25 de out. de 2016

TEU NÃO QUERO NADA

teu
não quero
nada

conheço
tuas artimanhas
e teus pecados

teu
quero
distância

já bebi
teu veneno
já comi
do teu pão

teu
aprendi
a dizer não
quando me pedes

fechei
as portas
e as janelas
escureci
meu quarto
me deitei na cama
e não chorei

no fim
de ti
sorri

ESCREVO

eu
não penso
escrevo

eu
não sinto
escrevo

deixou
fluir
sem peso
e sem culpa

sem ler
meus devaneios
escrevo

a alma dita
e eu
escrevo

sem nexo
sem rima
sem querer nada
eu apenas
me deleito
e escrevo

em paredes
em branco
em papéis
de pão
em guardanapos sujos

eu
escrevo
como quem fuma
um cigrro
que depois
vira cinza no cinzeiro

não penso
não sinto
escrevo

TE QUERIA

eu
queria
ter corpo
meu

queria
tocar tua pele
os mamilos
rigidos
dos teus seios

queria
beijar
teu ventre
beber a saliva
de tua boca

eu queria
estar em você
sem pressa
m fundir
e sermos um

eu queria
por um momento
ser teu
no chão da sala
em meio as almofadas

eu queria
você nua
numa cama
de desejos

eu queria
teus rios
e tuas tempestades

MAIS NADA

bom
quando
o que é saudade
vira lembrança

e a lembrança viva
aos poucos
se apaga

como fotografia
que vai amarelando
como papel
amassado
num canto

bom
quando a alma
vai crescendo
bom
sentir o desapego

bom
quando não resta
mais nada
e a alma
livre e resignada
pode andar por ai
sem medo

bom
quando tudo o que foi
não é mais nada

ESPAÇOS VAZIOS

ocupei
em mim
todos
os espaços vazios

coloquei
cimento
barro
cinzas

tirei
as noites
mal dormidas
e os sonhos
que não desejava ter

abri
as janelas
descalcei meus pés
não olhei para trás

ocupei
em mim
todos
os espaços vazios

enchi
tudo
com romances inacabados
com livros que nunca li
e filmes de um passado presente


 

EU TE DESENHEI

eu
te desenhei
em papéis
de rascunhos

te colori
te enfeitei

te fiz o que não era
uma aquarela

te coloquei
na moldura mais bonita
tinhas
em mim
uma parede somente tua

tuas cores
foram
sumindo
teu rosto
se esmaeceu

as cores
perderam
o brilho
a moldura se perdeu
se quebrou

e a parede
em mim
que era tua
rachou

SEMPRE FUI

eu sou
os meus erros
o meu passado

eu sou
poesia mal escritas
e o vento
que soprou

eu sou
as paixões que senti
e os amores
que nunca amei

eu sou
a janela quebrada
a farpa
que nunca saiu
de minha mão

eu sou
os sonhos que sonhei
e a esperança
que perdi

eu sou
o agora
que não chega
e o instante que não passa

NOITE

a noite
não
é mais
aquela puta
me seduzia

a noite
se travestiu

agora
mora
em becos
onde ninguém entra mais

a noite
é o engano
mais sutil
é o veneno
que mata devagar

a noite
não é mais
tão bela

anda caida
pelas esquinas
embriagada
sozinha
solitária

a noite
perdeu a poesia
a magia
a inspiração

vaga
sobre seus escombros


NÃO TENHO MAIS

não
tenho mais
urgências

nem pressa
nem sigo mais
meus extintos

estou cego para eles
e mudo

não
tenho as mesmas
necessidades
nem mais as mesmas
vontades

agora
quero apenas
ficar
no meu canto quieto

e antes
o que me iludia
agora
já não mais
me comanda

me condena

tudo
em mim
passou
e o que ficou
um dia também passará

TEU ORGASMO

eu gosto
do teu gozo
de sentir
o teu orgasmo

gosto
das tuas unhas
em minhas costas

gosto
dos teus gritos
dos teus berros

gosto
de me sentir
laçado
entre tuas pernas

eu gosto
de te sentir mulher
de te sentir ali
totalmente entregue
sem tempo
sem mundo
sem nada

apenas nua
cheia de mel
que escorre das coxas

gosto
do te gozo
do teu orgasmo
do teu prazer

24 de out. de 2016

TODOS OS DIAS

todos
os dias
em mim
morrem
flores
e sorrisos
e vidas

todos
os dias
em mim
morrem
sonhos
desejos
e vidas

todos
os dias
morre
em mim
um pouco
de tantas vidas
e sobram papéis
em branco
e sobram cada vez mais
poesias

