19 de dez. de 2014

TODOS

todos
são melhores que eu
melhores em tudo
nas relações
na maneira de servir
na maneira
de lidar
com a vida
todos
são melhores que eu
e eu
pior que todos
no jeito de sonhar
no jeito de viver
sem amigos
sem orações
nem abrigos
tentando apenas
e tentando sempre
e querendo
já não sonho mais
nem invento mais
amores
todos
são melhores que eu
brindando
suas sensações
e suas vitórias
cheios de aplausos
e glórias
e eu
perambulando
ainda que triste
feliz
feliz com as sombras
que deixo
nas alamedas
que já não
caminho mais

ESCONDIDO

eu
quero mesmo
é ficar escondido
atrás
dos meus muros
de tantas ilusões
quero
que não me vejam
e não me escutem
quero ficar largado
no meu sofá
onde as molas
estão aparentes
e coloco
sobre elas
almofadas
sujas
de tanta poeira
de mim
eu quero mesmo
é imaginar
a lua
como sempre imaginei
viver minhas poesias
e meus delírios
não quero nenhuma luz
sobre mim
quero viver minhas paixões
e meus amores
e morrer deles
quero mesmo
é ficar escondido
cheio de meus tantos
pensamentos
não quero dó
nem sentimentos
quero apenas ficar largado
no meu velho sofá
olhando
para o nada que restou
de mim

CHUVA DE POESIA

derrepente
sobre mim
uma chuva densa
de poesia
ou de poetas
derrepente
este país de merda
surge como o país
de tantos talentos
de tantos escritores
de tantos poetas
querem todos a mesma luz
querem todos os mesmos holofotes
querem todos
a mesma sorte
a fama
das escritas
derrepente
aquele briga insana
de egos
todos estrelas
de um mesmo céu
eu não leio
nem opino
nem canto minhas glórias
nem meus fracassos
derrepente
sobre mim
todos os amores
traduzidos em versos
tantas histórias
de sucesso
e eu
remando contra a mare
desse rio
sem peixes
à deriva de mim mesmo
derrepente
pilhas e pilhas
e montes
de livros
poetas
e poesia
e eu derrepente
sobre mim

16 de dez. de 2014

AMA

ama
teu amor
o amor
que sabes
amar
ama
teus dias
tua sorte
teu eu
ama
quem está próximo
quem caminha ao teu lado
ama teu destino
teus passos
tua morte
ama
teu amor
ainda que na dor
ama
tuas memórias
teus livros
teus retratos
ama
quem tu és
ama
tua vida
tuas melodias
teus medos
ama teus dias
ama
teu amor
 

IMAGINEI

imaginei
o amor
assim
cheio de sorrisos
cheio de malícia
imaginei
dias de sol
e no fim da tarde
um garoa gostosa
imaginei
flores
abertas
todos os dias
e sorrisos
que faziam
qualquer corpo
levitar
imaginei
que abraços
preenchiam
que fazer amor
que propriamente amar
imaginei
dias assim
dias
de saudades
de falta
imaginei
o amor de filmes
o amor de versos
esqueci
que o amor
não de mentira
o amor
era sempre
amor de verdade
amor real
de dias nublados
de chuvas
de trovões
e de um sol
que ainda aquece

MUITA GENTE

tem gente
muita gente
que acha que me sabe
que acha mesmo
que me conhece
conhece
o sinto
o vivo
o que falo
o que faço
tem gente
que tenta
me traduzir
que tenta
me seduzir
me encantar
me deixar leve
me fazer voar
não voo mais
nem corro mais atrás
perdi
o encanto
abri meus olhos
aprendi a ver
tem gente que ainda pensa
que sabe
tudo sobre mim
não sabe
mentiras
para mim são verdades
hoje
me calo
muita gente
pensa
muita gente
não sabe
 

