19 de dez. de 2014

TODOS

todos
são melhores que eu
melhores em tudo
nas relações
na maneira de servir
na maneira
de lidar
com a vida
todos
são melhores que eu
e eu
pior que todos
no jeito de sonhar
no jeito de viver
sem amigos
sem orações
nem abrigos
tentando apenas
e tentando sempre
e querendo
já não sonho mais
nem invento mais
amores
todos
são melhores que eu
brindando
suas sensações
e suas vitórias
cheios de aplausos
e glórias
e eu
perambulando
ainda que triste
feliz
feliz com as sombras
que deixo
nas alamedas
que já não
caminho mais

ESCONDIDO

eu
quero mesmo
é ficar escondido
atrás
dos meus muros
de tantas ilusões
quero
que não me vejam
e não me escutem
quero ficar largado
no meu sofá
onde as molas
estão aparentes
e coloco
sobre elas
almofadas
sujas
de tanta poeira
de mim
eu quero mesmo
é imaginar
a lua
como sempre imaginei
viver minhas poesias
e meus delírios
não quero nenhuma luz
sobre mim
quero viver minhas paixões
e meus amores
e morrer deles
quero mesmo
é ficar escondido
cheio de meus tantos
pensamentos
não quero dó
nem sentimentos
quero apenas ficar largado
no meu velho sofá
olhando
para o nada que restou
de mim

CHUVA DE POESIA

derrepente
sobre mim
uma chuva densa
de poesia
ou de poetas
derrepente
este país de merda
surge como o país
de tantos talentos
de tantos escritores
de tantos poetas
querem todos a mesma luz
querem todos os mesmos holofotes
querem todos
a mesma sorte
a fama
das escritas
derrepente
aquele briga insana
de egos
todos estrelas
de um mesmo céu
eu não leio
nem opino
nem canto minhas glórias
nem meus fracassos
derrepente
sobre mim
todos os amores
traduzidos em versos
tantas histórias
de sucesso
e eu
remando contra a mare
desse rio
sem peixes
à deriva de mim mesmo
derrepente
pilhas e pilhas
e montes
de livros
poetas
e poesia
e eu derrepente
sobre mim

16 de dez. de 2014

AMA

ama
teu amor
o amor
que sabes
amar
ama
teus dias
tua sorte
teu eu
ama
quem está próximo
quem caminha ao teu lado
ama teu destino
teus passos
tua morte
ama
teu amor
ainda que na dor
ama
tuas memórias
teus livros
teus retratos
ama
quem tu és
ama
tua vida
tuas melodias
teus medos
ama teus dias
ama
teu amor
 

IMAGINEI

imaginei
o amor
assim
cheio de sorrisos
cheio de malícia
imaginei
dias de sol
e no fim da tarde
um garoa gostosa
imaginei
flores
abertas
todos os dias
e sorrisos
que faziam
qualquer corpo
levitar
imaginei
que abraços
preenchiam
que fazer amor
que propriamente amar
imaginei
dias assim
dias
de saudades
de falta
imaginei
o amor de filmes
o amor de versos
esqueci
que o amor
não de mentira
o amor
era sempre
amor de verdade
amor real
de dias nublados
de chuvas
de trovões
e de um sol
que ainda aquece

MUITA GENTE

tem gente
muita gente
que acha que me sabe
que acha mesmo
que me conhece
conhece
o sinto
o vivo
o que falo
o que faço
tem gente
que tenta
me traduzir
que tenta
me seduzir
me encantar
me deixar leve
me fazer voar
não voo mais
nem corro mais atrás
perdi
o encanto
abri meus olhos
aprendi a ver
tem gente que ainda pensa
que sabe
tudo sobre mim
não sabe
mentiras
para mim são verdades
hoje
me calo
muita gente
pensa
muita gente
não sabe
 

TEU JEITO MULHER

amo
teu corpo
amo
teu calor
quando me abraça
e teu cheiro
doce
amo teu perfume
tua boca
molhada
amo tuas pernas
tuas coxas
amo teu beijo
teus afagos
teus carinhos
amo
o som da tua voz
teus sussurros quentes
amo
teus toques
e quando me deixa
indefeso
amo
o amor
que me dá
amo
teu ressonar
tua fome
teu jeito mulher
amo
teus receios
e tuas preocupações
amo
nossos dias
nossos anos
e a dor que suportamos juntos
amo você
no silêncio
gostoso de nós