A POESIA

a poesia
me salva
de mim

me salva
da loucura
que me persegue

me salva
das paixões
que me incendeiam

me salva
da morte
quando a morte
me ronda

a poesia
é meu vício
minha liberdade
minha libertação

ela contêm meu choro
sufoca meu grito
ameniza meu cansaço

a poesia
me aceita
sem crítica
sem medo
sem nojo
e como ela sou
quem sou

giz
que se apaga
nada
que se apega

ESQUECIDO

eu
me vi
escorrendo
pelo canto
dos teus olhos

eu
me vi
se desfazendo
o descaso
que crescia
dentro
do teu peito

me procurei
e não mais
me achei
nos reflexos
dos teus olhos

ruas vazias
pés descalços
eu mendigando
refém das escolhas erradas

eu
me vi
sucumbir
com a vida cheia vida
e nem as mãos
me agarravam mais

meu espaço
eu me vi
desfeito
inigualável
inesquecível
e esquecido

EU FUI

eu fui
crescendo

aprendendo
a me entender

eu fui
caindo

aprendendo
a levantar

vi meus anjos
e meus demônios

abracei o amor
e o desamor

pés cravados
na terra de barro negro

eu fui
por entre
lamaçais

por entre abismos
e precipícios
e assim
aprendi
a voar

a me defender
de mim
das minhas ilusões
do amor
que em mim
nunca se desfaz

OCOS

e
ai
vamos
nos desalinhando

desfazendo
nossos
nós

quebrando
nossos sonhos
transformando
saudades
em lembranças

e
ai
vamos
podando
nossas roseiras

cavando
nossos túmulos
mãos
cerradas
olhares pálidos

e
ai
sem reflexos
em nossos espelhos
quebrados

vazios
sem ecos
ocos
por dentro

PORO A PORO

e
assim
fui me desfazendo

poro
a poro

poeira
a poeira

sem efeitos
sem mais defeitos

e
assim
fui me espalhando
me dissolvendo

virando
parte
de um nada

virando mar
em um rio

dia de sol
em tempestade
poeira
poro a poro

sem vento
sem caminho
sem estrada

fragmentos
migalhas de mim

INCONSCIENTE

perdi
a consciência

roubaram
de mim

tentaram
que eu morresse

que a vida
cessasse

perdi
as horas
o relógio
a pressa

roubaram
de mim

o amor que sentia
e a vida
que se fazia em poemas
jamais escritos

rasgaram-me
feito
papel
e lançaram-me
no vento
da sorte

eu voei
por ai
sem minha consciência
sem partes da minha inteligência
sem sabem
para onde voltar

eu voltei
para dentro de mim
para minha consciência morta

para dentro de mim

O QUE SOU

o que sou
sou
aquele
vaso quebrado

aquele
pedaço
de espelho

aquele
papel amassado

sou os restos
de um pão
mastigado
no dente sujo
e mal escovado

sou o barro
no canto da bota
as fezes
o orvalho
sobre ela

sou música
que não se canta
poema
que não se escreve

sou acaso
descaso
sou tudo
menos poeta

resto de comida
no prato vazio
bagaço

a estria
o incomodo
o pecado

sou a ausência
de mim
a falta de sol
o frio da escuridão

sou tudo
menos
poeta

SOLITÁRIO

gosto
do barulho
do silêncio

me escuto
melhor

meus monstros
e meus demônios

ouço
melhor
a voz de Deus

ouço
melhor
minha própria voz

gosto
de me sentir sozinho
talvez
pela certeza
que nunca ninguém é só

acendo
o cigarro
só pra ver ele queimar
no cinzeiro

ligo
o rádio
em poucos
segundos enlouqueço
ao som de uma música qualquer

amo
o barulho
do silêncio

suas vozes
meus monstros
meus demônios
Deus
e eu

SAINDO DE VOCÊ

desculpe
mas
estou saindo
de você

estou
tirando
toda a minha
bagunça

minhas tralhas
minhas poeiras
e todas
as minhas confusões

achei
que encontraria
em você
um espaço
meu para tudo
o que carrego

minhas ânsias
meus tormentos
e meu jeito de amar

mas,
teu coração
é quarto pequeno
ainda mais cheios
de bagunças do que o meu

e bagunça
por bagunça
fico no meu canto
assim
me entendo melhor

eu estou
deixando você
pode de novo
alugar o espaço vago do teu coração cheio
de vazio