TEU JEITO MULHER

amo
teu corpo
amo
teu calor
quando me abraça
e teu cheiro
doce
amo teu perfume
tua boca
molhada
amo tuas pernas
tuas coxas
amo teu beijo
teus afagos
teus carinhos
amo
o som da tua voz
teus sussurros quentes
amo
teus toques
e quando me deixa
indefeso
amo
o amor
que me dá
amo
teu ressonar
tua fome
teu jeito mulher
amo
teus receios
e tuas preocupações
amo
nossos dias
nossos anos
e a dor que suportamos juntos
amo você
no silêncio
gostoso de nós

 

PENSEI

eu pensei
que todo amor
fosse igual
que todo corpo
fosse
igual
em todos os sentidos
e sentimentos
eu pensei
que podia
ser o que não era
o príncipe
encantado
o poeta
de uma poesia apenas
eu pensei
que podia
voar por ai
e pousar
cansado
nos seios
de um peito vazio
eu pensei
que todo amor
fosse o mesmo
que todas as lágrimas
fossem iguais
e que toda
dor doía do mesmo jeito
intensa
eu pensei
que podia
mergulhar em oceanos
rasos
e não morrer
pensei
que podia
e não pude
 

MINHA CABEÇA

minha cabeça
dói
meus braços
minhas pernas
e joelhos
minha alma
meus arranhões
dói
a falta de verdade
a injustiça
meus pés descalços
na calçada
minha cabeça
dói
meus gritos
calados
meus sonhos
planos
sinto minha mãos inchadas
sinto minha boca
amarga
sinto um peso
acendo um cigarro
encho o copo de fel
caminho pela casa
na escuridão
sombria
de minha alma
e dói
minha cabeça dói
meus braços
joelhos
e meus pecados
 

INOCÊNCIA

eu amava
essa inocência
essa inocência
gostosa
das crianças
eu amava
escrever
tantas mentiras
e me sentir
o rei
de um castelo
eu amava
passear
e voar
amava amar
amava
eu amava
crer
amava acreditar
nas ilusões
de sorrisos falsos
de abraços
vazios
eu amava fingir
que não sabia
que não via
nem sentia
eu amava o que eu era
quem eu fui
e amo ainda
mais
agora quem sou
eu amava
a inocência
dos versos
indecentes que o poeta
mentia

NÃO FALO MAIS DE MIM

não falo mais de mim
não valho à pena
disfarço
meu rosto
raspo meu cabelo
escondo sentimentos
nada em mim
interessa
não falo mais
por onde andei
quem amei
quem esqueci
eu me esqueci
e me afugentei
não falo mais de mim
meu eu não interessa
a ninguém
me disfarço
de instantes
camuflado
entre as folhas verdes
de um jardim
sem terra
me escondo
me refaço
não falo de mim
pra ninguém
ninguém merece meus pecados
ninguém merece
minhas preces
minhas preces
meu perdão
meus pedidos
meus braços abertos
não falo mais de mim
e assim
deixo de existir
e assim
me esquecerão ainda mais
cada dia
um pouco mais

RASCUNHOS

rascunhei
num papel
amassado
o amor que tanto sonhei
rascunhei
com palavras
e versos
o amor mais sincero
que a vida me deu
rascunhei minhas verdades
meias mentiras
um pouco de mim
rascunhei
sorrisos
e abraços
e beijos que nunca dei
num pedaço
de papel amassado
amarelado
pelo tempo
que não vivi
rascunhei
o corpo
cheio de cicatrizes
e marcas
e manchas
machucados
feridas expostas
rascunhei
tudo aquilo
que um dia
pensei que seria
e não foi
e o papel o vento levou
e meus rascunhos
perdidos
com o vento
que o vento levou

VAZIO


um vazio
em tudo
em todos
nas ruas
nas avenidas
nos sorrisos perdidos
na pressa
na vida
na poesia

um vazio
de Deus
vazio na fé
na alma
escancarada

um vazio
perdido
nas crianças
nas mulheres que amam
e no amor
que se foi
há tempos

um vazio
nas estações
nos dias
do ano
nos abraços
nas horas perdidas

um vazio
em tudo
em todos
nas rosas
nas roseiras
nos espinhos

5 de dez. de 2014

LIVRE

enfim
esvaziei
meu peito
sinto
o coração
vazio
desintoxicado
livre
enfim
sinto-me como antes
retomando
meu caminho
depois de tantos
anos
perdidos
enfim
me acho
liberto
liberto de mim
das minhas teorias
sem sentido
enfim
volto
a voar
e viver meus dias
como sempre
livre
do veneno
cheio do meu amor
de sempre

