11 de fev. de 2017

PROTAGONISTA

és
agora
a protagonista
de minha loucura
de meus desejos
enfim
descubro
uma alma nua
enfim
posso dedilhar
palavras
desconexas
nada sei
de ti
o que sei
basta-me
para andar
por entre
entre minhas noites
de agonia
e beber-te
em cada cálice

és
agora
minha sombra
meu espectro

alma nua
mulher
sem máscara
sem medo
por onde andastes
todo este tempo
além dos meus sonhos

porque
ficaste tanto tempo
calada
enquanto minha alma
gritava
sem saber teu nome

és
a protagonista
dos meus delírios
da minha loucura
do meu desejo


8 de fev. de 2017

NOSSO CAOS

mesmo
que eu queria
não posso amar-te

meu amor
não é mais meu

não posso dar-te
o que não mais
me pertence

nem mesmo
promessas
depois
não haverá amanhã
e ficarão as sensações
e o vazio
e as lembranças
poderão machucar-te
ainda mais

o que tenho
não é meu
já cuidam do meu caos
não posso mais
sentir

não se ama
sem promessas
não se ama
sem amanhã

não se ama
quando o amor
que tem
não é mais teu

mesmo
que eu queria
já tens
o teu próprio caos

e eu
meu túmulo...

DESOLAÇÃO

a solidão
me desvendou
fez-me cético
ácido

a solidão
roubou
meu silêncio

fez meus cigarros
queimarem
mais rápido
e retardou minhas horas

a solidão
matou
o amor que eu insistia
em sentir

a solidão
esmagou meus sonhos
no espremedor
de batatas

ralou
meus joelhos
tirou a cor
dos meus dias

fechou as janelas
e trancou minhas portas
espalhou placas
levantou muros
destruiu pontes

bebeu
meu sangue
e amou-me
quando ninguém mais
entendia o amor
que nunca senti

a solidão
despiu minha alma
calou minha voz
fez de mim seu amante

a solidão escreveu
minhas poesias

NUNCA MAIS

imagino,
ela ali, nua, deitada em sua cama
de lençóis sujos... o teto estava amarelado
por infiltrações... mesmo assim, conseguia
não sentir nada por ninguém... de vez em quando
arrumava alguém para saciar seu desejo... era incapaz de amar e se sentir amada... sempre
preferiu as mentiras... as verdades a machucavam...

imagino,
seus vasos sem flores e ela ali
entre um cigarro e outro... não tinha mais força
para chorar e nem lágrimas... de vez em quando
saia para caminhar... os seios flácidos ficavam à mostra no decote de sua camiseta surrada...
as unhas eram grossas, mal feitas e jamais pintadas... nos lábios, ácidos das noites mal dormidas...

ela era
o que a vida queria.

imagino,
ela ali, rondando seu tumulo
esperando a morte
sem pressa enquanto dava seu corpo
a qualquer um que a desejasse... oferecia bebida
e as volúpias de um desejo sem amor...

amou uma vez
e nunca mais
foi amada uma vez
e nunca mais

as paredes
podres
bichos rondando
seus pés nus... o mal cheiro de sobrevida,
ali, naquele quarto escuro... a morte não ousaria
tocá-la e a vida
nela, há tempos deixou de existir.

imagino
seu fim, deitada ali nua,
entre seus lençóis sujos
e seus amantes fétidos
e seus bichos
e sua falta de vida
e sua falta de amor...

ESCRAVO

todos
os dias
eu inventava
uma mentira

dava
cor
aos meus dias
incolores

todos
os dias
eu sonhava
e queria
ter aquilo
que não era meu

escrevia
poesias
e me sentia vivo
minhas ilusões
davam
sentido a minha vida

eu era
uma mentira
agora
envelhecendo
sei que não fui nada
apenas
escravo dos meus sonhos

MEU PECADO

sou
escravo
do sentir

rasgo-me
inteiro
em meus cantos
escuros
escusos

sou
feito
de angústias
de melindres

minha alma
transcende
meu corpo

há feridas
expostas
em tudo o que há em mim

sou escravo
do meu sentirá

não sou nada
restos
cacos quebrados

minhas injúrias
meu pecado