29 de mai. de 2024

ATORMENTADO

 


ando
atormentado

ando
querendo 
minha paz

ando
querendo arrancar 
do meu peito
esse veneno

quero respirar a vida
que me resta
quero
a alegria
que sentia
quero de volta
as pequenas felicidades

sem nomes
nem rostos
sem canções prediletas
sem poesias

apenas sem
me sentir assim
atormentado

SEM REFLEXO

 


não me vejo mais
não me vejo
refletido no espelho
nas fotografias amareladas
naquela alegria que nunca existiu
quando fui feliz
era sem saber

não temia o sol
nem as paixões
não tinha medo de cair
e de voar
e voava

eu não sabia
eu não queria saber
agora sei

todo aquele ali refletido
não era eu
era alguém que nunca fui
ou que 
há tempos deixei de ser

não sei o que é verdade
ou o que foi mentira


TALVEZ


talvez
de verdade
eu nunca tenha sonhado

talvez
de verdade
eu nunca tenha querido

tudo foi ilusão
tudo foi
apenas miragem

sempre fui bom em criar
um eu que 
nunca existiu
e agora perto do fim
minha consciência desperta
e agora
assombrado
fico feito zumbi
olhando as paredes do meu passado
rabiscadas

se soubesse
que seria assim
tinha morrido antes

FUGIR

 


não dá para fugir
tente
e a bebida te encontra
e o abismo te chama
e a droga te abraça

qualquer amor vazio
te envolve
e depois
remorso

não dá para fugir
o jeito é engolir
o silêncio
desta madrugada fria

todos devem estar dormindo
e poucos como eu
pensando
e de copo vazio

poucos como eu
tentando fugir
do que ficou
e ainda que nada volte
nada também 
é sepultado de vez.

PAPÉIS EM BRANCO

 

tantos papéis
em branco

tantos pensamentos
e aquele vazio

apartamento vazio
copos
pratos
cama vazia, fria

não sou nada
não existo

sou apenas pó
apenas

tantos papéis em branco
canetas gritando

e eu só
acordado 
porque estava me afogando
em pensamentos

não quero pensar
quero dormir

3:20h

 


3:20h
dizem que este é o horário
que os anjos estão na terra

dizem também
que as pessoas que despertam
esse horário
são predestinadas

não quero crer nisso
não suportaria mais essa decepção

melhor acreditar
que nesse horário
as crises de consciência
pesam mais

deixa eu crer
que nessa hora
os anjos dormem
incólumes
e com suas consciências 
tranquilas.

ANGÚSTIA

 


essa angústia
que não passa

esse nó na garganta
esse aperto no peito
essa vontade de nada

esse sol que não aquece
essa tarde
vento

eu vento
querendo que minhas poeiras
voem por aí

queria evaporar

desaparecer
no tempo

estou perdido
dentro de mim
sem pensamentos
sem nada para sentir

sem fé
sem esperança

15 de mai. de 2024

VIVI DEMAIS

 


pensando bem
eu vivi demais
tudo o que havia

amei todo amor
que poderia ter amado
ainda que alguns desses amores
fossem engodos

por isso meu peito dói
por isso essa canseira

por isso
quero ficar parado

quero não sentir mais nada
nem amar

pensando bem
estou colhendo os frutos
amargos que plantei
mas não sei
se as sementes eram ruins
ou se os solos
que não eram bons.

FRUSTRADO


sinto-me frustrado
prostrado
passivo
impotente

vejo a tarde cair
noites
madrugadas

deito chamando
o sonho que não vem
há tempos
os sonhos me deixaram

não sei mais
o que sou
nem sei mais o que sinto
nem mais o quero

meus olhos perderam
o brilho
e como se meu coração 
tivesse deixado de bater

sinto-me assim
inerte
como uma placa 
escrito
fim.
 

NÃO VEJO

 


mesmo
que eu te olhe
não te vejo
não gravo com antes, feições

é um tudo
em borrão
imagens distorcidas

como se nada
ficasse na memória
como se tudo
se apagasse em instantes

olho e não vejo
tudo 
se apaga com os piscar
dos meus olhos

alguém que enxerga
e não vê
alguém que vive
e não sente.

PROCURANDO


eu tenho
procurado alegrias
ainda que pequenas
mas essa angústia
essa minha respiração pesada
sei lá
nada mais me apetece
só quero ficar
nessa inércia de mim
dormindo
para não pensar
naquilo que nunca fui
eu tento
viver
mas resta-me apenas 
esta sobrevida
e a espera
daquilo que nunca
chega.
 

SEM SÁIDA


 é como 
se o amor
tivesse ido embora
de mim
e tivesse levado
toda minha alegria

foi embora
e levou
minha paixões
e minhas ilusões

deixou-me nu
por entre 
uma selva de espinhos

e agora 
sem amor
não sou nada
nem reflexo no espelho

feito cachimbo
sem rua
ou
rua sem saída

CERTEZA


me perdi
em alguma estrada
e não sei voltar

desconheço
quem sou
o que sou

deixei
de sentir
e agora
estou assim
a esmo

como sem fome
bebo sem sede
e vou
porque preciso

sem pressa
por sei
que a morte é certa.

Depressivo

 


esse vazio
essa falta de nada

estou morrendo
mais rápido do que desejo

ando cinza
sem cores
sem rumo
sem nada

qualquer coisa me serve
qualquer buraco
me acolhe

essa falta de tudo
essa minha incapacidade
de reagir

essa minha passividade
em ver
simplesmente
a vida passar