7 de jul. de 2017

MINHA INÊRCIA

agora
só penso
em desculpas
para não fazer nada
quero
ficar
deitado
coberto até os olhos
não quero pensar
nem sentir
quero apenas
viver meu silêncio
e o direito que tenho
de ficar na inêrcia
agora
só penso
em desculpas
para ficar
neste meu inverno
sem pensar
sem sentir
vivendo meu silêncio
e o direito
que tenho de ficar
na inêrcia

AINDA PASSAREI

sou desfeito de sonhos
de expectativas
de promessas inacabadas

sou desfeito de amores
que não deram certo
de paixões escusas

sou desfeito
de palavras
de um mal uso de mim

sou torto
pálido
morto
já não sei mais
quem sou

ando
apático
abatido
sem fôlego

tentando sobreviver
sob os holofotes
desta vida
sob o olhar impiedoso
de Deus

sou desfeito de crenças
de valores
e minhas convicções
agora
rasgadas
como folhas de um caderno rabiscado

sou o que passou
e o que ainda
passará

- Eduardhus Poetry II

O AMOR QUE FOI

o amor que foi, já não é mais amor...
perdeu-se nas tristes ilusões
do não amar
e o que era simples
prazer
amar
hoje é descaso
num peito sem coração

CANSADO


estou cansado
de me sentir
feito robo
cada dia
mais alienado
deixando morrer
tudo o que sou e tudo
o que posso ser
o tempo
cada dia mais
engolindo
minha vitalidade
não tenho óleo
em minhas veias
tenho sangue...

estou cansado
de repetir
mil vezes
as mesmas frases vazias
e servir
de tapete e escada
a escória
cada vez mais viciada
em não fazer nada
almofadinhas
hipócritas
que se regogizam-se
pela soberba
falsa
não são nada
nem diferentes
de mim
estou cansado
de servir
a uma causa que não é minha
e ver cada vez
mais os meus sonhos
mortos
em mim...

5 de jul. de 2017

LIVRE DE MIM

agora
sigo
sem dores

fiz
tudo
como sempre
e
como sempre
pequei
pelos meus tantos excessos

agora
sigo
de malas vazias
de peito aberto
sem rancor
sem mágoa

livro
novo
de páginas em branco

agora
vou
sem culpas
e sem pecado
livre de mim
e livre de tudo em mim



NÃO ME CHAME MAIS

não
chame
mais
meu nome
em teus sonhos

não
me queira
mais
na tua cama
de lençois
desfeitos

não serei
mais
aquele que sacia
tuas carências
mesmo
que eu queria
não vou mais

me jogar
em teus braços
e nem mais me perder
nos teus beijos lascivos

não
quero mais
ser teu escravo
submisso deste amor

não posso mais
mesmo que eu queria
mesmo que meu corpo
também peça teu corpo

me deixe
por favor
fora dos teus sonhos

TUAS ENTRELINHAS

pensei
em te escrever
todos os dias
uma poesia
mas tuas
entrelinhas
são tão claras
que me calo
te deixo
fecho as janelas
não rego
mais tuas flores

vou
te deixar
não há mais nada
que possa fazer
se nem minha amizade
te interessa
não há mais
nada em ti
que eu possa querer de ti

horas findam
amores findam
paixões morrem
pessoas virão lembranças
e as lembranças
desaparecem

tuas entrelinhas
acabaram
com minhas reticências
e colocaram
em tudo
ponto final

À TOA

tem
tardes
que gosto
de ficar à toa
pensando
nos meus tantos "e se"
e se eu não tivesse ido
e se eu tivesse ido
falado
pensado
escrito
amado
deixado
brigado
sentido
abraçado
beijado

tem
tardes
que gosto
de ficar assim
pensando
em tudo
ao contrário
como teria sido
"se"

vejo
o cigarro
que não fumo
queimando
no cinzeiro

vejo as unhas
que não crescem

vejo
o pó se formando
na estante

e meus pensamentos
nestas tardes
em que fico à toa
me deixando
levar
pelos meus tantos "e se"

