31 de mar. de 2014

NOITE QUALQUER

em qualquer noite
quando
as almas
estiverem soltas
e os corpos
cansados
deitados
em cama fria
ouvirei
teus gritos
de dor
de lamentação
abrirei
a janela
e ficarei ali
debruçado
sobre outro corpo
cansado
e beberei
no silêncio
de uma noite
qualquer
todas
as lágrimas
que haverá
ainda
de derramar
em qualquer
quando
o peito
sentir
o vazio
ouvirei
teus gritos
e teus gemidos
e verei
escorrer
teu sangue
pelas vielas mal iluminadas
sentirei
o gozo
da verdade
fecharei a janela
e voltarei
a morrer
em tua consciência
vazia

OPACO

minha pele
anda tão pálida
cheia
de nada
falta sol
falta vida
falta alguém
que venha
morda
e que faça de novo
como antes
o sangue jorrar
minha pele
anda
carente
de toques
de beijos
de afagos
não quero nada
que amanhã
suma
nem quero nada
que venha com promessas
de encantos
quero cantos
mãos
que me aqueçam
que façam minha pele
de novo
ter vida
quero beijos lascivos
e um corpo
quente
como o meu
para que a gente
venha
se enrosque
se perca
nas noites em que antes
éramos
apenas
vultos
minha pele
chama
clama
sem vida
sem sol
nem sangue

TE GOSTAR

não te posso
gostar
nem posso
te querer
sonhar
talvez
quem sabe
não posso ir
neste rio
de correntezas
incertezas
não que não queira
melhor
ficar olhando
da minha ilha
de solidão
tudo
teu passar por mim
feito nuvem
de instantes
não te posso
amar
já alguém em meu peito
dona de mim
de tudo
o que em mim

amor
sentimentos
verdades
sabe até mesmo
as mentiras
que conto
e que escrevo
nas minhas horas
de loucura
e solidão
porque sou sim
escravo dos meus sentimentos
não te posso
nada
nem te querer
nem te gostar
não posso
nada

NÃO TE QUERO MAIS

não te quero
como brisa
de ventos incertos
quero viva
intensa
quero poder
ter a certeza
que nunca
mais
não te quero
sonho
de todas
às noites
nem como um delírio
de um bebado
de amores
não te quero
luz
distante
nem mar
imenso
te quero
palpável
sentir teu cheiro
beber
se der seus beijos
e morrer
calmo
em teus abraços
não te quero
apenas
na imaginação
te quero
na certeza
mesmo que depois
tua se perca
e aos poucos
se esmaeça
não te quero
brisa
de instantes
te quero terra
fogo que queima

30 de mar. de 2014

AMORES VAZIOS

tantas
juras
de amor
tantos
amores jogados
amores vazios
cheios
de ecos
sem qualquer razão
amor sem emoção
sem amanhã
muros pixados
bocas
que se beijam
beijos
sem vida
sem razão
emoção largada
em qualquer
banco de praça
amores vazios
cansados
abraços frios
camas vazias
amores
traduzidos
em nada
palavras
que ninguém lê
cartas
de amor
esquecidas
na gaveta
jarras sem flores
amores
vazios

TARDE

deu-me
o corpo
cheia de más
intenções
tarde
demais
para quem já
tinha bebido
neste cálice
de lamúrias
deu-me
sorrisos vazios
e abraços
amargos
deu-me
horas mortas
e azedo vinho
de um beijo na boca
deu-me
as honras
de sepultar
o amor
que era apenas meu
deu-me a tristeza
de tantas
manhãs em que te
procurava
e encontrava apenas
lembranças
de tudo o que já tive
deu-me
vazia
e tarde demais

FUI

fui
me desmanchando
me desfazendo
coração
deteriorando
fui
perdendo
a força
a fé
fui
perdendo minha
razão
me perdendo
num caminho
nunca estranho
fui
sozinho
sem malas
e nem sorrisos
cheio
de tristezas
de dúvidas
de incertezas
não acreditava
mais em nada
não via mais nada
somente
areias
movediças
no caminho
fui
me desfazendo
caindo
me perdendo

AMOR

como pôde
um amor
fazer tanto mal
despetalar
uma alma
calar uma voz
como pôde
uma flor
com tantos
espinhos
sem amor
sem carinho
como pôde
pisar
tanto
esmagar
debruçar
na dor
e sorrir
como pode
ainda
viver
sem culpa alguma
alma suja
imunda
causou tanta dor
roubou
toda paz
como pôde
andar
assim de cabeça
tão erguida
sem nada
sem nenhuma ferida
a ainda sorrir
depois do amanhã
como pôde

