3 de ago. de 2016

NÓS

desatei
nós
que me prendiam

desatei
laços
que não podia

fique a sós

botões
quebrados em camisas
amassadas
nas esquinas

desatei
alguns nós
e muros caíram

meu
coração
também
se desfez
fio a fio

sem novelos
sem camisa, sem botões
nem laços
nós

ERA NATURAL

era
natural
que me sentisse
hipnotizado
pelas tuas promessas
vazias

era
natural
que teu eu
me seduzisse
por caminhos escuros

era
natural
que me perdesse
em meio
a um desejo que era só meu

era
natural
que tudo
depois de tudo
acabasse

O QUE FICA

as flores
em sementes
que plantei
floriram
há tempos
nos jardins alheios

as poesias
que espalhei
pelo caminho
estão em papéis amarelados
em alguma lixeira
do passado

os amores
que cultivei
mortos
ressecados
descuidados
esquecidos

o que fica
então
depois de tudo

TEMPOS

meus
amigos
de ontem
cresceram

uns casaram
outros devem ter morrido

outros
no entanto
sei lá

eu também
devo
ser sei la
dos meus amigos de ontem

a vida
empurra
nada fica no mesmo lugar

nem casas
nem ruas
lembranças, amigos

NÃO ESCREVO MAIS

hoje
não escrevo
mais
o amor

hoje
não tenho
mais vitalidade
e a persistência inútil
de vida

hoje
não mais creio
na natureza
cruel do amor
de quem
não ama

hoje
não mais
leio os romances
que escrevo

não leio poesias

hoje não mais
vivo mais

despedaço

AMARGOR

busco
na beleza
alheia
os disfarces
para tanta maldade
que escorre
pelas latrinas
desta cidade qua já se foi

onde
estão as flores
quanto
tempo não vejo uma borboleta

crianças
arredias

não há mais
bom dia
nem mais nos rostos
alegria

não gosto
mais
do que não quem não vejo
mais

em todos
amargor

INERTE

tudo
antes me movia
me fazia
correr
voar
querer ir

eu ia
solto
leve
disperso
feliz por estradas incertas
sem rastros
sem pegadas

tudo
antes
me acelerava
hoje
só vejo cinzas voando
por onde já voei
sem deixar rastros
sem deixar pegadas

CHATO

sou
chato
demode
arcaíco

critico
sinico
e ainda assim
amo
detalhes

sou
cercado de
mim
por todos os lados

não sou
um
há muitos em mim

tantas vezes
confuso
e sozinho
nas confusões
que sinto

sou assim
pedaços
despedaçados por ai

cada dia
mais
e mais
e mais
distante de mim

DIAS DE PAZ

vivo
agora
dias de paz

sem ninguém
com dedos sujos
apontando meus caminhos

sem olhos
sem ruas

apenas
sobrevoos
rasos
pela superficie
de cada um que não vejo

vivo
dias
de pão e água
raras
borboletas

e mais nada
dias
e dias
de sobrevoos rasos

VAZIOS DE MIM

gosto
das pessoas
mas não consigo
mais cativá-las

afasto-as

como
sem em mim
houvesse
marcas invisíveis
que já nem tento definir

há um sinal
uma marca

gosto
das pessoas
agora
distantes
em seus mundos
vazios
de mim

2 de ago. de 2016

AINDA SEMPRE

sempre
fui
de ver além

além
dos meus olhos
hoje cansados

sempre
fui de ver além
dos muros
e das minhas janelas

sempre
me projetei
me atirei
em precipícios
rasos demais

sempre
procurei
aquilo que eu já tinha

SE FOR PRECISO

se
for
preciso

eu
imploro
eu
esmolo
me
afogo
me afago

se
for preciso

eu corro
eu fico
eu paro

calo
olho
me dou
retraio

se preciso for
viro io-io



 

VERDADES

fale
a verdade
sobre você
sobre o que pensa
sobre o que sente

e conhecerá
teus amigos

saberás
quem anda ao teu lado

saberás
quem te acompanha
e quem
te empura
abismo abaixo

mostre-se
desnude-se

conhecerás
um outro mundo
além do seu

ERA O JEITO

era
o jeito
de falar
que impressionava

era
como
temporal
que chegava
e arrastava tudo

não era linda
mais
era bela
conhecia
as artimanhas
do poder infimo
de partir corações

era
o jeito
de andar
de se mover

era
o jeito suave
de pousar
sobre todos nós

MENINA

era
menina

ousada
menina

olhava
de um jeito
que em mim
tudo transbordava

era
o pior
de todas as tentações
e meus demônios
gritando

era menina
vestida de mulher

cheia maldade
chia de malicia

era o que não podia ser
e meus demônios
malditos
gritando

SOMENTE EM MIM

te
prefiro
calar a boca
com beijos
beijos
que não te dei

te prefiro
distante
e viva em meus sonhos

te
prefiro ainda
como paisagem
para
possa
te colorir
do meu jeito
e te perpetuar nos quadros
de minha memória

