15 de fev. de 2015

VIDA TARDIA


quantos sonhos morrem todos os dias...
quantos abraços se desfazem...
quantos nós desatam...
laços que se soltam...
bocas que se calam...
quantos corações cansados deixam de bater...
quantas dores castigam...
quantos bebem até que seus problemas desapareçam...
quantas bocas famintas...
quantos amores estraçalhados...
quanto silêncio...
quando rompimentos...
separação...
lágrimas...
dores...
soluços...
quantos enfermos...
quantos suicídas...
quanto desprezo...
quantas voltas e o relógio não para
e o amanhã sempre vem e quantos morrem indigentes...
quantos desaparecem...
quantos rostos deformados...
 e mães... filhos... ventos...
quantas expectativas de amores tardios...
e a vida escorrendo pelo ralo...
e o tempo indo embora...
as horas tardias...
apenas se quer vida...
sobrevida...
um pouco de alegria...

O AMOR ESPERA


o amor importa... não importa... importa as contas pagas... a geladeira cheia... o carro na garagem... a paz de um amanhã melhor... importa um pedaço de pizza... um pão com mortadela... pão na chapa... o amor espera... sobrevive em silêncio... pra que viver? sobreviver é bom demais... a gente vive de lutas e batalhas que não terminam... a gente não quer descanso... nem felicidade... a gente acostumou a sofrer que nada mais importa... e o amor, importa? o amor é paciente, é caridoso... se dá porque é benevolente, amistoso, simpático... o amor é teoria... o que importa é o teto, o abrigo... pés calçados, corpo aquecido e a paz de ver tudo caminhando... sair pra que? quem se importa? importa é a razão... a vida real não suporta sonhos... não aceita planos... odeia expectativas... festas, aniversários, viagens, uma volta de carro na esquina, pra que? Coisa de bacana, coisa de babaca... Good Bye ao romantismo exacerbado... Adeus aos momentos de intimidade... Pra que pagar motel se temos em casa uma cama de graça? Temos uma ducha... Geladeira abastecida. Assim, não precisamos nos preocupar com os gritos alheios... Nem se hidromassagem esta mesmo limpa... Amanhã as contas chegam... Todos os dias chegam contas... Melhor é comprar filmes piratas... Comprar pipoca e ficar ali... Na paz do amor consciente... Deixo as inconsequência do amor para os jovens ousados que não se preocupam com o amanhã... Se o amor importa? Sobrevive... Acostumado aos pacatos dias de nossas vidas...

VENENO


seu abraço foi pecado.
foi o pecado que eu não queria.
foi o amargo.
o doce sem sabor.
seu abraço foi algema.
o elo perdido.
minha pior perdição.
foi o espasmo.
o cansaço.
o martírio.
seu abraço me prendeu.
me deixou enclausurado.
me feriu.
me matou.
roubou minha paz.
minha sanidade.
você nem sequer se importou.
não questionou meu passado.
meus passos.
não quis ler minhas histórias.
seu abraço foi veneno no sangue que escorria.
foi ilusão.
foi tropeço.
a perdição.
a guerra.
a falta de paz.

POR ACASO


eu andava a esmo.
sem sentido.
sem porque.
sem direção.
não pensava em nada.
não havia em mim nenhum existir.
estava nos meios dos desgarrados.
não estava perdido.
tinha consciência de onde estava.
só não sabia o que queria.
ela estava lá.
em meio aos loucos, aos viciados, aos degredados.
Olhos perdidos.
Buscava razão.
Sentido.
Olhamos para a mesma direção.
Palavras mudas.
 Os sorrisos estavam mortos.
A pele pálida.
Complacente.
Éramos nosso vício.
Vestíamos a mesma solidão.
Tínhamos os mesmos medos.
Éramos convergentes.
Divergentes.
Ali, éramos um.
Queríamos o mesmo nada.
Ficar apenas.
Sentados.
Olhando para o infinito naquela tarde plácida.
Bocas ainda caladas.
Sem vozes, sem nomes.
Sem nada.
Nos pés sandálias rasgadas.
A bunda era grande e de seios quase nada.
Olhou meus olhos.
Fitei os seus.
A noite apontava no largo céu.
De pé, fomos para nossos mundos tão diferentes.
Cada um pro seu lado.
Sem nome.
Sem memórias.
Sem culpas.
Sem passado.