PRESO

prenderam-me
num amor
vazio
fizeram-me
chorar
de dor
e desespero
desprezaram
sentimentos
zombaram
das minhas verdades
e deixaram
tudo
jogado no chão
tentaram
tirar
tudo o que havia
tenataram
mudar
meu jeito
de querer
valores
rasgados
era sombra
era errado
queriam palavras
deixaram-me preso
no quarto
vazio
não tinha amor
não tinha cadeira
nem vento
só todos os dias
de noites
intermináveis

TÃO POUCO

tão pouco
que sei
e muito e que sinto
às vezes
e quantas
vezes perdido
nem mundo
de desamores
e desencantos
tão pouco
o que quero
e nem mais espero
todos
estão confusos
correndo
apressados
sem saber
para onde vão
tão pouco
o que sabe
e sentem demais
o que também
não sabem
e assim
todas as vidas
se desenham
nas folhas brancas
de brandas
do destino
tão pouco
quase nada

29 de mar. de 2014

CRIO

crio
meus desertos
minha solidão
crio
minhas chuvas
minhas tempestades
vivo
no meu labirinto
nas minhas ilhas
longe
daqueles que tentam
me ver
e não conseguem
daqueles
que tentam
me entender
e me perdem
daqueles
que querem
ser
partes de tudo
crio
histórias
que adoçam
temporais
entre
uma xícara
de café  e um cigarro
entre uma noite
de amor
e um dia
de transtorno
crio
saídas
que não levam a lugar algum
crio
minhas asas
e algo que me faça voar
dentro da minha gaiola
dentro do meu mundo.

SEMPRE

querem sempre
me prender
me encarcerar
querem sempre
vigiar meus passos
tomar conta
dos meus pensamentos
e guiar meu caminho
querem sempre
mais e mais
de mim e de tudo
o que há mim
as verdades
e as histórias
que conto
nas horas
antes de dormir
querem sempre
minha alma
aprisionada
algemada
amarrada
querem sempre
o amor que tenho
e que é meu
querem
meus olhos
meus dedos
meu riso escondido
como um prêmio
como um jogo
de vencedores
cruéis
e mais insanos
que eu
querem tudo
sempre
e me deixam sempre
jogado
no chão do meu mundo
sujo
infeliz
sozinho
cheio de feridas
que ninguém quer cuidar.

NADA DE MIM

nada de mim
nada do que fui
nada do que senti
talvez
algumas lembranças
nas horas vagas
um desprezo
gostoso
desgosto
nada de mim
do amor
que senti
do bem querer
sem nada querer
do tempo
de todas as horas
talvez
vertigens
talvez nada
nada de mim
dias passados
vidas
apenas
teus absurdos
tuas mentiras
e teus olhos mortos
o rio
ainda corre
em busca
do mar
para se perder
e nunca mais
te achar
nada de mim
nada do que fui
cinzas


FEL

queria crer
que era mel
era
fel que escorria
da tua boca
palavras que ainda
ecoam
pelos ventos
que não sopram mais nenhuma
angústia
quis crer
tu eras
a luz
eras
a escuridão
aflita e
com sede
maldosa
sorrateira
libidinosa
era serpente
que se movia
entre as folhas
do meu jardim
quis crer
que tudo
era verdade
e mentiras
escorriam
pelos olhos
cheio de lágrimas
sem gosto
era absurdamente
escancarada
e fétida
quis crer
no que não via
mulher
que não existia
cobra
serpente
era tudo
menos gente



DECADÊNCIA

amor
de poucos
ouro
do tolos
rua sem saída
monstro
na escuridão
decandência
insanidade que não passa
fúria contida
corpo frio
abismo
tropeço
fadiga
farpa
ilusão de um coração
cheio
de amargura
ficção
história mal contada
arrepio
frio na espinha
amor
pouco
poço seco
deserto
desperdício
amor
corrompido
miséria
alma vagando
no inferno
sem culpa
amor
de poucos
ouro dos tolos
tolo
bobo
eu


O QUE SOU

o que sou
sou um pouco
do vento
um pouco
da ventania
um pouco
da calmaria
sou insônia
sou um copo
de cachaça
sou raso
prato fundo
sou colher
garfo
faca
e sobremesa
o que sou
ainda
é o que fui
inconstante
desafio
frio
e morno
sou a chuva
que cai
na madrugada
que ninguém vê
respingos
na janela
inútil
imperceptível
o que sou
sou um pouco
o muito
cisco
no vento
ventania
na noite fria
lento
cheio de mim
sou o que sou
nada