4 de jul. de 2017

TEMPO

o tempo
roubou
tudo de mim

destruiu
meus sonhos
e minha capacidade
de sonhar

roubou
amores
e minha capacidade
de amar

roubou
minha juventude
minha sagacidade
minha coragem de ir

o tempo
me deixou
ali parado
enquanto corria
em minha volta

arrancou flores
do meu jardim
podou
toda minha crença

mudou meu rosto
meu corpo
e todo meu eu

o tempo
me roubou de mim

VELHAS POESIAS

agora
estou aqui
vivendo só
entre tantos
papéis em branco

em alguns
rascunhei nomes
em outros tantos
pedaços
de manchados
de histórias

agora
estou aqui
envelhecendo
mais rápido do que merecia
cheio
de histórias mal resolvidas
calado
olhando
pelas frestas da minha janela
fechada

solitário
envelhencendo
entre estes velhos
papéis amarelos
cheios de poesias
nunca escritas

MAIS DO QUE AMADO

eu já fui
um desbravador
um aventureiro

mais do que
amado
fui amante

eu já fui
melhor
hoje sou apenas
vestígio

tenho em meu coração
segredos
que deixo
ali
adormecidos
em meu silêncio

já andei por mundos
fui vento
sol
noites e tantas madrugadas

fui mais do que amado
fui amante

VELHO RETRATO

nunca
te vi

nunca
nos falamos

apenas
um retrato
uma velha fotografia

e tantos
ideais
e tantos sonhos
poesias
palavras
desejos

essa porra de mente
insana
que desenha
além de tudo

que vislumbra
sub-mundos
que me leva onde não quero ir

ando na contramão de mim
arranhado
machucado
distantes da minhas verdades
por uma voz que não há
por uma fotografia
por um velho retrato

DOR ALGUMA

não gosto
da dor
de dor alguma
seja de amores desfeitos
de mordidas

não gosto
da dor
de dor alguma
seja na despedida
nos arranhões
tropeços
ou na morte

dor alguma
me faz bem
dor alguma sacia
minha necessidade de vida

a realidade
já me machuca demais
a realidade
já assombra
demais meus sonhos
e isso dói

e eu
não gosto
de dor alguma

QUERIA TEU CORPO

não
eu não queria
teu amor

queria
apenas
teu corpo
como o mais proibido
pecado

queria
matar
minha sede
e este meu desejo

nada mais
de ti
queria
apenas matar minha fome
e acalmar
entre tuas coxas
meus instintos

não queria
nenhum amanhã
e nem telefonemas
e nem recados
e juras de amor
nem poesias
nada

queria apenas
teu corpo
e a sensação vazia que por um
instante
seria minha

NÃO VOU MAIS

não vou
mais
a lugar
algum

não quero mais
abraços
despedaçados
e beijos
ocos
e sem sabor

não quero
mais desejos fúteis
e um amor
de instantes

não vou
mais
me arriscar a caminhar
os mesmos
passos
e andar
de novo pelos mesmos
caminhos

não vou
mais
quero ficar
onde estou
onde escolhi estar

ESFINGE

tu
és
esfinge quebrada
aquela
imagem
se idealiza
num momento
de insanidade
desejo
que vem e morre

tu
és
momento que passa
nada de ti
fica
apenas
fragmentos
deste sonho
que se desfaz

tu
és
delírio
estado de torpor
embriaguez
batalha que não se luta
guerra desnecessária

tu
és
nuvem
num dia de sol
a despedida
o regresso
o adeus

ESCONDIDO

às vezes
e por tantas
vezes
é preciso
se esconder
de nós
dos nossos medos
dos nossos desejos
da nossa vontade de querer
dos nossos sonhos
dos nossos demônios
ficar ali
camuflado
deixando que a vida
passe por nós
sem nos ver
sem nos tocar
às vezes
é preciso
mudar de face
mudar de vida
se calar
ficar ali
entre os cacos quebrados
sem gritos
em silêncio
às vezes
tantas vezes
é preciso mentir
mentiras que não são nossas
e fingir
sempre
que está tudo bem
para que assim
o mundo nos deixe em paz

JANELAS FECHADAS

estou
fechando
minhas janelas
enfim
estou dizendo
o adeus
que por tanto tempo
resisti
em não dizer
já fiquei
tempo
demais
olhando
tudo de cima
deste muros destruido
ainda resta
em mim
coração
ainda resta
em mim poesias
e porque devo eu
querer dá-las para
quem não sabe ler
estou indo embora
não há mais o que fazer
fiz as malas
fechei minhas janelas
e te deixei
ai
exatamente onde sempre ficou