DESAGRADO


teus grandes lábios ficavam escondidos.
não sabia se eu chupava.
não sabia se eu mordia.
não sabia direito o que devia fazer.
pedia minha boca.
queria meus dedos.
eu ali, aturdido.
queria beber um dose generosa de pinga.
queria sair daquele enrosco.
queria fugir daqueles seios roxos.
a meia luz era clara demais.
não conseguia pensar em nada.
 a não ser na fuga.
queria uma desculpa.
não queria mais nada.
não eram seus defeitos.
eram seus fantasmas.
o jeito de sentir.
de fazer.
era seu gemer que me assustava.
 eu não conseguia ver seus grandes lábios.
sua vagina se escondia.
eram secretos teus labirintos.
eu não era um deus.
nem acontecia em mim a química.
queria fugir.
sair de lá.
ela pedia minha boca, meus dedos.
Implorava desejos que eu não tinha.

DESFEITA

segurou minha mão para atravessar a rua.
tragou o cigarro e soltou a fumaça em meu rosto.
sentou em meu colo, me deu a boca.
o hálito fedia.
as roupas fediam cigarro.
os cabelos eram negros como a era negra a noite que caia.
não tínhamos nomes.
só desejos.
abriu a blusa me mostrando os seios.
me olhava de um jeito safado.
me pedia absurdos.
queria minhas loucuras, minhas juras.
promessas que eu não podia fazer.
ela queria meus versos, minhas poesias.
eu nada sentia.
não bebia em meu copo aquele momento.
nada nela me absorvia.
a saia curta.
as coxas nuas.
seios ao vento.
beijos.
só beijos.
tatuagens.
inverdades.
ela era paisagem.
eu poeta sem poesia.
não havia emoção.
razão. tudo se perdia.
se esvaziava.
as unhas negras.
o riso pálido.
segurou minha mão para fugir do mundo.
e fugiu e eu fiquei ali.
parado na minha total inércia.
olhando.
esperando ela se desfazer por inteira.

VENTANIA


foi ela que me pegou.
foi ela que me jogou na cama e abusou de mim.
a fome era dela, não minha.
 fui escravo, capacho.
ela mordia meu peito.
tinha pressa. era ventania.
não importava se o mundo soubesse.
não importava onde estava.
foi ela que me pegou e me virou do avesso.
rasgou minhas calça e me fez seu desejo.
me deu os seios, teu sexo.
me usou e depois vomitou incoerências.
foi ela que se desfez como se desfaz o vento.
foi ela que sumiu.
fez o queria fazer.
por desejo, pelo seu prazer.
até hoje não sei seu nome.
talvez tenha esquecido.
ainda guardo memórias daquele dia.
foi ela.
ela que me usou.
abusou de mim, depois me cuspiu como catarro.
foi embora.
partiu e nunca mais olhou pra trás.
nem eu.

QUARTAS-FEIRAS


eram tardes quentes.
de tantas quartas-feiras.
eram de amor, de toques de desejos.
aquela necessidade de sentir, de fazer. inconsciente consciente.
sem ver o que se via.
eram tardes de melodia, de copos vazios, de tantos beijos
e abraços e corpos que se queriam e corpos que se imploravam.
tinha o medo das cortinas que voavam.
tinha o medo que a luz se acendesse.
tinha medo dos pés depois no chão.
eram tardes finitas.
quartas-feiras ansiosas.
vestidos de preto.
suor que escorria.
eu me lembro.
 rostos em fogo.
nossas tormentas.
depois o cheiro.
o perfume na pele, na roupa...
eram assim aquelas tantas quartas-feiras que hoje são lembranças esquecidas...
são poesias escritas do amor de cada jeito.