22 de out. de 2016

DA MINHA JANELA

fico
assim
olhando
o mundo
da minha janela

sinto
o vento
me acariciar
mas não deixo
mais que me arraste

sinto
o perfume
das rosas
mas não deixo
mais que envolva

sonho
agora
e não deixo mais
os sonhos
criarem asas

fico assim
em meio
a solidão
de poesias que talvez
nunca sejam declamadas
ou decifradas

nada mais
me encanta
a vida
tirou
a venda dos meus olhos

e o amor
deixou machucado
meu coração

APENAS DESEJO

pode ser
quem um dia
eu te amasse

pode ser
quem um dia
eu te escrevesse

pode ser
quem um dia
eu te sentisse

agora não

agora
não te amo

agora
não te escrevo

agora
não te sinto

era só desejo
de te rasgar
a carne
e me satisfazer
em teu pecado

era
sonho
e
tuas flores
jamais crescerão
em meus jardim

POETA

vim
da terra

do sulco
da terra

vim do sol
vim do sal

vim dos erros
que passaram

das mentiras
dos acertos

vim da água
dos germes

das sementes espalhadas

vim do choro
vim da alegria

vim de todas as saudades
vim da morte
vim da vida

vim dos pedaços
deixados ao longo da estrada

vim dos retalhos
das linhas

das esquinas
sou poeta
sou poesia

APRENDI

acho
que aprendi

agora
sei
do que são feitos
os sonhos

agora
conheço
as dores

sei
sentir o amor
reconheço
os sintomas
da paixão

e onde se esconde
Deus em mim

acho
que aprendi
a rezar
aprendi a gostar
aprendi a amar

agora
posso voar sem asas
e não cair
posso me atirar
e não morrer

e a saudade
do que fui
já não tem mais espaço
em mim

VELHOS CAMINHOS

desejo
apenas
ir

pelos caminhos
que já conheço

não me cabe
mais
me perder

não me cabe
mais
tantas paixões
mundanas

estou velho
de alma corroida
cheio
de dores

articulações
fracas
e o coração
embrutecido

quero
os mesmos
caminhos

os conheço
melhor que ninguém

não me cabem
mais
novos passos

e os sorrisos
não me enganam mais

EU

eu raio
tempestades

eu chovo
eu vento

fico
quieto
despedaço

envolvo
eu laço

passado
presente
e depois de amanhã

eu tormenta
ensaio
cuspe
escarro

eu volto
vou
fico

sem cais
sem porto
ainda a deriva

eu derreto
eu raio
eu mordo

QUERES-ME TEU

queres-me
assim
passivo
ao teu amor latente

o teu corpo
que geme
e os teus poros

queres-me
escravo
de tuas
ambições

e matar tua sede
em minha boca
queres
meu pecado
minha inocência perdida
arrancada e dilacerada
por ti

queres-me
teu
e
ainda assim
seres livre
para em outros
tantos amores, morreres..

VAIS COMO AS FOLHAS SE VÃO

vais
como as folhas
que se vão
no outono

e não voltas
vês se te perdes
em meios
aos atalhos
do caminho

vês se não
deixas
pegadas
não deixes nada

vais
com as folhas
deste outono
que teu inverno matou

e fazes do teu jazigo
o tempo perdido
vais
como as folhas
que não voltam mais

CHOREI

eu chorei
chorei
até cair

eu chorei
de dor
de desamor
de desalento

chorei
de raiva
chorei
de mágoa

e nunca de alegria

chorei
porque me perdi
porque fugi
porque desisti

eu chorei
no meio da multidão
e ninguém viu
como
eu
ali
todos choravam
em silêncio

por desamor
por desalento
por estarem todos
em meios as tantas
multidões

ÉS FICÇÃO

és
ficção

utopia
desejo
sem razão

és veneno
que mata
droga
que vicia

vento que refresca
o tudo
o nada

o pecado
o vazio
a desgraça

e ainda assim
em meio ao teu temporal
nado em teu mar
de nostalgia

és ficção
minha invenção
mais real
e nos meus sonhos
és minha
do meu jeito

SEI DE VOCÊ

sei
o gosto
dos teus lábios
o gosto
da tua saliva
o gosto
das coxas
dos seios
o gosto
que carregas
no ventre