AGORA

estou curado
de novo
amado
novamente amando
estou
liberto
para sempre
marcado
coração
calejado
tatuado
seco
estou bem
renovado
renascido
descrente ainda
em quase tudo
e vivo
cheio de vontades
e verdades
intaladas
na garganta
foi um câncer
que corroeu
minha alma
estou bem
de novo na estrada
na velha estrada
da vida
vivendo
dos velhos
sonhos que não morreram
buscando
de novo
novos sorrisos
arrancando
do jardim
a raiz
do mal que tentou
roubar
de mim
o que sou

FOI VERTIGEM

foi
foi vertigem
foi desatino
armadilha
do destino
foi traição
dor
humilhação
vale de lágrimas
foi
tudo
e não foi nada
não foi amor
nem paixão
foi caso pensado
mal
mascarado
mulher
de escarros
foi
viagem
miragem
o pior
que há
mal que marca
indescente
incandescente
amor
dos tolos
amor
de quem nunca amou
de quem nunca
nunca nada
bocas secas
cuspidas
mulher
feiticeira
mal
disfarçado
foi vertigem
viagem
passado

DEPOIS

depois
desta madrugada
infinita
dessas dores
que não morrem
depois
dos sonhos
e de todos os pesadelos
há de surgir
um novo dia
ou não
depois
desta tormenta
de um mar
de uma onda só
talvez
haja
novos ventos
novas rochas
onde eu possa me atirar
ou não
depois
que o sangue
secar
e o cheiro
insuportável
de um desamor
tão pequeno
apodrecer
sob o sol
tudo
findará
restará apenas
os ventos
é o cheiro
de mais nada

VENENO


até que todo veneno
saia
ate que tudo
de verdade
fique no passado
não creio mais
em sorrisos
em abraços
em beijos vazios
escassos
até que todo mal
seque
não creio mais
em amor algum
nem em olhares
e nem em qualquer
corpo
estirado numa cama
sem lençois
até que haja
a morte
de tudo
e que toda maldade
não escorra
mais pelas veias
não confio mais
em mentiras
em destino
na vida
à toa
chega de veneno
chega de estupidez
chega de insanidade
quero verdades
rasgadas
cruéis
verdades que não me deixem mais
cair na inércia
de um mal amor
veneno

9 de mar. de 2014

PASSADO



Passou
Sinto que morreu
Acabou
Escorreu pelo ralo
Toda
E qualquer lembrança
Ficaram
As feridas
Não mais expostas
Contidas
Dentro
De um coração
Que bate
Ferozmente
Como sempre
Passou
Toda
Dor doída
Aquele dor
Sofrida
Gostosa
De sentir
Amanheci
Com o coração curado
Renovado
Resnascido
Enfim
Não há mais nenhuma
Dor
Que agora
Doa de novo em mim
Coração aprendeu
Com tudo que passou
Com tudo o que sofreu.
Passou
Como todo passado
Agora
Enterrado
Nos jardins
Por onde não passo
Mais

VERSOS LIVRES



Quero
Te escrever uma poesia
Sem rima
Versos soltos
Leves
Descompromissados
E dizer
O que vejo
Quando te olho
Ai no teu canto
Quieta
Concentrada em seus afazeres
Vivendo
Num mundo só teu
E eu te olho
Pela janela
Que somente meus olhos
Podem ver
E vejo
A flor mais bela, rosa, solitária
E sinto
Ainda que suave
Perfume teu...
Vislumbro
A beleza
Escondida
No traços delicados
Do teu rosto
E viajo
Sozinho
Em pensamentos...
És bela rosa
Formosa
De encantos tantos
Que nem ouso dizer...
Te olho
Da janela que só meus olhos
Conseguem ver...
És por si só,
No silêncio do teu eu,
Poesia.

ANTES



Eu já fui melhor.
Não tinha medo
Das paixões
De acaso
Ia feito avião de papel
Que vento
Nenhum faz voar.
Eu já tive
Coração
De menino
Coração valente
Carente
Hoje
Coração envelhecido
Raquítico
Enfraquecido
Medroso
E como sempre
Ainda carente.
Eu já fui melhor.
Vivia a vida
Sem pedir
Desculpas... abraçava
Meu destino
E bailava ao som do vento
Que sempre ventou
Em minhas estradas.
Hoje,
O que restou
De mim são as memórias
De tudo o que um dia fui,
Ousado,
Moleque,
Amante apaixonado,
Fascinado
E encantado pelos perfumes
Das damas da noite.
Eu já fui
Melhor
Hoje sou apenas
Restos
De tudo o que sobrou de mim...