CAMA VAZIA

quero
meus sonhos
acordados
a cinco da manhã
quero
encontrar
tua cama vazia
e saber
que teu corpo
anda
gelado
não quero mais
sonhar
dormindo
sonhos
assim
não valem nada
quero poesias
cantadas
em bocas vestidas de
sorrisos
quero
verdades
quero quem goste
de poesia
de romance
do gosto
doce da paixão
quero de volta
meus sonhos
quero sonhar
acordado
encontrar tua cama vazia
e teu coração
despedaçado

MINHAS TARDES

quero
de volta
minhas tardes
de paz
onde andava
por ai
sem nenhuma cruz
sem nenhuma culpa
livros
relidos
sem memórias
quero
de volta
meus dias
iguais
minhas rotinas
meu amor
que perdi
antes
eu corria
por alamedas
imaginárias
quero de voltas
minhas poesias em guardanapos
em papéis
de acasos
quero andar por ai
eu
em companhia
de mim
eu e meus pensamentos
e minhas alegrias
e minhas tantas loucuras

NÃO MAIS

teu batom
vermelho
teus seios
teu jeito
de mulher
à toa
tuas palavras xulas
tua mente vazia
teu coração
que borbulha
tuas mãos inquietas
tuas pernas
tuas coxas
virilha
teu sexo
tu és
ilusão
pecado
minha derrota
meu ponto fraco
agora eu sei
não quero mais
me perder
onde eu me acho
não quero mais
andar
por ai descalço
as pedras do teu caminho
não vão mais
me machucar
tua boca
maldita
teu coração estupido
vazio

GUERRA

voltei
da guerra
sem alma
sem coração
sem sentimentos
voltei
com o corpo vazio
de coragem
sem malas
sem bagagens
apenas
com minha cruz
e minhas histórias
voltei da guerra
e só agora
eu sei
todo mal
que a guerra me fez
quanto perdi
e como me perdi
em meio
ao meu caos
me vendo morto
a todo instante
voltei da guerra
sem alma
sem terra
com braços abertos
a minha espera
voltei ferido
vivo
despedaçado
corpo vazio
sem alma
sem amor
sem sentimentos

FLORES

as flores
desse jardim
já não mais me atraem
vejo apenas
seus espinhos
não sinto mais
o doce
perfume
que me encantava
as flores
murcharam
e já não mais
encanto
que me faça querer
viajar
em sonhos
que não são meus
já não mais
nada que me iluda
nada mais
que eu não conheça
as flores
desse meu jardim
morreram
secaram
ficaram apenas
suas pétalas
jogadas
e seus espinhos
em minhas mãos calejadas
não há mais perfume
nem encanto
que me seduza
e que mate
o que já morreu

DEMÔNIO

fui
ao inferno
voltei sem asas
sem inspiração
sem amor
deixei
o melhor de mim

com meu demônio
para que ele não
se esquecesse de mim
e eu
me lembrasse
sempre dele
fui
ao inferno
do amor
conhecer
seu lado escuro
seu lado podre
seu lado mal
e conheci
e bebi
suas águas
e chorei todas as lágrimas
abracei
meu demônio
e confessei
a ele
meus pecados
e deixei
lá no inferno
meus monstros
meus pássaros
meus pesadelos
e voltei
para minhas nuvens
para minha terra
de certeza
voltei com a certeza
que jamais
iria esquecer
o inferno
e o inferno jamais
esqueceria de mim

MERGULHAR

era preciso
mergulhar
no meu abismo
particular
eu precisava
admitir
que havia
ainda veneno
em mim
eu precisava
entender
minha morte
entender
que perdi minha sorte
e que briquei
demais
com a vida
que vivia
era preciso
entender
a dimensão do meu erro
entender minha culpa
pedir
desculpas
e sair de mim
daquele meu estado
inconsciente
e admitir
que o erro foi meu
que a culpa foi minha
que o abismo
havia engolido meu eu
perdi todo sangue
o que corria em mim
era só
veneno