CAMINHO SEM VOLTA


era caminho sem volta.
eu sabia. tua conspirava para o fim.
ou eu iria morrer ou eu iria acabar morto.
aquele desamor me consumia.
me cegava as vistas e os sentidos.
eu era escravo do meu sentir.
havia ódio de mim por mim e ainda há.
ainda há dor passageira, lembranças que quero esquecer.
era o contrário do amor que eu queria.
diferente do amor que eu já tinha.
era o fim. o escuro. o sem prumo. era desilusão.
precipício.
era o que doía.
e eu ali, olhando tudo de fora.
sem ter como gritar.
 meus gritos ninguém ouvia.
minha dor ninguém sentia.
olhos julgavam.
bocas cuspiam.
tudo me mim se desfazia.
estava oco.
eco.
estava morrendo como as sementes boas que eu plantei.
sem chão.
sem ninguém.

DON JUAN


Não interessa o corpo, a exuberância, a beleza.
Me interessa a essência.
Os bons fluídos.
Como se naquele momento eu me alimentasse das energias.
Como um vampiro.
Não me importava se depois viesse o vazio.
A solidão.
Importava-me o momento, o sentir.
Queria despertar sentimentos, sensações.
Era isso que eu queria.
Era isso que me dava prazer.
Era disso que eu me alimentava.
Os beijos deveriam ser intensos.
As carícias deviam fazer rasgar as roupas.
Não queria o nu. Queria insinuações.
Provocações.
Queria me sentir querido, desejado.
Não me importava com possíveis dores.
Com meu sofrer talvez. Com marcas.
Quantos seios flácidos vi.
Quantas tentativas vãs de sedução. Sexos expostos.
Eu ali inerte. Sem sentido.
Eu me alimentava de fluídos. Da energia do momento.
Das necessidades inconsciente do amanhã.
Queria todas as sensações.
Das mulheres queria sua alma. Como um demônio.
Queria seus amores. Queria suas poesias.

14 de fev. de 2015

CONHEÇO


conheço
o amor
o desamor
o ódio
o rancor

conheço
as magoas
e o que magoa
conheço
os enganos
desenganos
os feitiços
as magias

conheço
as tardes
as madrugadas frias
o frio
o sol do meio dia

conheço
os passos
descompassos
o ritmo
conheço mal
a vida

conheço
as essências
os bons
os maus fluídos

a energia
a sinergia
o bem
e o mal também



mergulhei
em rasos
oceanos

já me dei
já quis
implorei

já fiz doer
já fiz chorar
e também chorei

já tive afetos
desafetos
amigos

já amei errado
amei certo
amei descaso

já fui raso
já fui profundo
ganhei
perdi

ilusões vivi
iludi
errei
fiz errar

destino
desatino

TEM GENTE


tem
gente triste
sem amor
sem rima
sem poesia

tem
gente morta
sem vida
andando
por andar
andando à esmo

tem gente
sem casa
sem rua
sem ninguém

tem gente
bebendo
tem gente
perdida
tem gente
sozinha
tanta gente sozinha

tem gente
sem sorriso
gente
sem afeto
tem gente
sem carinho

tem gente
sem fé
tem gente
sem gente

invísivel
transparente
gente
sem sol
sem chão
sem sonhos

tem gente
tanta gente
em desarmonia
sem ritmo
sem melodia
sem poesia

A GENTE


a gente
se rasga
bagunça
os lençois
a gente
brinca
fica
se olha
se ama
se estranha
a gente
já sabe
conhece
olhares
gestos
cada um
no seu
e nós
feito laços
a gente
reclama
discute
briga
fecha a cara
chora
se beija
a gente ri
da gente
a gente
é um
o que ninguém
sabe
o que muitos
não entendem
a gente
é nosso amor
a gente
ama do nosso jeito
sem razão
sem querer saber
porque
a gente
é a gente
e ninguém mais