 

PENSEI

eu pensei
que todo amor
fosse igual
que todo corpo
fosse
igual
em todos os sentidos
e sentimentos
eu pensei
que podia
ser o que não era
o príncipe
encantado
o poeta
de uma poesia apenas
eu pensei
que podia
voar por ai
e pousar
cansado
nos seios
de um peito vazio
eu pensei
que todo amor
fosse o mesmo
que todas as lágrimas
fossem iguais
e que toda
dor doía do mesmo jeito
intensa
eu pensei
que podia
mergulhar em oceanos
rasos
e não morrer
pensei
que podia
e não pude
 

MINHA CABEÇA

minha cabeça
dói
meus braços
minhas pernas
e joelhos
minha alma
meus arranhões
dói
a falta de verdade
a injustiça
meus pés descalços
na calçada
minha cabeça
dói
meus gritos
calados
meus sonhos
planos
sinto minha mãos inchadas
sinto minha boca
amarga
sinto um peso
acendo um cigarro
encho o copo de fel
caminho pela casa
na escuridão
sombria
de minha alma
e dói
minha cabeça dói
meus braços
joelhos
e meus pecados
 

INOCÊNCIA

eu amava
essa inocência
essa inocência
gostosa
das crianças
eu amava
escrever
tantas mentiras
e me sentir
o rei
de um castelo
eu amava
passear
e voar
amava amar
amava
eu amava
crer
amava acreditar
nas ilusões
de sorrisos falsos
de abraços
vazios
eu amava fingir
que não sabia
que não via
nem sentia
eu amava o que eu era
quem eu fui
e amo ainda
mais
agora quem sou
eu amava
a inocência
dos versos
indecentes que o poeta
mentia

NÃO FALO MAIS DE MIM

não falo mais de mim
não valho à pena
disfarço
meu rosto
raspo meu cabelo
escondo sentimentos
nada em mim
interessa
não falo mais
por onde andei
quem amei
quem esqueci
eu me esqueci
e me afugentei
não falo mais de mim
meu eu não interessa
a ninguém
me disfarço
de instantes
camuflado
entre as folhas verdes
de um jardim
sem terra
me escondo
me refaço
não falo de mim
pra ninguém
ninguém merece meus pecados
ninguém merece
minhas preces
minhas preces
meu perdão
meus pedidos
meus braços abertos
não falo mais de mim
e assim
deixo de existir
e assim
me esquecerão ainda mais
cada dia
um pouco mais

RASCUNHOS

rascunhei
num papel
amassado
o amor que tanto sonhei
rascunhei
com palavras
e versos
o amor mais sincero
que a vida me deu
rascunhei minhas verdades
meias mentiras
um pouco de mim
rascunhei
sorrisos
e abraços
e beijos que nunca dei
num pedaço
de papel amassado
amarelado
pelo tempo
que não vivi
rascunhei
o corpo
cheio de cicatrizes
e marcas
e manchas
machucados
feridas expostas
rascunhei
tudo aquilo
que um dia
pensei que seria
e não foi
e o papel o vento levou
e meus rascunhos
perdidos
com o vento
que o vento levou

VAZIO


um vazio
em tudo
em todos
nas ruas
nas avenidas
nos sorrisos perdidos
na pressa
na vida
na poesia

um vazio
de Deus
vazio na fé
na alma
escancarada

um vazio
perdido
nas crianças
nas mulheres que amam
e no amor
que se foi
há tempos

um vazio
nas estações
nos dias
do ano
nos abraços
nas horas perdidas

um vazio
em tudo
em todos
nas rosas
nas roseiras
nos espinhos

5 de dez. de 2014

LIVRE

enfim
esvaziei
meu peito
sinto
o coração
vazio
desintoxicado
livre
enfim
sinto-me como antes
retomando
meu caminho
depois de tantos
anos
perdidos
enfim
me acho
liberto
liberto de mim
das minhas teorias
sem sentido
enfim
volto
a voar
e viver meus dias
como sempre
livre
do veneno
cheio do meu amor
de sempre