26 de nov. de 2014

ANTES

antes
de morrer
é melhor
matar
é melhor
deixar
é melhor
esquecer
antes
de viver
é preciso ver
olhar
aprender
a entender
o que há além
antes
da dor
a poesia
depois da dor
lágrimas
esquecidas
antes
do que passou
tua história
depois
memórias
para sempre vivas
antes
de matar
é preciso morrer
algumas vezes
antes do amanhecer
a noite
depois da chuva
a serenidade
antes
de mim
o que era
o que fui
 

QUANTAS VEZES

quantas vezes
se morre
para que enfim
a vida
aconteça
quantas vezes
é preciso
chorar
lágrimas de sangue
antes
que o amor
encontre a gente
carente
depedaçado
entregue
ao caos
a dor
quantas paixões
dilaceram
o pobre peito
o infermo
coração
de tantas angústias
quantas
chuvas
até
que venha novo sol
quantos ventos
quantas vezes
hei de acordar
até acordar em mim

18 de nov. de 2014

NÃO MAIS

não mais
não brinco mais
com o amor
não brinco mais
de amar
amor
é veneno
nas entranhas
faz crescer
faz voar
depois
atira
seus dardos
mortais
e faz
despencar
não mais
não brinco mais
com o amor
o amor
é ilusão
dos homens
sua fraqueza
sua desculpa
sua corrente
escravidão
o amor
é morte
sem cura
sem perdão
não mais
não quero mais
nenhum amor
todos os amores
são imbecis
venenos
na corrente sanguínea
dopa
mata
faz de nós
cinzas
que o vento não leva

FOI O AMOR

foi
o amor
que matou
o bom do dia
a noite quente
o verão
que me aquecia
foi
o amor
que desfez
minhas malas
e minhas ausências
foi
o amor
que encheu
de tristeza
minhas alegrias
e me mandou
embora
de mim
foi
o amor
que acabou
com o amor que
havia
foi o amor
que dilacerou
minhas paixões
e meus sonhos
foi
o amor
que me matou
e me empurrou
ladeira
abaixo
foi
o amor
que me prendeu
que me escravizou
que me roubou
que me matou

DESERTO

és deserto
onde as mãos
cansadas
já não alcançam
és a solidão
ainda que transparente
indolor
dor
és amarga
não há
nada
em ti
és vazia
cheia
de um fel
que não me encanta
canta
sua dor
ainda pelas esquinas
que andas
jogada
és a renúncia
o descaso
amargo
és o perto
precipício
és deserto
areia
que seca a boca
que cega os olhos
és vento
que não sopra mais
em mim

ONDE ESTOU

onde estão as ruas
e as avenidas
onde as pessoas
que andavam
machucadas
pela vida
onde estão os bancos
e as praças
e as crianças
os velhos
o destino
a vida
onde estão os amores
as paixões
e as raízes
que não me deixavam
voar
onde estão as histórias
as noites
minhas madrugadas
quantas vezes
perambulei
por ai
à toa
sem nada sentir
sem nada querer
olhando
os becos
as vielas
as putas
sentia-me vivo
sentia-me parte
de um nada que não era meu
onde estão
onde estou

SEM MIM

estou
sem mim
sou apenas sombra
do que fui
estou vazio
com o corpo dolorido
estou estirado
na cama
de uma consciência
suja
e pesada
estou
a beira
de um colapso
me sentindo
sujo
me sentindo
vazio
me sentindo
a deriva
de todos os meus sonhos
e desejos
já não sonho mais
sou apenas
sombra do que fui
estou sem mim
sem sonhos
sem vida
cheio de tudo
e vazio
vazio de tudo o que não mais
me sustenta