GOSTO DE NÓS


gosto
de te ouvir
gemer

gosto
de olhar
tua cara
de prazer

gosto
das tuas pernas
abertas

gosto
dos teus seios
nus

gosto
quando pede
quando
vem e me come

gosto
da língua
felina
gosto da saliva

gosto
de sentir
teu gozo
depois
jogada
na cama
suspira

gosto
dos nossos
tantos anos
juntos
e teu prazer
na cama
no chão
na varanda

gosto
de nós
depois de tudo
 

TANTAS VEZES


às vezes
me encolho
às vezes
me retraio
às vezes
me estico
me largo
meio poça
meio lago
às vezes vou
às vezes fico
largo
atraio
às vezes
leio
às vezes
olho
às vezes
sinto
às vezes praça
às vezes
céu
às vezes
tantas vezes
poesia
papéis cintilantes
lanternas
às vezes barulho
às vezes silêncio
nada
às vezes
mártir
às vezes
martírio
às vezes
vela
às vezes
laço
nós
sós

 

MEU EU REAL


tem coisas
muitas coisas
que ninguém
de mim
vai entender

há lamentos
tantos tormentos
pensamentos
emoções
lágrimas e gritos

há um amor
que desconhecem
há um torpor
um enjoo
reticências
poesias

há um em mim
que só
eu sei
aquele que se reflete
atrás
do espelho
aquele que ninguém consegue ver

um sentir
que é meu
que me pertence
metade anjo
metade demônio
um pouco de tudo
meu caos
meu cais
porto abandonado

meu eu
real

POETA


sou
amor
sou temporal
sou
intantes
tormentas
tormento
sou poeta
sou
as poesias
que escrevo
sou
amor
passional
vertigens
vertentes
ruas
avenidas
alamedas
sou poeta
ando nu
pelo mundo
meu mundo
sou furacão
dinamite
sou explosão
sou dor que doi
demais
sou alento
sou paz
guerras
batalhas
sou temporal
amanhecer
alvorada
poesias
que leio
o que sinto
e o que deixo de sentir

QUISÁ


onde
estão
meus medos
meus fantasmas
minhas ilusões

onde
estão
minhas dores
meus desalentos
meus desatinos

para quem
foram meus carinhos
todo aquele amor
minhas noites
tantas mal dormidas

onde está
quem fui
quisá
escondido
atrás
de todo desamor
que há

um pouco morto
um tanto sujo
um tanto marginal
imundo

onde
estão meus sonhos
minhas febres
minhas dores
meus enjoos
minhas asas
meu voar

quisá

 

PUTAS


gosto
das putas
das ilusões
vendidas
em esquinas
gosto
das vertigens
gosto
do gosto
amargo
na bocas
hálitos
de cachaça
roupas
sujas
rasgadas
gosto
das putas
que desfilam
sem medo
seu medo
não há nelas
nenhum amor
nenhum sentimento
não há
nela
caridade
só maldade
necessidades
que não quero conhecer
gosto
das putas
dos cafés
amargo
camas desfeitas
falso prazer
falso amor
espartilhos
saltos
encantos
enganos
putas
mulheres
demônios

13 de fev. de 2015

LAMENTOS


não te
falo mais
nem te escrevo
palavra
alguma
não rascunho
não sonho
não quero mais
não mais
te atormento
não te roubo
mais a paz
te deixo
agora
palavras
ao vento
sentimentos
na latrinas
poesias
nas portas
dos banheiros
teu nome
esqueço
não te chamo
não te penso
aos poucos
te esqueço
já deixei
de te sonhar
já deixei
de te querer
cansei
minhas retinas
não te falo
mais
me calo
deixo ir
desamor
desalento
tormento
lamentos

MEU MAR


nos medos
sempre
me vejo
de frente para o ar

no desespero
quando
não sei de verdade
o que sentir
sempre
me coloco
de frente
para o mar

no descanso
no remanso
sempre
mergulho
na imensidão
do meu mar

no amor
na sede de amar
mar

sempre
quando me perco
na vastidão
de tantos pensamentos
deixo
que o mar
me arraste
não nado
não resisto
me entrego
navego

deixo
o mar
meu imenso mar
me levar

VIDA À DERIVA


como
está
tua vida
depois de mim
como
estão
aqueles passos
certos
e toda
tua certeza
como
está
teu destino
há tempos
traçados
e as traças
que te devoram
como
está
o coração
tão frio
sem sangue
como
estão tuas pontes
teus muros
teus alicerces
concretos
como vai
tua mesma vida
tuas rotinas
teus vazios
sombrios
tua sombras
afetos
enganos
como estão teus dias
sem riso
vida sem rumo
à deriva