sei
o gosto
do calor
do teu abraço
e o gosto
doce
do teu sorriso

sei
quais
os riscos
da tuas mãos
e a curvatura
precisas
das tuas sobrancelhas

sei
o desalinho
dos teus cabelos
e tuas frases soltas

sei das tuas horas
conheço teu silêncio
e quando afoita
desejar fazer amor

eu sei
de você mais
do que sei de mim

VAZIA

eu
não me aquecia
em teu
corpo

e teu corpo
pouco
me excitava

ainda
que os seios
voluptuosos
fossem belos

ainda
que a pele
fosse
tecida por seda

eu não sentia
por ti
desejos

ainda
que me fizesse
carícias

faltava
em ti
amor

eras apenas despudorada
vazia
e eu queria
em meio a tudo
o que tinhas
o amor
que não tinha

MINHA ROSA

dou
a ti
a rosa
única
que cultivei
em meu jardim
de aparências

rosa
de cálida
fragrância

rosa
sem espinhos

dou
a ti
a rosa
que eras meu alento
nas tarde
frias do outono

rosa
de pétalas
aveludadas
de beleza impar

a única
do meu jardim
a única que me fazia
suspirar
de amor

e agora
te dou
minha rosa

sabendo
que iras morrer
em tuas mãos
e nelas restará
apenas
e tão somente meu coração

NUNCA SOUBE

nunca
soube
de verdade
quem eras tu
por trás de tua face

nunca soube
se batia
em teu peito
de verdade
um coração

se havia
sangue
em tuas veias

nunca
soube
quem eras
quando teu corpo
estava nu
a minha espera

teu sorriso
tuas verdades
em meio
as minhas tantas
interrogações

AMADA LUA

jurei
meu amor
a lua

jurei
escrever
juras
de amor
se fim

e poesias
que não eram
mais minhas
e sim tuas

jurei
jamais
te deixar

e as nuvens
te roubaram
de mim

e os raios
machucaram
tua pele

e a chuva
me fez chorar
tua ausência

e os meus papéis
em branco
esperando
tua volta

jurei
te amar
amada lua
até que meus olhos
fechassem para sempre
e assim
eu pudesse te encontrar

DOCE SINFONIA

deixo-te
cantar
nas verdes
árvores
do meu quintal

como relógio
que me desperta
para vida

como um beijo
de Deus
em minha face

todos os dias
ali
quando nasce o sol
tu me brindas
com teu canto manso

os sonhos se desfazem
nasce
de novo outra realidade
dos dias tão iguais

e tu ali
cantando tua alegria
ou tua tristeza
de só saber cantar

TEU CÉU

queria
teu céu
de estrelas
que não brilhavam

queria
o teu norte
e o leste
para onde apontavas

eu fui
e me deixastes ir
sozinho
para te encontrares
onde não estasas

zombastes
de mim
e do que eu sentia
e o que sentia
agora
se desfazia

como teu céu
sem estrelas
e o no meu
de estrelas jamais se apagaram
voltei
 para minha lua
de encantos

e agora
fostes eu
que te deixastes ali
no caminho
no escuro do teu céu sem estrelas

COLAPSO

eu
me afastei
das pessoas
que eram poesia

que eram
minhas fontes
de inspiração

me afastei
das minhas mentiras
e ilusões

curei minha
insanidade de ver
aquilo que não existia

deixei
de lado os sorrisos
falsos
e todos os abraços vazios

a poesia
se fazia na minha loucura
nos meus gritos
vazios

em todas as pessoas
que não existiam

TUAS SOMBRAS MINHAS

vejo
tuas sombras
habitando
minhas trevas

sinto
no vento
que sopra
minhas incertezas
o perfume
adocicado
do teu veneno

na água
o gosto amargo
do teu beijo

sinto
nas noites
sem lua
a nudez proibida
dos teus tenros
pecados

sinto
tua morte
deixando na tua sombra
das tuas ruas
sujas

jogado pedaços
do coração meu
quebrado

TUDO O QUE SOBROU DE MIM

eu
fiquei pelo
meu caminho
querendo
juntar
os restos
do meu coração
quebrado
na mala
sem espaço
tudo
o que sobrou
do que fui

eu
fiquei
tateando
meus escombros
meu espiríto
desvastado
pelo desamor
de amar
na mala
sem espaço
o que sobrou
do que fui

eu
parei
na beira
do abismo
no precipicio
do meu eu
e me atirei
sem a mala
e sem nada do restou
do que fui
do que pensei que eu era