TENTANDO

estou tentando sair
não consigo
estou preso
em minhas memórias
estou querendo
viver
minha vida
minhas horas
minhas poesias
estou tentando sair
correr
pelo meu mundo
de encantos
tantos
já não sei mais
se consigo
me achar
já não sei mais
se consigo
me ter de volta
quantos sorrisos
engoli
quantas
lágrimas
sem sentido
quanta dor
por nada
e agora
eu
aqui
preso em mim
tentando sair
tentando
reviver

AQUELE MONSTRO

aquele
monstro dentro de mim
que grita
e insiste em sair
fica
em meus sonhos
em meus dias
de tormento
em minhas horas
que não passam
aquele
monstro dentro de mim
que me deixa
insensível
com a vida
que tento viver
e se despedaça
antes de tudo
antes das madrugadas frias
aquele
monstro
que me deixa
feio
que me faz
calado
e triste
aquele monstro
que não some
que não evapora
e que insiste
em matar
o melhor de mim
aquele sufoco
aquele nó

10 de nov. de 2014

COMO SEMPRE

eu ainda amo
amo como sempre amei
amo a vida
amo meu tempo
amo o que vivi
amo os sonhos
que sonhei
amo a história
que escrevi
amo as pessoas
que não me esquecem
amo as pessoas
que passaram
por mim
todas tiveram
de algum modo
importância na minha vida
amo
o sol
a noite
amo
da mesma maneira
o amor
está em mim
como a poesia
para os poetas
amo
meus instantes
ainda que me sinta

ninguém
é eterno
cada um segue seu caminho
e cabe
a mim
seguir o meu
amando
como sempre ameui
sem razão
sem motivos
amar já basta

MEUS OLHOS

olhe
em meus olhos
e sinta
talvez
o que sinto
já não há mais
lágrimas
a dor
há tempos
deixou
de doer
os pés estão cansados
os corpo
endurecido
coração
já não sente
quero apenas
que o dia acabe
que não falte
o pão
a água
e minhas histórias
olhe
meus olhos
não há mais
reflexos
nem sentimentos
sentimentos
são ilusões
que nos matam
aos poucos
o amor
é veneno
que faz a vida valer à pena
ou não

AINDA

decepções
todas
em mim
nos sonhos que tive
na vida
nas limitações
humanas
no descaso
no amor
na paixões
que me jogaram
no chão
nas histórias
que me contaram
na vida
que tive que viver
alegrias
algumas
quando descobri
quem eu era
meus filhos
a mulher que amei
a mulher que me amou
as pontes que construi
e os muros que derrubei
as crianças
que ainda hoje
sorriem
pra mim
esperanças
sim
que ainda haja muitos
amanhãs
que o sol
continue me esquentando
e que eu possa
antes de tudo
abrir meus olhos
e sentir
que ainda estou vivo

ACREDITEI

acreditei
no amor
e me machuquei
acreditei
nas pessoas
e me feri
acreditei
no tempo
e minhas feridas
continuam ali
expostas
acreditei
em sorrisos
e lágrimas
rolaram
caladas
acreditei
em Deus
e fiquei sem respostas
hoje
não acredito
mais em nada
perambulo
por minha existência
até que chegue
o fim
em mim
apenas uma esperança
que a morte
também não me decepcione
ainda
creio que somente
ela
é a verdade

6 de nov. de 2014

MAÇÃS

quando
eu era
criança
eu sonhava
ser um príncipe
queria
morar num castelo
e salvar
todas as belas princesas
ai
cresci
e queria
me salvar
das princesas
e de seus encantos
hoje
sou velho
com filhos
e netos
espalhados por ai
princesas?
tive muitas
princesas
rainhas
ou simplesmente mulheres
e todas com
centenas de maçãs
enfeitiçadas
eu comi
um pedaço de cada maçã
por isso
estou aqui
ainda
esperando a morte
que não vem
tendo que conviver
comigo
e com o gosto amargo
do veneno de cada maçã
que mordi

Foto by Lee Jeffries

FRANCISCO

seu eu chamar
moça
quem é que vai
me ouvir
ouvir
o que eu tenho
pra contar
por isso
eu bebo
bebo pra me aquecer
bebo pra esquecer
quem um dia
eu fui
e não se esquece
que fomos
o passado
machuca
é a pedra do sapato
que não se tira
então moça
quem é que olha
pra mim
sou o que ninguém
quer ver
aquilo
que incomoda
quem é que iria
escutar
as poesias que escrevo
ouvir
minhas histórias
meus delírios
quem se importa
em saber quem fui
quem sou
muito prazer moça
meu nome
é Francisco

