29 de out. de 2007

UM POUCO DE MIM


Comecei escrever por brincadeira. Eu tinha 16 anos e decidi ser poeta. Comprei uma máquina de datilografia, papel e comecei a digitar meus pensamentos. As palavras eram perdidas, soltas, vazias. Os dedos estavam duros e os pensamentos presos. Tinha medo de escrever. Achava que os poetas não eram assim. Comecei ler Bandeira, Drummond, Pessoa, mas não queria nenhum vestígio, queria ser poeta, como o poeta deve ser. Escrevi demais. Meus dedos doíam. Minha namorada, hoje esposa, apenas corrigia meus erros e quantos erros. Eram muitas poesias, travadas mas sentidas. Saiu meu primeiro livro "Labirintos da Solidão". Hoje guardado com os versos que talvez não tivesse hoje coragem de escrever. Depois de um tempo parei. Me senti um poeta mediocre. A máquina quebrou, a vida me engoliu. Mas a poesia gritava em mim. Comprei um bloco de papel. Não as digitaria mais, apenas as escreveria. Escrevi demais. No ônibus, no metro, na lanchonete, no cinema, na igreja. Assim a poesia tomou conta de mim. Nunca mais parei de escrever. Se via uma moça bonita, eu escrevia e lhe entregava. Quantas moças bonitas apareceram em meu caminho e quantas poesias perdi por ai. Trabalhava mas não me sentia realizado. Os versos gritavam, me sacudiam. Fiz de tudo. Fui ajudante de pedreiro, ajudante de eletricista, bancário, vendedor,vigilante, operador de telemarketing,auxiliar de escritório, assistente administrativo,digitador. Fiz de tudo nesta vida, até em circo eu trabalhei, mas a poesia gritava em minha vida. Casei ( com a mesma namorada que corrigia minhas poesias ), tive uma filha ( hoje minha melhor poesia ), moro longe, moro na periferia. Parei com tudo para escutar o que a vida de mim queria. Ela pedia, para tudo e vem escrever poesia. Parei, já escrevi 4 livretos, fiz um blog e o que eram labirintos da solidão, hoje são reticências...

Nenhum comentário:

Postar um comentário