gente se afogue

no prazer

do amor 

que nos consome

que a gente

deixe a madrugada

nos devorar

que a gente se devore

que as línguas

se enrosquem

e os corpos

sejam um

que nossos desejos

aflorem

que a paixão transborde

que o amor queime

que a gente possa flutuar

e se deixar levar

por este rio de emoções

e que não haja preocupação

se vai existir

um amanhã

que a gente possa ser o hoje

que tanto esperamos

que não haja pressa

e que nossos mares

se encontrem neste oceano de nós

LOUCURA

 

quero mais é que essa loucura

me queime

quero mais é me perder

na ida

e nunca mais achar

a saída

quero mais é ficar

e beber

me embriagar nessa ilusão

nesse prazer de doces instantes

quero beijar

me enroscar

e fazer que minha alma

evapore

quero a incedência de todos os palavrões

quero gritaria na madrugada

quebrar janelas

espelhos

quero me drogar de você

me iludir

até que o sol machuque 

a minha pele

quero o poder de me enganar

de me esfolar

de me machucar

na sua pele

quero suas mentiras

sua boca maldita

e esse corpo

minha loucura

sepultura

AVESSO

eu te gosto

de todos os jeitos

de frente

de costas

de lado

gosto mesmo e do teu avesso

do que carrega por dentro

teus medos

alegrias

teus dias de euforia

tuas noites de melancolia

eu te gosto

nas manhãs

de mal humor

cabelos molhados

cheiro de shampoo

aquele hálito fresco de pasta de dente

gosto mais do teu avesso

do que carrega por dentro

deste teu peito lindo

gosto das tuas nuances

do jeito moleca

atrevida

vestindo minhas camisas

machando

de batom meu coração

eu te gosto

de todos os jeitos

desleixada

arrumada

de pés no chão

gosto do teu cheiro

do teu beijo

e deste teu avesso

que sempre me bagunça

me conserta

e me arruma

LUA

 

que possamos

nos achar

nesta noite sem lua

que possamos

nos perder

por estas ruas escuras

que possamos

deixar fluir

este desejo insano

que o vinho no sangue

fale por nós

sem pressa alguma

do amanhã

que noite

nos sepulte

que o perfume

nos embriague

ainda mais

que a gente trepe

nos muros

e uive para a lua

que a nossa luz

se apague

e que na escuridão de nós

aja afago

que possamos

morrer entrelaçados

e que não haja 

o tédio destes dias

e nem mais

aquela monotonia

que a gente não minta

o amor que não sente

e que a gente

possa sentir

qualquer amor indecente

PELE

 

arranha

a pele

com teu beijo

beija a pele

com 

tuas unhas

mata minha sede

com teu 

suor

deixa-me jogado

em tua cama

sem lençóis

devolve-me o sono

nas noites 

de insônia

arranha

a pele

rouba-me os sentidos

deixa-me

na fria sarjeta do teu mundo

faz de mim

o pó de teu livros

nunca lidos

faz de mim

teu nada

mas deixa-me ficar

num canto escondido

do teu eu...

CULPA

tu
és minha culpa

meu crime

meu castigo

tu

és a minha falta

de consciência

meu agravo

meu pecado

tu

és meu bem e 

meu mal que quer

minha sinônia

minha falta de fé

tu

és miração

viagem

ilha

rua sem saída

meu porre

meu sarro

escarro

tu 

és o amanhã passado

o amor perdido

o cheiro fétido da roupa

o erro

minha condenação

minha morte

 

PERDIDO

 

deixa eu ficar
perdido
nas tuas entrenhas

deixa

eu respirar

através

desta de tua boca

de escárnios

deixa

eu ser tatuagem

nesta tua pele

deixa

eu ser o teu ar

a tua fome

e a tua sede que não passa

deixa

eu ser o orgasmo

o desejo

este cigarro

apagado

e mal fumado no cinzeiro

deixa

eu ser

tuas noites de insônia

teus pesadelos

teu suor

deixa eu ser

o teu íntimo

ínfimo pecado

deixa eu ser a saliva

o fel que escorre

desta tua boca

deixa eu ser a tua saudade

e o amor

que nunca há de sentir...