SERETAS



paredes
riscadas
risadas
perambulo
pela casa
não há barulho
alta madrugada
ruas mortas
serenos
papéis
gemem
minha dor
sangue
que escorre
gotas
no chão
lágrimas de sal
misturadas
palavras
que ecoam
paredes
riscadas
risadas
eu comigo
ninguém mais
louco
demente
poeta
de poesias
rasgadas
jogadas
no lixo
com meus escarros
pigarros
paredes
riscadas
frestas
minhas poesias
serenatas

QUADRO


te vejo
como um quadro
caro
raro

te vejo
em horizontes
onde
meus horizintes
não alcançam

te sonho
em noites
quentes
e o corpo
suado
na rede do meu quarto

imagino
teu banho
as águas mornas
que te banham
o cheiro
da pele molhada
o sabonete
que desliza

vejo
tua estrada
paralelas
duvidosas
vejo-te
num quadro
raro
caro
improvável

ainda
que meus cacos
guardados
firam meus sonhos
reais
loucos
desajustados

ainda assim
miragem
te quero

DESALINHO


a simplicidade
dos
teus tantos gestos
tuas carícias
com a vida
teus enganos
teus tantos
erros
as rosas
abertas
do teu jardim
tuas memórias
os beijos
tuas escórias
mãos que afagam
os sopros
uivos
dos teus lábios
roupas
que voam
pelos escombros
tuas mentiras
teus enganos
lápides
tua simplicidade bela
de efeitos
teus defeitos
escondidos
entre as janelas
da íris
por onde navego
afetos
tristes valsas
do destino
teus desacertos
teu desalinho

MONALISA


fique
sempre
debruçada
em teus sonhos
mantenha
tua sede
de querer
derrame
açúçar
pelo caminho
chame
teus colibris
teus beija-flores
fique
sempre
no parapeito
das verdades
que escuta
tudo
são lampejos
teus lapsos
afie
seus dedos
em poesia
de todos os poetas
seja diva
monalisa
alimente
desejos
afeiçoe-se
pelos risos
decandentes
do boemios
e seus sonhos
seja
sempre teu alvorecer
inspiração
a leveza nobre
de ser

EM MIM


invade-me
o amor
como vento
deixe
que em mim
a poesia
se faça
deixe
que em
mim tudo
aconteça
que caiam
rosas
roseiras
pétalas
de tenro perfume
deixe-me
de braços
abertos
aperta-me
o peito
com as sensações
e sentidos
rouba-me
o fôlego
o beijo
deixe-me
esculpida
em tuas memórias
deixa-me
livre
deixa
que mim
teu amor aconteça

MELODIA DE ACASOS


estas
tuas
desventuras
estes
teus
desajustes
esta
tua fome
de carne
de vida
de poucas
poesias
estes
teu beijos ocos
tua língua
estes teus desejos
de tudo
o que não pode
ser
tuas falências
tuas falácias
o tempo que não passa
tuas marcas
teu destino
versos
rasgados
queimados
na cama
sem lençois
tua loucura
tua vontade
a dormência
dos dedos
dos braços
do coração parado
cansado
de todos os teus nadas
desajustes
descompasso
tristes melodias
de acasos

AMANHECER


amanheço
como florescem
as flores
sem esperanças
cheia
de perfumes
enclausuradas
de amores

amanheço
como
animais
enjaulados
cheios de tédio
famintos
de uma vida
que não acontece

amanheço
como
tantos indigentes
que perambulam
em busca
do mesmo lixo
desta hipócrita vida
de desesperanças

amanheço
como
tantos

12 de fev. de 2015

INVENTO

quando
eu fico
ali
sem saber
o que escrever
invento
rápido
algum sentir
invento
um amor
que não me mate
invento
uma paixão
uma dor
que deixe
dilacerado
meu coração
sempre
foi assim
quando
não sei
o que dizer
me calo
ou vou em busca
de um dicionário
e invento
histórias
que não são minhas
e as vivo
em minhas linhas
em cada palavra
posso sentir
o que não sinto
posso viver
sentado
ali
uma nova vida
quando
não sei o que sentir
invento
nenhum pedaço
de papel
merece morrer em branco

