22 de jun. de 2015

ANDO


ando
assim
em desvarios
em espasmos
ando
assim
deixando
que nada
mais faça
parte de mim
ando
cabisbaixo
arredio
cheio de infartes
coração pesado pesado
ando
assim
olhando o nada
minhas sombras
também cansadas
ando
sem voz
sem tato
sem cor
ando
pálido
cheio de medo
ando
escondido
entre escombros
entre muros
becos
gritos escuros
ando
empurrado pela vida
ando
procurando
meu destino
que anda
por ai
a revelia
por ai
por ai
ando...

DEIXA


deixa
eu tocar
tua pele

deixa
eu dedilhar
teus segredos

deixa eu beijar
tua boca
me enroscar
em tua língua

deixa
eu saber
quem é você
me confessa
sem querer
teus pecados

deixa
eu beber
tuas lágrimas
deixa
eu me transformar
no melhor que há em ti

deixa
eu rascunhar
teus versos
ser o teu cigarro
de instantes
deixa
eu ser tua bebida
teu acaso
descaso

deixa eu
ser teu amor
tua paixão
tua loucura indescente

deixa
eu tocar
teu peito
tocar teu ventre
tocar
tua alma

deixa a porta
aberta
deixa o vento
deixa

VIDA

a vida
esta vida
me desagrada
tantas mentiras
quantas máscaras
quem é de verdade?
quem não se esconde
atrás dessas cortinas
empoeiradas
a vida
esta vida
me corroe
me leva
para onde
não quero ir
me faz ser
quem não quero ser
me faz
escravos
de convenções
a vida
de cacos
e destroços
de risos
amarelos
e dentes cariados
vida
de instintos
mortos
só a morte salva
a vida
só a morte
nos salva
de nossas próprias mentiras