te prefiro
assim
sem existir
e existindo
somente em mim

MELHOR CALADO

sou
melhor
calado

sou
melhor
sozinho

escrevendo
rasgando
poesias

sou
melhor
fora de cena
fora de esquadro
fora de prumo

meu tempo
passou
sou melhor aqui
neste meu labirinto

calado
cheio de tanto pensar
proibido por mim
de amar

PAPÉIS MANCHADOS

insisto
em escrever
em papéis
manchados

insisto
em olhar o céu
e ver
arco-íris
sem chuva

insisto
na mesmice
de procurar sorrisos
em rostos
por ai

ainda
feito tolo
insisto no amor
no pouco
amor
que ainda me resta

como se este amor
pudesse me salvar
de mim

AVESSO

meu antes
era
meu avesso

era amante
era
mais amado

hoje
meu avesso
desbotou

como se depois
de tudo
em mim
ficassem marcas
de tudo o que vivi

hoje
não sou o mesmo
acho que nunca
fui

sempre fui
avesso
sempre ainda no meio fio

velho passado
velho futuro

ACHISMO

nunuca
gostei
de achismo

nunca fui

de incertezas

sempre
me atirei
sem preocupação

sempre fui
eu

e sempre
eu
neste meus
abismos
de nuvens passageiras

sempre
voei sozinho
jamais
achei o chão

nunca foi irreal
nunca foi nada

eu acho...

1 de ago. de 2016

ME FAZ TUA

vem
me cala
a boca

me rasga
a roupa
sem dó

vem
me faz tua
musa
tua puta
menos santa

vem
me beija
rouba meu respirar

me toca
a pele
os poros
meus segredos

vem
ser minha noite
de insônia
minha paz
meu túmulo

vem
sem medo
sem cobrança
sem apego

um só instante
um só momento



NÃO É SÓ SENTIR

não
é só sentir

não
é só
vento

nem só amor

é temporal
anormal
fúria

é instante
tormenta

não é só amar
quem dera fosse

é febre
que dá e passa

é morrer
e continuar vivo

não são somente flores
há em tudo
espinhos

ÁGUAS TURVAS

nadei
em agua turva

nadei
em mares
sem correntezas

flutuei
tentando
me salvar

não me afogar
sobreviver
na imensidão
deste mar
de sentir

nadei
entre rochas
e monstros
da imaginação

sem porto
só caos

SORRISO VAZIO

outro
dia
no outro lado
da rua
vi um sorriso vazio

acenei
como se nos conhecessemos

fez
que não me viu
e partiu

segui
seus rastros
de medo

não mais encontrei
sorriso
algum

estavam todos
ocupados demais
para sorrir

SUTILEZA

sutileza
para amar
para querer
para viver
para se perder

sutileza
para se dar
para doar
para chorar

sutileza
com as palavras
com o sentir
com o ar
com a correnteza
que nos leva

sutileza
nas emoções
nos gritos
na poesia
nas recordações

sutileza com a vida
para que a vida seja sutil com você

DISFARCES

estes
disfarces
estas
máscaras
que cobrem
tua dor
teu coração

somos todos
lobos
disfarçados

caça
caçador
inocentes em nossas
mentiras

vamos
porque queremos ir
nos deixamos
levar
cheios de disfarces

no fim
estamos sozinhos

DESCREVER

palavras
já ditas
malditas

como numa
colcha
de retalhos

como numa noite
sem nada
sem madrugadas

os olhos fechados
o corpo
cicatrizes de nossos acasos

deixo
tudo rasgado
ao lado da lata do lixo

sem coragem
me despedaço
descrevo
o que não sinto

palavras
já ditas
malditas
e de mim
ninguém sabe nada

nem eu

RISCOS

por que arriscar
na vida
tudo
são ilusões

fingir
é mais fácil
há deserto
tudo é miragem

o desejo
cria vertigens

melhor seguir
assim
neste deserto

tudo é ilusão
vertigem
miragem

por que arriscar

RUAS ESTREITAS

ando
por ruas
estreitas

sem vento
sem nada

pedras
cinzas

nada que encante
meus olhos

cabisbaixo
vejo entre pedras
um pequena flor
que seduz

me entrego
ao teu encanto
sem saber do veneno
que na beleza da pequena
se esconde

beleza fugaz
que me mata ali
na rua estreita cinza
sem encanto
sem nada

NÃO FALO MAIS

não
falo mais
de desejos

de vontades
de corpos

não falo mais
sobre nada

parece que estou só
em tudo
o que sinto

parece
meio ilusório
ou vejo tudo
onde nada realmente existe

talvez

não falo mais
não me exponho mais
falas à toa

calado
tudo o que sinto
tudo o que desejo fazem parte
apenas de mim