Foto by Lee Jeffries

NÃO EXISTO

quem sou eu
sou sem nome
sem passado
sem história
sou o esquecido
o incomodo
a ausência
sou a solidão
a tristeza
os dias
de saudade
quem sou eu
flor que não abre
que morre
esquecida
em solo
ressecado pelo sol
sou fadiga
o cansaço
a solidão que incomoda
sou o álcool
a droga
o pior que há
sou o desamor
a descrença
o pesadelo em noite
de lua cheia
quem sou eu
alguém que você não vê
alguém que não existe
pra você

Foto by Lee Jeffries


DE ONDE VEM

de onde
vem a dor
aquela dor
que rasga
o corpo
que dilacera
que faz lágrima cair
de onde
vem e porque
vem assim
o sofrimento
talvez
venha no vento
montado
nas costas
de um cavalo alado
vem pra marcar
pra deixar
em frangalhos
as almas
que vagam por ai
por que a dor
dói assim
nas noites mais frias
e mais escuras
nos becos
e nas ruas
talvez
venha de todos
os maus amores
das paixões
das desilusões
e de todos os sonhos
desfeitos

Foto by Lee Jeffries


TEM GENTE

tem
quem sofra
calado
quem não comente
a dor que sente
e sente só
suas dores
que castigam
a alma
tem gente
que abraça
a solidão
e veste
de luto sua alma
e ninguém vê
e ninguém repara
tem gente
que anda por ai
à toa
buscando nada
por tantas ruas
sujas
empoeiradas
tem gente
que a gente não vê
faz que não vê
que não entende
tem gente
que morre
como indigente
sem casa
sem ninguém
só a terra
e os dias que ficaram

Foto by

Lee Jeffries



4 de nov. de 2014

LARGADO

deixaram-me
no passado
deixaram
minhas roupas
minha história
meus desejos
minhas vontades
deixaram-me
sem querer saber
como me sentia
se sentia
o que pensava
o que queria
eu ainda sinto
velho
mais ainda sinto
sinto
pelos dias que se foram
sinto
pelos filhos
pelos amigos
pelo amor
que perdi
deixaram-me
num canto
como objeto velho
e sem uso
estou velho
e ainda
corre sangue
em minhas artérias
e já não choro mais
pelos dias
que virão
todos já fazem
parte do que jamais
viverei
agora
esquecido
largado
abandonado

Foto by

Lee Jeffries


OLHOS

olhos
pra que
pra ver tanta maldade
pra ver um mundo feio
desumano
olhos
pra que
tenho na memória
tudo o que amo
as pessoas
que amo
tenho na memória
o brilho
do sol
a cor da lua
olhos
pra que
para ver
pessoas que amo
indo embora
e me deixando
sozinho
esquecido
não quero ver
já não vejo
tenho tudo que amo
guardado
em mim
e um dia
haverá meu fim
e o fim de tudo o que vivi
e quem sabe
assim
meus olhos
enfim voltem a enxergar

Foto by

Lee Jeffries

SOL

a vida
me fez assim
deturpou meus sonhos
distorceu minhas verdades
e fez de mim
mais um
de tantos pedaços
a vida
me moldou
como bem quis
sem me perguntar
sem me dar chance
de escolher
me empurrou
ladeira
abaixo
e eu rolei
esqueceram de mim
esqueci de mim
sem passado
sem identidade
mais um padaço
entre tantos
esquecidos por ai
a vida
fez o que sou
sou o sol
que jamais se põe

Foto by

Lee Jeffries

VIDA

não sei
o que sentir
tudo dói
dentro de mim
não vejo
alegria
desconheço
a felicidade
desejo
a morte
e o fim dessa
agonia
não sei
de nada
não conheço
a vida
sempre
andei por ai
invisível
aos olhares
alheios
pés descalços
olhar perdido
implorando
por nada
que não seja de verdade
há tanta dor
em mim
que viver
já não me encanta mais...