DEPOIS DE TANTAS


e depois
das Marílias
das Anas
das Alziras
me vem
as chamas
das almas aflitas

e depois
de tantos copos
de tantas doses
de um amor
de noites
 fálidas
me vem
o vazio
de todos os bebados

as tonturas
os rodopios
pés no asfalto
no meio fio

frio

depois
dos falsos amores
dos abraços gelados
dos corpos
e dos pecados
vem
aquilo que não é certeza

os pápeis
em branco
e toda
minha indecência

depois
das Marílias
das Anas
das Alziras
 me vem o dia
cegando minha noite
roubando-me a vida

DAMA DA NOITE


dai
vem e me
dá os seios
entope
meus ouvidos
com tuas besteiras

dai
vem e me
toca a pele
me abre a calça
me fecha
os olhos
me faz

dai
se entrega
remexe
vasculha
invade
faz tua minha alma
faz teu meu corpo

dai
me beija a boca
me deixa
mudo
me rouba o ar

sai de mim
cobre os seios
abaixa
a saia
pega as chaves
abre a porta
derrama
perfume
e vai embora

EU SOU


eu sou
teu momento
teus arranhões
tua saliva

eu sou
teu peito
tua covardia
teu beijo

eu sou
a noite
mal dormida
o sol
que te faz
amanhecer

eu sou
teu estupido
aquele que tapa o vazio
da alma

aquele que diz
tudo
aquilo
que toda mulher
gosta de ouvir

eu sou
aquele
que faz voar
e que aquele
que te mata
no teu altar

sou a voz
que se cala
quando quer
teu palhaço
teu imundo
vagabundo

ANTES DE TUDO


antes
de tudo
conheça
meus vícios
minhas noites
minhas fúrias
meu estado
de mau humor
antes
de tudo
conheça
meu bem
e meu mal
ouça
meus gritos
minhas
tantas
bandalheiras
minhas
badernas
bagunças
conheça
meu quarto
meu rádio
meus livros
saiba quem são
os amigos que não tenho
meus amores
minhas paixões
antes
de tudo
conheça
minha religião
minha opinião
sobre nada
a falta do meu riso
saiba
por onde
ando e por onde andei
o que falo
o que calo
por onde vou
onde estou
quem sou
antes de tudo
saiba de mim
saiba que me matou
e porque morri
antes de tudo
me leia
nas minhas
muitas entrelinhas

OLHO-TE NUA


olho-te
nua
tua pele
de sentidos
arrepios
os bicos
entumecidos
dos seios
as coxas
a vagina
olho-te
nua
na minha cama
de deleite
olhar
de dama
lasciva
passiva
aberta
olho-te
nua
nas noites
enluaradas
chamando
meu eu
para sentir
na boca
o gozo
o arrepio
que escorre a alma
olho-te
nua
pela fresta
calma
da tua alma
e quero
te sentir
a maciez
da pele embriagada
o hálito
doce de bebida
e o cheiro
no corpo
do tabaco
olho-te
nua
tão carente
de mim
pedindo
meu eu
querendo minha alma
meus voos
meu além
de mim

EM MIM


em mim
há um
mundo diferente
por isso
sou poeta
não porque
há versos
em minhas palavras
não porque
rascunho
pensamentos
em mim
a dor
doi ainda mais
o amor
arde ainda mais
e há
beleza demais
em tudo
tanto que a maldade
me maltrata
o desamor
a deslealdade
condenam-me a morte
sou poeta
porque em tudo
há poesia
nas bocas podres
que vomitam
nas pessoas pobres
que mentem amor
na deselegência
de um amor que já morreu
sou poeta
porque o sol
nasce num horizonte
de sonhos
as noites
fazem
de nós seres
transparentes
porque
vejo na mulher
flores
que há tempos
deixaram de existir
em mim
a intensidade
é pouca
transborda em mim
emoções
amor
ira
paixão
não finjo jamais
a dor que sinto
sinto demais
a dor
que doi em mim
sou poeta
e faço do que é merda
poesia