CAMA VAZIA

quero
meus sonhos
acordados
a cinco da manhã
quero
encontrar
tua cama vazia
e saber
que teu corpo
anda
gelado
não quero mais
sonhar
dormindo
sonhos
assim
não valem nada
quero poesias
cantadas
em bocas vestidas de
sorrisos
quero
verdades
quero quem goste
de poesia
de romance
do gosto
doce da paixão
quero de volta
meus sonhos
quero sonhar
acordado
encontrar tua cama vazia
e teu coração
despedaçado

MINHAS TARDES

quero
de volta
minhas tardes
de paz
onde andava
por ai
sem nenhuma cruz
sem nenhuma culpa
livros
relidos
sem memórias
quero
de volta
meus dias
iguais
minhas rotinas
meu amor
que perdi
antes
eu corria
por alamedas
imaginárias
quero de voltas
minhas poesias em guardanapos
em papéis
de acasos
quero andar por ai
eu
em companhia
de mim
eu e meus pensamentos
e minhas alegrias
e minhas tantas loucuras

NÃO MAIS

teu batom
vermelho
teus seios
teu jeito
de mulher
à toa
tuas palavras xulas
tua mente vazia
teu coração
que borbulha
tuas mãos inquietas
tuas pernas
tuas coxas
virilha
teu sexo
tu és
ilusão
pecado
minha derrota
meu ponto fraco
agora eu sei
não quero mais
me perder
onde eu me acho
não quero mais
andar
por ai descalço
as pedras do teu caminho
não vão mais
me machucar
tua boca
maldita
teu coração estupido
vazio

GUERRA

voltei
da guerra
sem alma
sem coração
sem sentimentos
voltei
com o corpo vazio
de coragem
sem malas
sem bagagens
apenas
com minha cruz
e minhas histórias
voltei da guerra
e só agora
eu sei
todo mal
que a guerra me fez
quanto perdi
e como me perdi
em meio
ao meu caos
me vendo morto
a todo instante
voltei da guerra
sem alma
sem terra
com braços abertos
a minha espera
voltei ferido
vivo
despedaçado
corpo vazio
sem alma
sem amor
sem sentimentos

FLORES

as flores
desse jardim
já não mais me atraem
vejo apenas
seus espinhos
não sinto mais
o doce
perfume
que me encantava
as flores
murcharam
e já não mais
encanto
que me faça querer
viajar
em sonhos
que não são meus
já não mais
nada que me iluda
nada mais
que eu não conheça
as flores
desse meu jardim
morreram
secaram
ficaram apenas
suas pétalas
jogadas
e seus espinhos
em minhas mãos calejadas
não há mais perfume
nem encanto
que me seduza
e que mate
o que já morreu

DEMÔNIO

fui
ao inferno
voltei sem asas
sem inspiração
sem amor
deixei
o melhor de mim

com meu demônio
para que ele não
se esquecesse de mim
e eu
me lembrasse
sempre dele
fui
ao inferno
do amor
conhecer
seu lado escuro
seu lado podre
seu lado mal
e conheci
e bebi
suas águas
e chorei todas as lágrimas
abracei
meu demônio
e confessei
a ele
meus pecados
e deixei
lá no inferno
meus monstros
meus pássaros
meus pesadelos
e voltei
para minhas nuvens
para minha terra
de certeza
voltei com a certeza
que jamais
iria esquecer
o inferno
e o inferno jamais
esqueceria de mim

MERGULHAR

era preciso
mergulhar
no meu abismo
particular
eu precisava
admitir
que havia
ainda veneno
em mim
eu precisava
entender
minha morte
entender
que perdi minha sorte
e que briquei
demais
com a vida
que vivia
era preciso
entender
a dimensão do meu erro
entender minha culpa
pedir
desculpas
e sair de mim
daquele meu estado
inconsciente
e admitir
que o erro foi meu
que a culpa foi minha
que o abismo
havia engolido meu eu
perdi todo sangue
o que corria em mim
era só
veneno