Foto by

Lee Jeffries

3 de nov. de 2014

AGORA

agora
estou aqui
sem acreditar
em quase nada
sem nenhuma paixão
sem nenhuma crença
descrente
no amor
descrente
nos planos que fiz
agora
fico
andando pela casa vazia
recolhendo
meus pedaços
tentando
ainda
me refazer
do estrago
agora
sigo
por um caminho
sem destino
sem saber
o que fazer
e o que pedir
andando
de um lado
para o outro
nesta casa imensa
agora
fico aqui
lembrando
de tudo
de como pude
ser tão volúvel
e ter me permitido
tanto
deixar
que o mal
tomasse conta de mim
agora
fico assim
cada segundo mais velho
apodrecendo

SEM AMOR

sem amor
não existe paixão
não existe poesia
nem razão
nem calor
só frio
só solidão
sem amor
não há amanhã
não há por do sol
nem lua
nem fé
sem amor
não somos mais
do que sombras
ecos
vazios
sem amor
não existimos
e ainda assim
quantos
fingem
que amam
um amor que desconhecem
um amor
que mata
que entristece
sem amor
só há vazio
só há corações
e almas
e mais nada
sem amor

BURACO

seu eu pudesse
me escondia
de mim
do mundo
do tempo
seu eu pudesse
eu virava
bicho do mato
sem passado
sem presente
e sem medo
do futuro
viveria num buraco
bebendo
água da chuva
deixando
que lua
cobrisse
meu corpo
nas noites frias
se eu pudesse
esquecer
quem fui
meu presente
seria melhor
então vivo
olhando minhas cicatrizes
e o tempo
que passou
se eu pudesse
viraria bicho do mato
viveria num buraco
sem pensar
sem me preocupar com nada

30 de out. de 2014

E AGORA

e agora
silencio
meus monstros
meus demônios
minha voz
e como se tudo
dentro de mim
tivesse
sumido
ou se calado
ou...
e agora
fico
na minha inercia
na minha realidade
deixei
passar
as paixões
e poesia
virou
passado
e agora
sigo
para o fim de mim
para o fim de nós
para o fim que é certo
preciso
não quero mais
saber o que passou
o que senti
nem o que vivi
o segundo passado
já não me interessa
mais
o que eu escrevi
ficou para trás
e o que aprendi
é que o passado
é o lixo que restou de mim

POESIAS


o amor
mudou meu eu
não vejo mais poesia
nem sinto mais a mesma paixão
que eu sentia
agora
quero
estar sempre sozinho
agora
quero curtir um silêncio
infindável
o amor
aquele falso amor
derrotou
o que havia de melhor
em mim
e agora luto
e agora
todos dias são guerras
intermináveis
onde tento
me fazer renascer
das cinzas
que o vento levou
o amor
aquele amor inventado
fez de mim
o que não sou
e agora
não vejo mais poesia
em nada

TEMPO

o tempo
engole o próprio
tempo
e agora
pessoas correm
apressadas
atrás da vida
que perderam
atrás
dos amores
esquecidos
atrás
dos amigos 
que partiram
o tempo
engole
cada história
e transforma
o hoje
no agora
no instante
que se perde
há sede de vida
há sede de viver
e todos
ficam perdidos
correndo
atrás do próprio rabo
feitos
animais
sem faro
o tempo
engole o próprio tempo
e nos faz ainda
mais 
insensíveis
diante da vida
que grita 
a morte que se aproxima

24 de out. de 2014

DE COR

conheço
todos os meus medos
todos os meus demônios
conheço
meus pecados
e minhas fraquezas
meus caminhos
minhas voltas
reviravoltas
meus arco-íris
conheço
quem me anda
quem me segue
conheço
minhas pedras
minhas falhas
meus erros
minha intolerância
conheço
cada marca
do meu rosto
cada dor
que senti
e porque
senti tanta dor
conheço-me de cor
de cor
preto e branco
jamais
colorido