VAZIO


quero ficar
com sozinho
com meus medos
com meus monstros
quero
deixar
as janelas
fechadas
as cortinas
como estão
empoeiradas
quero
o azedo na boca
e o fedor
das axilas
quero ficar com minhas
roupas sujas
quero meu corpo
encardido
para que assim
ninguém
chegue perto
de mim
quero ficar
enterrado em mim
enclausurado
quero que a luz
da noite escureça
quero o silêncio
de todas as vozes
que querem saber de mim
não quero nada
água
comida
amores indecentes
quero mentiras
minhas poeiras
meus contra-baixos
quero ficar
com meus vômitos
e minhas carcaças
quero
viver em meio
ao que me pertence
o podre
o eco
e todo este vazio
que me completa

A GENTE


a gente
esquece
rápido
demais
da dor que sentiu
quando
está tudo bem em nós
a gente
ri risos vazios
a gente
inventa frases
canta
as mais belas canções
esquece
as curvas
da vida
esquece
os tropeços
vive
tapando as feridas
colocando
esparadrapo
em tudo
finge
que não sente mais
a dor
que mastigou
a gente
supera tudo
quando tudo está bem
recupera a força
a fé
o ego
as velhas impressões
o velho sentir
basta um dia de sol
basta que a chuva evapore
basta que a tempestade passe
e somos
de novo
o mesmo que fomos antes
a gente
esquece fácil

PECADOS


gosto
de olhar
meus pecados
aquela minha cruz
que carrego
em todos os dias
a cruz
que não me deixa
esquecer
quem sou
gosto
de olhar
o sangue
ressecado
em minhas mãos
sangue
que me faz lembrar
as pedras
que atirei
e as pedras
que feriram
meus pés
gosto
de olhar
para trás
e ver
por onde andei
quem amei
quem odiei
e quem também
me esqueceu
eu também
esqueci muita gente
gosto
de ver
o cigarro
queimando na minha boca
levando embora
minha vida
de tão poucas
valias
já não presto pra mais nada
carrego minha cruz
carrego meus pecados

11 de fev. de 2015

PESSOAS INVENTADAS


gosto
de inventar pessoas
gosto
de inventar
sensações
e sentimentos
talvez
isso seja
o mal
de todos os poetas
que brincam
de sentir
que fazem
do querer
suas razões
tão sem sentido
gosto
de inventar
o amor
desprovido
de alardes
livre
absoluto
talvez
seja
este o meu pecado
minha condenação
inventar
e ver
no outro
o que não há
talvez
este seja o mal
de todos
os poetas
amar
o amor
que não existe
amar
o amor
inventado

VEM ME AQUECE


rasga
de vez
este teu disfarce
tira
de vez
esta tua roupa
fica
na cama
nua
calada
aquece
a gelo do meu eu
beija
como nunca
beijou
ama
de vez
como nunca amou
vem
deixa
as roupas
jogadas
no chão
deixa sobre a penteadeira
teu perfume
vem
ama
este meu amor
sem pedir nada
sem máscaras
sem disfarces
de peito nu
de coração aberto
vem de vez
e fica
fica pra sempre
em mim
deixa
tuas roupas
jogadas no chão
vem
aquece este meu coração

TEUS OLHOS

teus
olhos
estão em mim
por onde
ando
me cercando
vigiando
meu sentir
teus olhos
me seguem
pelas ruas
escuras
pelos becos
pelos guetos
quer
de mim
o que já não tenho
quer
de mim
o que já não posso
quer
de mim
instantes
de agrado
minhas maledicências
se perderam
meu sentir
ficou
onde seus olhos
não podem ver
nem meus olhos
nem nada do que é meu
teus olhos
estão me mim
rascunhados
no meu corpo

VELHO


eu sei
estou ficando velho
tudo
agora
começa
a mudar
de cor
tudo agora
começa
a ficar com mais
pressa
com mais sede
eu sei
já não sou mais
o mesmo
tento
correr
meus passos
estão lentos
meu corpo
está mais cansado
minha memória
falha
meu sentir
fatigado
sem falar no coração
pobre coitado
que anda
amargurado
cansado
de tanto sentir
de tanto bater
nos vazios
e nos ecos
desta vida
tudo agora
tem outra cor
outra veracidade
já não me importo mais
com o que é mentira
com o que é verdade

SE ESCONDA - FUJA

se esconda
de mim
pra que eu
não te ache
e leia-te
em minhas poesias

se esconda
de mim
para que eu
não fale
do que sinto
nem envergonhe
teus sentidos

se esconda
em teu mundo
de tantas certezas
enquanto eu
vagaroso
de sentir
fico divagando
pelos sonhos
de um amanhã melhor

se esconda
em meus sonhos
em minhas tristes
canções
de todas as madrugadas
deixa-me
sentir
teu sentir
mesmo não querendo

fuga
nos ventos
que sopram
em direção contrária
e deixa
que eles
te levem
para bem longe de mim

NUA


eu te gosto
cheia de gemidos
e desejos

eu te gosto
fera
animal que caça

eu te gosto
nua
cheia de manha

quando se enrosca
nos lençois
de nossa cama

gosto
de te ouvir gemer
gosto
das tuas
obsenidades

gosto
quando arranha
minhas costas
e me morde
e geme
e sussurra
no ouvido
teu gozo

eu te gosto
mulher
puta

vestida
de pele
arrepios
e dores do amor
que se faz
na cama
cheia de nossas
bagunças

eu te gosto
assim
nua

VOU ROUBAR A LUA


vou roubar
a lua
e te dar
de presente
quem sabe
deste jeito
se convença
do que sinto
ou não
pode ser
que pense
que tudo é bobagem
quanta
bobagem
existe
fora de mim
vou roubar
a lua
e todas as flores
pra deixar
pétalas
espalhadas
em teu caminho
quem sabe
assim te convença
do amor
que já foi teu
e agora
vaga por ai
querendo outro peito
outro aconchego
vou roubar a lua
pra te dar
e depois ficar com teu sorriso
para sempre
desenhado
em meu peito

SONHOS GUARDADOS


meus sonhos
estão guardados
em caixotes
de mármores
não quero mais
sonhos
alados
não quero mais
galopar
em córceis
imaginários
a terra
debaixo do meu

é o que importa
é o que me faz
vivo
meus sonhos
deixei
para sonhar
em outro vida
devem
haver outras tantas
vidas por ai
devem haver
outros rios
risos
devem haver
outros mares
oceanos
outros planos
onde sonhar
não se absurdo
então
deixo meus sonhos
guardados
embaixo da minha colcha
de retalhos
 

NÃO ME PERCO MAIS


não me perco
mais
em teus sonhos
em meus desejos
na minha
triste mania
de inventar
não me perco
mais
na minha inconsciência
que grita
teus desesperos
apenas
fico ali
parado olhando
tentando
decifrar
o por que de tanto
encanto
enganos
do meu eu
já não me perco mais
em tuas alamedas
de risos
e nem quero mais
teus seios
fartos
contento-me apenas
em te escrever
para que assim
eternamente
saia de mim

A VIDA

o tempo
me engole
me come
me devora
já não sei mais
se vivo meu
ontem
meu hoje
ou meu amanhã
minhas
poucas
memórias
vão se dissipando
vou me esquecendo
aos poucos
de tudo
as horas
de alegria
as dores
no peito
parece que a morte
corre
e minha vida
tenta
se esconder
vivo
sem saber mais
qual meu tempo
e vejo
tudo
passando por mim
rápido demais
meu almoço
virando janta
meus dias
noites
e minhas madrugadas
breves
o tempo
me come
me engole
depois me cospe
na sarjeta da vida que viver...